sábado, 17 de junho de 2017

Ontem fui ao teatro

Já aqui disse que nunca fui grande fã de teatro. Contar uma história, uma situação, uma ideia para mim, é no cinema ou num livro bem escrito.

Quando morávamos em Lisboa, fomos algumas vezes ao Monumental, ao Maria Matos, ao Villaret ver algumas boas peças. Uma delas foi «Quem tem medo de Virginia Woolf?», do dramaturgo norte-americano Edward Albee (1928-2016), que vimos no saudoso Teatro Monumental, em 1971, ano em que nos casámos, com as excelentes atuações de Glória de Matos (Martha) e Jacinto Ramos (George) com encenação de João Vieira.

Antes, tínhamos visto o filme (que arrebatou cinco óscares) com o mesmo nome com as interpretações da grande e lindíssima Elizabeth Taylor contracenando com o marido Richard Burton.

Ora ontem houve teatro em Leiria. Veio a peça «Quem tem medo de Virginia Woolf?» que tem estado em exibição no Teatro Trindade, em Lisboa, interpretada por Diogo Infante e Alexandra Lencastre nos papéis principais e nós lá fomos. Foi bom. O Diogo Infante (George) está sempre muito bem em qualquer papel e a Alexandra Lencastre (Martha) tem todo o à-vontade em palco. O jovem casal que alterna com eles também vai muito bem.

Mas, de facto, o grande protagonista da peça é o argumento em si. Trata-se de um drama psicológico bem ao estilo da literatura norte-americana dos anos sessenta do século passado que põe a nu os medos, as frustrações, os fantasmas de cada uma das personagens. Isto é feito numa linguagem e com comportamentos de grande agressividade ente Martha e George: ele,  um professor algo decadente numa universidade cujo diretor é o autoritário pai de Martha, na presença de um jovem casal, ele  - