terça-feira, 1 de março de 2016

O nascimento de um mito

(Campa de Ophelia nos Prazeres)


 “O mito é o nada que é tudo.”

O título saiu assim há dias no jornal: «Ofélia está agora mais perto do seu “Nininho” Pessoa». Naturalmente apressei-me a ler a notícia e garanto que nem queria acreditar: os restos mortais de Ophelia Queiroz, a única e eterna namorada de Fernando Pessoa, foram trasladados, no passado dia de São Valentim, do cemitério do Alto de São João para o cemitério dos Prazeres. Mas  porquê? Porque houve a intenção de juntar os restos mortais dos dois namorados. Só que Pessoa jaz nos Jerónimos e seria impossível levar Ophelia para aquele espaçonacional. Assim resolveram mudá-la para junto dos familiares do poeta.

Imagine-se que até foi celebrada missa pelo padre-poeta José Tolentino Mendonça, estiveram presentes estudiosos de Pessoa, os descendentes de ambos – os sobrinhos-netos de Fernando Pessoa e Ophelia Queiroz – e algumas cartas trocadas entre eles foram lidas por artistas conhecidos.

Sabemos que o “namoro” foi grandemente de natureza epistolar – as cartas de ambos estão já publicadas – e que aconteceu em dois momentos: um primeiro momento pelo ano de 1920, tendo-se reatado uns dez anos mais tarde sem, no entanto, ter alguma vez chegado a bom porto.

Três anos depois da morte de Fernando Pessoa, Ophelia casou mas, de acordo com a sua sobrinha-neta, Graça Queiroz, "ela estava sempre a falar nele, estava sempre a contar a sua história.” E até Augusto Soares, com quem casou, "um homem fantástico que a adorava", "encarregava-se de a informar de tudo o que saia no jornal do Fernando Pessoa". Por isso, "faz imenso sentido que fique aqui [nos Prazeres], acho que ela ia adorar.”

Estamos mesmo a assistir ao nascimento de (mais) um mito?

«Assim a lenda se escorre
A entrar na realidade,
E a fecundá-la decorre.»

(Fernando Pessoa, Ulisses, Mensagem)

20 comentários:

  1. Se um mito só nasce quando o colectivo aceita algo como verdade... então este acto da trasladação, que é mais do que simbólico, efectiva essa aceitação.

    O Amor move montanhas... céus e terra!
    Beijinhos na tua pessoa
    (^^)

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  2. Olá Graça
    não sabia que Fernando Pessoa tinha uma namorada ! e porque não ?! mas é assim, com aquele chapezinho, não me parecia o tipo desse tipo de assunto ... mas ainda bem que assim foi e a história é bonita!
    gostei de saber que foste sintrense, e que gostaste das fotos da bela cidade um pouco adormecida mas tão charmosa:)
    Abraço
    Angela

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  3. Um amor que nunca morre e que desta maneira se eterniza.
    A vida não termina com a morte ele eterniza-se entre duas almas que um dia se amaram.
    Gostei desta notícia.

    Beijinhos Graça

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  4. Mas... se isto não é um faits divers
    não sei o que é um faits divers

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  5. Pois eu acho que deviam deixar os restos mortais da senhora jazerem em paz. Afinal nem sequer ficou junto do poeta...!
    Transladarem os restos mortais de uma hipotética namorada, para junto da família de Fernando Pessoa?

    Já estou como o Rogério!! Mas, claro, cada cabeça sua sentença!

    Um beijo, Graça!

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    1. Canudo!! Passei por cá e já vi que meti o pé na poça, ó Graça!!

      "Jazerem" não me soa nada bem, pelo que podes substituir por 'jazer'...:))

      Vou à vida, até mais logo, à noitinha!!

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  6. Pergunto apenas isto:
    - Que interessa agora aos mortos que lhe façam festas? Que os juntem ou os separem?

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  7. Não achei o assunto de tanto interesse assim, sinceramente.

    E que as cartas são realmente ridículas , são...se fosse eu a escrever aquilo ou outra pessoa asim , imagino o que seria dito !

    Bons sonhos, Graça

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  8. Este comentário foi removido pelo autor.

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  9. Eu li a notícia no Expresso, com um título mais apropriado
    - «O último desencontro entre Ofélia e Fernando».

    Conheceram-se em 1919 - ele com 31 e ela com 19 anos - pelo que, não estou de acordo contigo. Um amor epistolar porque, por um lado, não podiam estar sempre juntos, por outro, o Poeta sempre quis ocultá-lo por receio do ridículo.
    Não era nenhum menino, ao contrário do que as cartas possam fazer deduzir.

    Na minha opinião e na de muitos estudiosos, foi uma paixão a sério, que o orgulho e a pusilanimidade de FP, impediram de concretizar devido às grandes diferenças de nível social.
    As mesmas causas que o levaram a publicar um só livro de poesia - a Mensagem.
    O namoro termina com a chegada da mãe e irmãos do Cabo.

    Dez anos depois, Fernando e Ophelia telefonam-se e encontram-se. Nesse mesmo ano, a irmã regressa de Évora com a família e mais uma vez, os namorados separam-se - no 42º ano do Poeta.

    Sepultar os restos mortais de Ophelia junto de familiares de FP, tem algo de trágico-cómico. Afinal, foram estes parentes de diplomatas e de altas patentes militares, que, sem implicação direta, tornaram a união impossível.

    Fico por aqui, lamentando os desencontros.
    Uma vida doméstica regrada tinha contribuído para melhor estabilidade e saúde mental do Poeta...
    Este episódio - abençoado pela igreja - à revelia da vontade de FP
    é absolutamente patético!

    ~~~ Beijinhos. ~~~

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    1. Inteiramente de acordo com a sua opinião. Há coisas que não fazem sentido nenhum e nem se percebe porque são feitas. Também, ninguém nos pediu opinião, não é? Se o tivessem feito poupar-se-ia alguns euros.

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    2. Há muito, deixei de comentar o seu blogue porque a senhora nunca se dignou dirigir-me a palavra, nem por correio. Agora decidiu-se neste espaço! Muito curioso!

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  10. No mínimo curioso.
    Desconhecia por completo a notícia.
    Beijinhos

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  11. Absolutamente ridículo... afinal, como todas as cartas de amor! Como dizia o Poeta...

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  12. Olá!!

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  13. Do Mosteiro dos Jerónimos para o Cemitério dos Prazeres é mais perto do que para o Cemitério do Alto de São João...
    Muitos de nós tivemos aquele amor tipo Pessoa/Ofélia. Não fora o grande poeta Pessoa ter sido o protagonista deste "amor" e ninguém sabia quem foi a Ofélia...Quem sabe se não teriam havido outras "Ofélias" na vida de Pessoa?
    Eu digo: "Não havia necessidade..."

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  14. Bom, que dizer? Os namoros, os encontros e desencontros na época eram mesmo assim. Anos de namoro platónico estimulado por montanhas de preconceitos sociais que inibiam a sua plena realização. Ainda hoje o são, embora por motivos diferentes.
    Vi a notícia e ocorreu-me: que coisa bonita; com e sem Pessoa já que o poeta não pode assistir por estar enclausurado, não vá pôr-se com ideias...; esta gente arranja cada uma?! Marquetingues?!

    Bj

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  15. Até eu me meto hoje por aqui para dizer:
    - Balha-me Deus que isto nem parece obra de alfacinhas...:)

    Abraço

    LM

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  16. No mínimo ridículo como as cartas... Marketinguices como diz o Agostinho...

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