quinta-feira, 22 de junho de 2017

Estórias? Nunca!



Tropeço constantemente na palavra «estórias» - que abomino.

Como em tantas coisas na vida de todos os dias, também gostamos/usamos mais umas palavras do que outras e eu, exagerada como já deu para ver que sou, detesto a palavra «estórias». Talvez um estudo de caso para os psicolinguistas…

A minha embirração por esta palavra tem a ver com o nacional-parolismo de que sofremos de usar estrangeirismos a torto e a direito para parecermos mais letrado, mais conhecedores. Ai, ai! De sábado para cá, entro – por razões trágicas de mais – a moda dos «briefings». Mas uma das maiores parolices – entre paletes de muitas outras – é a utilização em massa do anglicismo «timing» que é usado como sinónimo de tempo… Já para não falar nos «mídia»…

Enfim.

Hoje dei outra vez de caras com a dita palavra «estórias» num jornal aqui da terra e pensei e até verbalizei: «a birra que sinto contra esta palavra deve ser idêntica à birra que os que dizem Não ao NAO sentem por ele….»

Só que o Acordo Ortográfico é mais um ajustamento da grafia – e desde o início do século XX que se fazem esses ajustamentos. Entre «história» e «estória» – que têm o mesmo étimo grego – pretende-se imitar a diferença entre as palavras inglesas «story» e «history», ou imitar a diferença semântica utilizada no português do Brasil.

Já no século XIX o “bom” Ega/Eça dizia: «… este desgraçado Portugal decidira arranjar-se à moderna: mas sem originalidade, sem força, sem carácter para criar um feitio seu, um feitio próprio, manda vir modelos do estrangeiro – modelos de ideias, de calças, de costumes, de leis, de arte, de cozinha… Sòmente, como lhe falta o sentimento da proporção e ao mesmo tempo o domina a impaciência de parecer muito moderno, muito civilizado – exagera o modelo, de forma-o, estraga-o até à caricatura.»


(In Os Maias, Edição «Livros do Brasil», Lisboa, pág. 703)


Para saber mais sobre a palavra «estória» clique aqui. 


19 comentários:

  1. Eu gosto da palavra “estória”.

    Aderi ao acordo ortográfico. E se cometo algum erro é porque ainda não estou certa ou não me recordo de todas as alterações feitas.
    : )))

    Gosto de “mídia”. Poupa-se tempo e palavras.

    Pena que não fique bem dizermos “pets” para evitar “animais de estimação” . ; ))))))

    Há uma palavra com a qual embirro com todo o meu ser. É a palavra “bué”, embora seja gíria. E não gosto de “gajo” ou “gaja” mesmo que estas não sejam estrangeirismos.

    Também detesto quando os emigrantes portugueses misturam as duas línguas para formar "neologismos":

    Manager – “manageiro”
    Mortgage – “morguije”
    Garbage – “garbiche”
    Basement – “basemente” em vez de cave
    Apenas alguns exemplos. : ))))

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    1. A tua perspetiva inglesa/americana está completamente certa! E "mídia" fica muito bem dito em inglês, mas nunca em português em que se deve dizer [média] como no latim.

      Beijinhos

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  2. Também tenho as minhas embirrações: "casual" em inglês quando se referem a uma roupa mais simples, téni, bota...e muitas mais :))
    Bjs

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  3. Minha querida, hoje vim só deixar o meu beijinho.

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    1. Obrigada por ainda arranjares tempo para passar por aqui. És um doce...

      Beijinhos.

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  4. Como é que a Graça separa as "estórias" de ficção da verdadeira História, em palavras?

    abraço

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    1. Como sempre: com minúsculas e maiúsculas. Foi assim que aprendi.

      Beijinhos maiúsculos...

