domingo, 22 de janeiro de 2017

Hoje fui à matinée!

Xi! Aos anos que não ia à matinée! Cinema para mim é à noite. Mas as tardes de domingo no inverno são tão deprimentes (no verão também, com as praias cheias de gente e de nevoeiro nestas praias aqui à volta) com o frio e com os programas que nos pretendem impingir na televisão. Então tratei de me enfiar numa das salas do shopping que dava o Silêncio do Scorsese às três. Há tempo que não via uma sala dessas tão cheia de espectadores! Que bom! E todos em silêncio. Nem o crre-crre das pipocas se ouvia! Que bom!

Gostei do filme. Tem um ritmo muito lento, especialmente na primeira parte, mas não me senti nada aborrecida. A história é conhecida, lê-se aí pelos jornais: dois padres jesuítas portugueses pedem ao Vaticano para irem ao Japão numa época de grande fechamento daquele país ao exterior (séc. XVII) em busca do seu professor e mentor que se dizia ter renegado a fé cristã tendo-se aculturado à vida e à religião japonesas. O interessante, porém, não é a história, mas o que o desenvolvimento da narrativa e as vivências das personagens, bem como os seus pensamentos e as suas falas nos fazem pensar.

A violência das religiões: o meu deus é o verdadeiro, o teu não existe ou não serve – uma teimosia que tantas guerras tem originado desde que a humanidade tem história. A inabalabilidade da fé – ou não. A existência de deus ou o seu dramático silêncio nos momentos mais pungentes. A compaixão pelo próximo ou a renúncia objetiva da minha crença? Dramático por isso. Mas não moralista – em nenhum momento. Não podemos cair na nossa pequenina e enviesada tentação de julgar se aquele fez bem ou fez mal, se deveria ter feito assim ou de outra maneira. E aí a inteligência emocional joga o seu papel. Por de mais importante. Marcante.

Os diálogos são bem inteligentes, tanto os dos cristãos como dos japoneses. As emoções são desassombradas, lisas, sem pieguices. As cenas cruéis não são eivadas de violência gratuita – própria dos filmes americanos. O ambiente é sereno, cinzento azulado, silencioso ele próprio, em que perpassa uma constante nebulosidade. Nem o calor nos causa suores como nos filmes passados no Vietnam. Belíssimo o recorte das escarpas face ao mar, as ondas a desenrolarem nas praias.


São quase três horas de filme – sai-se de lá em silêncio.


17 comentários:

  1. Já nem lembro da última vez que fui a uma matiné. Mas já ouvi boas referências a este filme.
    Um abraço e uma boa semana

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  2. Para ver quando aqui passar.
    Beijinhos, boa semana

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  3. Nunca mais fui a uma matinée. Ainda não vi o filme. Mas penso que sairei de lá com a sensação de que se faz guerra e se massacra em nome de qualquer deus...
    Uma boa semana, Graça.
    Um beijo.

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    1. Sempre, Graça. Sempre em nome de um deus qualquer...

      Beijinho.

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  4. Fiz como tu, Graça. Fui ao cinema, a um domingo à tarde, ontem, atrás do mesmo filme.
    Sair em silêncio foi avassalador. De facto, o bem que existe no mal e o mal que existe no bem, assolam-nos como uma rajada de vento a desconjuntar aquilo a que chamamos "ordem".

    Gostei do filme, não tanto do ator que faz o Sebastião Rodrigues nem da pouca sobriedade na personagem do velho imperador.

    Lídia

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    1. Por esses ou talvez outros motivos, a crítica não lhe dá mais do que três estrelas... Mas gostei.

      Beijinho.

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  5. Ao contrário, eu nunca vou à noite nem aos fins de semana !
    ... E tenho a impressão que não gostaria deste filme.
    Habitualmente, quando vou e já não vou há meses, gosto de rir o mais possível no filme e sair muito bem disposto ! :))

    Bejinhos, Graça ! :)

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    1. O Sidónio também não quis ir. Não lhe apetece ver filmes que o «deixem mal disposto» ....

      Beijinhos bem dispostos...

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  6. Que Scorsese não me mate a memória daquele dia em que me chamaram Namban-jin...

    não ouviu o o crre-crre das pipocas? Boa!, é um bom indício...
    tenho que ver isso

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  7. Fizeste bem em ter ido à matinée, Graça.
    Há muito tempo que o não faço, mas houve uma altura em que ao sábado de tarde ia até ao Arrábida Shopping, sobretudo em tempo de saldos, e aproveitava para entrar numa das salas de cinema e ver um bom filme.
    Vi o trailer e fiquei com vontade de ver este filme, Pareceu-me um bocado forte, mas interessante.
    Obrigada pela sugestão.

    Beijinhos, boa semana.

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    1. É sempre bom ir à matinée e ver um bom filme, Janita. Revigora-nos!

      Beijinho.

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  8. Já ouvi muito boas referências do filme, apesar de a maior parte das pessoas ir com uma ideia pré-definida e sair com outra opinião!
    Beijinhos

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    1. Para melhor ou para pior?

      Obrigada pelo seu comentário, pela sua visita.

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  9. Irei ver num destes dias.
    As matinés era para os meninos...
    Bom sol e fitas.

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