Os meus planos de aula de Inglês começavam sempre pelas Assumptions
que o mesmo é dizer dados
adquiridos. De facto nada acontece do nada, tudo tem uma ligação, uma
associação com o passado próximo ou distante. E hoje, as minhas Assumptions
são as seguintes e para que constem: (i) reconheço a importância e a
necessidade de se decretarem greves; (ii) fui, desde os inícios das atividades
sindicais logo após a Revolução, professora “grevista” num tempo em que tivemos
forçosamente de organizar a nossa vida profissional que até então se
desenrolava num pano de fundo sem lei nem grei…
Então agora vamos ao que interessa. Tenho vindo a acompanhar as notícias sobre
o bendito anúncio de greve de professores feito pelo senhor Mário Fenprof para
o próximo dia 21, dia em que se realizam provas de exame nacionais e provas de
aferição. Muito bem!
Analisemos então os motivos que levam ao anúncio de greve. Reorganização da
estrutura da profissão de professor e dos horários de trabalho? Alargamento
e/ou abertura de quadros de escola que se foram fechando desde há pelo menos
dez anos? Aumento da contratação de professores para fazer face ao ainda
tremendo insucesso escolar? Diminuição do número de alunos por turma?
Diminuição da carga burocrática que se tem vindo a abater sobre o pessoal
docente? NÃO! Os motivos são: o descongelamento da carreira e o regime especial
de aposentação. Motivos importantes? SIM, sem dúvida. Mas não agora que se está
a reverter a situação das devoluções dos direitos que foram furiosamente
arrancados aos professores (e não só). Devagar, mas em marcha.
A opinião pública – leia-se nomeadamente pais e encarregados de educação –
também ela fortemente penalizada pelos cortes nas suas carreiras e nas suas
vida brutalmente realizados pelas forças ultraliberais que (des)governaram o
país não é capaz de entender os motivos
desta greve. Eu, pessoalmente, também não e tenho filhos e familiares próximos
professores. Ora o ónus da questão vai recair sobre quem? Sobre os professores
grevistas. Não sobre o senhor Mário Fenprof que, no tempo em que tudo foi
retirado aos professores andava caladinho e completamente desaparecido!
Não esqueço, não posso esquecer a raiva cega que o senhor Mário Fenprof
instilou nos professores (e eles, coitados, tão pequeninos, também se deixaram facilmente
instilar…) contra a ministra Maria de Lurdes Rodrigues. Foi essa raiva cega,
esse ódio inspirado que não deu para reconhecer no senhor Mário Fenprof
relativamente ao ministro (C)rato. Tendências…
Será que temos de concluir que as greves violentas (sim, porque marcar
greve para dias de exames é violento e só se aceita se o motivo também tiver
sido violento!) são para ser usadas apenas contra governos do PS?
…
De igual modo, vemos os senhores procuradores, os senhores magistrados, os
senhores juízes, os senhores oficiais de Justiça cheios de vontade de paralisar
as eleições autárquicas porque o documento da revisão do Estatuto das suas
carreiras ainda tarda a ser concluído pela Ministra da Justiça. Por acaso, dá
vontade de rir… Qual é o atraso dos tribunais em geral na análise e decisão dos
processos que lá entram? E os prazos não são “apenas indicativos” segundo os
senhores juízes?
Por outro lado, também não me lembro de ver anunciadas greves e outras
ações de protesto por parte dos magistrados ou dos oficiais de Justiça quando o
anterior governo fechou tribunais, transferiu (e perdeu) processos, deslocou o pessoal
para longe de casa e sei lá o que mais…
Assim que vemos uma abertazinha na prepotência e na arbitrariedade e um leve
abrandamento no chicote, vai de reclamar. Dê lá por onde der e doa a quem doer…
Como alguém diz: «Fortes a reclamar, fracos a obedecer!»
Não somos um povo sério!
Lamento.
Até parece que é do chicote que o povo gosta.
ResponderEliminarUm abraço e bom fds
Também me parece, Elvira...
EliminarPor aqui também perdeu-se o bom senso...
ResponderEliminarAté quando, pergunto eu?
Abraço.
Parece-me que é por todo o mundo, Célia! Estamos a ficar loucos ou quê?
EliminarGreves que a maioria dos pais não compreende e/ou aceita e que causam um certo antagonismo contra os docentes.
ResponderEliminarMuito maus, não é? Eu acho...
Eliminar"o senhor Mário Fenprof que, no tempo em que tudo foi retirado aos professores andava caladinho e completamente desaparecido"... Concordo completamente, Graça.
ResponderEliminarUma boa semana.
Um beijo.
Obrigada, Graça.
EliminarBeijinho.
Bom, de cada profissão sabem os que nela exercem o seu mester - sobre isso não comento.
ResponderEliminarContudo, eu que vivi com entusiasmo o 25 de Abril, aprendi que as greves têm forçosamente inconvenientes para alguns. Se assim não for são uma perda de tempo, tornam-se patéticas e ineficazes.
Como pai, não vejo por que razão apelidar uma greve aos exames de "violenta". Acho mais violento ouvir o meu filho a narrar histórias de uma professora com cancro que voltou a dar aulas e passa as aulas a chorar, ou a falar de um professor de educação fisica com 63 anos e que mal consegue mexer-se - será que este professor dá aulas?
Também não me meto na política (política, futebol e droga são três mundos iguais, com quem não comparto nenhuma afinidade). Porém julgo que se fizeram greves a exames em governos anteriores.
As greves têm que dar prejuizo, causar confusão, gerar incomodo. Faltar por faltar, no sector da educação, não vejo que impacte poderia ter.
Aliás, acho muito fraca (para não dizer incogruente) a argumentação juridica que suporta os "serviços minimos", neste caso.
Assim sendo, permita-me discordar.