D. Sebastião concedeu-lhe uma tença... |
O grande, o imenso, o incrível Camões, como todos os homens - e mulheres - de enorme valor neste país são desprezados, afastados, postos de parte (quando não mortos como o grande Damião de Góis).
E foi-lhe atribuída uma tença - uma esmola - de que Sophia tão bem falou.
Camões e a tença
«Irás ao Paço.
Irás pedir que a tença
Seja paga na data
combinada
Este país te mata
lentamente
País que tu
chamaste e não responde
País que tu
nomeias e não nasce
Em tua perdição
se conjuraram
Calúnias desamor
inveja ardente
E sempre os
inimigos sobejaram
A quem ousou seu
ser inteiramente
E aqueles que
invocaste não te viram
Porque estavam
curvados e dobrados
Pela paciência
cuja mão de cinza
Tinha apagado os
olhos no seu rosto
Irás ao Paço irás
pacientemente
Pois não te pedem
canto mas paciência
Este país te mata
lentamente.»
Sophia, in Dual, 1972
....
Só que, como grande homem que era, ele conhecia bem os vícios das lusas gentes bem como o seu próprio valor.
(...)
«O favor com que mais se acende o engenho
Não no dá a pátria, não, que está metida
No gosto da cobiça e na rudeza
De hua austera, apagada e vil tristeza.»
(..)
«Mas eu que falo, humilde, baxo e rudo,
De vós não conhecido nem sonhado?
Da boca dos pequenos sei, contudo,
Que o louvor sai às vezes acabado.
Nem me falta na vida honesto estudo,
Com larga experiência misturado,
Nem engenho, que aqui vereis presente,
Cousas que juntas se acham raramente.»
in Os Lusíadas, Canto X.
Pobre grande Camões!
Pobre mesmo, pois renegado a segundo plano da nossa cultura!
ResponderEliminarCultura? Onde está?
Abraço.
Cultura? Não está por aí?! Por aqui também não... :)))
EliminarGostei de ler, Graça. No início do ano, assisti a duas tertúlias sobre Camões. E aprendi imenso sobre um poeta, de quem confesso não era grande apaixonada. Talvez por isso mesmo. Desconhecer parte da sua obra.
ResponderEliminarUm abraço e bom domingo
Então, se tiver tempo, leia a lírica: os sonetas e os vilancetes. São tão lindos!!
EliminarHei de trazer aqui alguns só para si...
Beijinhos.
Os verdadeiramente Grandes são sempre pobres; por incompreendidos!!
ResponderEliminarBeijinhos, bom Domingo, Graça.
Infelizmente assim é, Janita... Muito injusto!
EliminarBeijinhos.
Será sempre obsceno, o abuso do poder e a humilhação deliberada dos homens superiores!
ResponderEliminarCompletamente de acordo, Justine! E parece não haver forma de contornar essa injustiça. Enquanto houver invejosos...
EliminarSou do tempo em que nos impingiam a leitura dos Lusíadas a jovens com pouco idade para entenderem sequer o significado enorme deste poema épico na nossa Literatura. Talvez seja esse o grande defeito. Impingem-se as coisas na escola e depois obriga-se a decorar e no final resta muito pouco !!!
ResponderEliminarObrigado por lembrares Camões no seu dia !
Ainda assim é, Ricardo. Os miúdos ainda têm de ler alguns episódios de Os Lusíadas, embora de forma mais leve...
EliminarComemorado com pompa, circunstância e muito calor aqui em Macau.
ResponderEliminarBeijinhos, boa semana
Ora ainda bem! Por aqui também está cá um calor!!! Só faltou a pompa e a circunstância...
EliminarBeijinho.