sábado, 17 de junho de 2017

Por outro lado...

Os meus planos de aula de Inglês começavam sempre pelas Assumptions que o mesmo é dizer dados adquiridos. De facto nada acontece do nada, tudo tem uma ligação, uma associação com o passado próximo ou distante. E hoje, as minhas Assumptions são as seguintes e para que constem: (i) reconheço a importância e a necessidade de se decretarem greves; (ii) fui, desde os inícios das atividades sindicais logo após a Revolução, professora “grevista” num tempo em que tivemos forçosamente de organizar a nossa vida profissional que até então se desenrolava num pano de fundo sem lei nem grei…

Então agora vamos ao que interessa. Tenho vindo a acompanhar as notícias sobre o bendito anúncio de greve de professores feito pelo senhor Mário Fenprof para o próximo dia 21, dia em que se realizam provas de exame nacionais e provas de aferição. Muito bem!

Analisemos então os motivos que levam ao anúncio de greve. Reorganização da estrutura da profissão de professor e dos horários de trabalho? Alargamento e/ou abertura de quadros de escola que se foram fechando desde há pelo menos dez anos? Aumento da contratação de professores para fazer face ao ainda tremendo insucesso escolar? Diminuição do número de alunos por turma? Diminuição da carga burocrática que se tem vindo a abater sobre o pessoal docente? NÃO! Os motivos são: o descongelamento da carreira e o regime especial de aposentação. Motivos importantes? SIM, sem dúvida. Mas não agora que se está a reverter a situação das devoluções dos direitos que foram furiosamente arrancados aos professores (e não só). Devagar, mas em marcha.

A opinião pública – leia-se nomeadamente pais e encarregados de educação – também ela fortemente penalizada pelos cortes nas suas carreiras e nas suas vida brutalmente realizados pelas forças ultraliberais que (des)governaram o país  não é capaz de entender os motivos desta greve. Eu, pessoalmente, também não e tenho filhos e familiares próximos professores. Ora o ónus da questão vai recair sobre quem? Sobre os professores grevistas. Não sobre o senhor Mário Fenprof que, no tempo em que tudo foi retirado aos professores andava caladinho e completamente desaparecido!

Não esqueço, não posso esquecer a raiva cega que o senhor Mário Fenprof instilou nos professores (e eles, coitados, tão pequeninos, também se deixaram facilmente instilar…) contra a ministra Maria de Lurdes Rodrigues. Foi essa raiva cega, esse ódio inspirado que não deu para reconhecer no senhor Mário Fenprof relativamente ao ministro (C)rato. Tendências…

Será que temos de concluir que as greves violentas (sim, porque marcar greve para dias de exames é violento e só se aceita se o motivo também tiver sido violento!) são para ser usadas apenas contra governos do PS?
De igual modo, vemos os senhores procuradores, os senhores magistrados, os senhores juízes, os senhores oficiais de Justiça cheios de vontade de paralisar as eleições autárquicas porque o documento da revisão do Estatuto das suas carreiras ainda tarda a ser concluído pela Ministra da Justiça. Por acaso, dá vontade de rir… Qual é o atraso dos tribunais em geral na análise e decisão dos processos que lá entram? E os prazos não são “apenas indicativos” segundo os senhores juízes?

Por outro lado, também não me lembro de ver anunciadas greves e outras ações de protesto por parte dos magistrados ou dos oficiais de Justiça quando o anterior governo fechou tribunais, transferiu (e perdeu) processos, deslocou o pessoal para longe de casa e sei lá o que mais…

Assim que vemos uma abertazinha na prepotência e na arbitrariedade e um leve abrandamento no chicote, vai de reclamar. Dê lá por onde der e doa a quem doer… Como alguém diz: «Fortes a reclamar, fracos a obedecer!»

Não somos um povo sério!

Lamento.


9 comentários:

  1. Até parece que é do chicote que o povo gosta.
    Um abraço e bom fds

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  2. Por aqui também perdeu-se o bom senso...
    Até quando, pergunto eu?
    Abraço.

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    1. Parece-me que é por todo o mundo, Célia! Estamos a ficar loucos ou quê?

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  3. Greves que a maioria dos pais não compreende e/ou aceita e que causam um certo antagonismo contra os docentes.

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  4. "o senhor Mário Fenprof que, no tempo em que tudo foi retirado aos professores andava caladinho e completamente desaparecido"... Concordo completamente, Graça.
    Uma boa semana.
    Um beijo.

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  5. Bom, de cada profissão sabem os que nela exercem o seu mester - sobre isso não comento.
    Contudo, eu que vivi com entusiasmo o 25 de Abril, aprendi que as greves têm forçosamente inconvenientes para alguns. Se assim não for são uma perda de tempo, tornam-se patéticas e ineficazes.
    Como pai, não vejo por que razão apelidar uma greve aos exames de "violenta". Acho mais violento ouvir o meu filho a narrar histórias de uma professora com cancro que voltou a dar aulas e passa as aulas a chorar, ou a falar de um professor de educação fisica com 63 anos e que mal consegue mexer-se - será que este professor dá aulas?
    Também não me meto na política (política, futebol e droga são três mundos iguais, com quem não comparto nenhuma afinidade). Porém julgo que se fizeram greves a exames em governos anteriores.
    As greves têm que dar prejuizo, causar confusão, gerar incomodo. Faltar por faltar, no sector da educação, não vejo que impacte poderia ter.
    Aliás, acho muito fraca (para não dizer incogruente) a argumentação juridica que suporta os "serviços minimos", neste caso.
    Assim sendo, permita-me discordar.

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