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  5. Há neologismos e anglicanismos que nos dão jeito na comunicação, quer oral quer escrita. Sem abusar, claro está.
    Se repararmos bem, temos "paletes" de vocábulos na língua portuguesa que foram entrando "sorrateiramente" em uso e, hoje, já ninguém lhes nota a proveniência ou linhagem.
    Gostei de ler a reflexão que a Graça produziu. Acho que devemos evitar o uso das tais palavrinhas inglesas, por vezes abrasileiradas, sempre que tenhamos à disposição termos genuinamente portugueses; e, já agora, arejar, usar e abusar dos que estão arrumados no sótão empoeirado, para que não caiam no esquecimento.
    Quanto ao AO... como todas as reformas, é difícil de aceitar. Principalmente pelo estado a que a obra chegou: ninguém se entende, não há acordo, há sim uma reforma facultativa.
    Compreendo que a língua é dinâmica, houve foi "ambição" a mais e ponderação a menos.
    BFS.

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    1. É uma questão de nos habituarmos. A mim custa-me mais ler a nova grafia do que escrevê-la... Coisas para a psicolinguística...

      Beijinhos.

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  6. Estou contigo, Gracinha... diz-me onde está o sítio para votar contra as estórias, que não bate certo com coisa nenhuma.

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  7. Lido, relido e bem digerido este teu texto, cheguei à conclusão que, a ti, Graça, o que te irrita imenso é a imitação de 'inglesices' que possamos empregar na nossa linguagem escrita e/ou falada. Sinceramente, não vejo razão para tanta irritação.:)
    Se reconheces a diferença entre 'story e history' porque não a poderemos nós aplicar usando as palavras estória, história e ainda História?
    Certamente não estarás à espera que eu disserte acerca da diferença entre as três palavras, já que a Professora és/foste, tu. :))

    Deixa-me só dizer-te mais uma coisa, Gracinha; já eu, embirro solenemente que se plagiem 'parolices', que se tornaram de uso corrente, extraídas de cenas televisivas ( já ia incorrer no erro de imitação, escrevendo sketches), tais como :- " – entre paletes de muitas outras –". Como podes verificar 'paletes de muitas' já é para lá de muitas, melhor dizendo; pleonasmo, e, no melhor pano cai a nódoa!! :))

    Beijinhos, Graça, relax!...:)

    PS- Soubesse eu colocar em palavras, subtilmente intencionadas, o que me vai no pensamento, e teria escrito, não o que escrevi, mas o que escreveu o Amigo Agostinho. Ah, que inveja tenho de quem escreve bem!



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    1. E quem te disse que não escreves bem?!... O Agostinho é uma caso à parte - é poeta...

      Concordo contigo quanto às parolices...

      Beijinhos

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  8. «Só que o Acordo Ortográfico é mais um ajustamento da grafia – e desde o início do século XX que se fazem esses ajustamentos.»

    Sejam quais forem os tais "ajustes", a Gracinha dá o seu amém. Se amanhã mudarem para a escrita SMS, ela começa logo a escrever assim. Pois se a ortografia já mudou antes... Não é? A lógica da Gracinha sem graça nenhuma.

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    1. Ó ICE, vá dizer tolices para dentro do "freezer".... Quais SMS, qual carapuça....

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  9. Eu sou totalmente contra o AO (ponto). A riqueza da nossa Língua Portuguesa não se pode fatiar à medida dos interesses comerciais. A origem latina tem de ser estudada e a língua deve evoluir e deve fazer-se evoluir, por quem sabe da poda.
    Português de Portugal e Português do Brasil, assim aceito. E talvez até Português dos PALOPS. Agora meter tudo no mesmo saco não estou de acordo.
    Bué não é nada; Fato é roupa, não é facto, etc, etc, etc.

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    1. Mas no português de Portugal o "fato" veste-se e o "facto" não tem argumento... porque se pronuncia o c

      Ricardinho, Ricardinho, essa de "meter tudo no mesmo saco" até toca o xenófobo... o que eu não quero crer em ti!

      Beijinhos com ou sem acordo...

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  10. Graça,
    eu embirro quando se vai buscar o Eça para criticar o que se passa no país, os textos são depressivos sobretudo se tirados fora do contexto dos livros :(
    os países têm os seus ciclos e não se deve generalizar ou seja no estrangeiro não se copia, o que não é verdade...
    beijinhos , bom fim de semana
    Angela

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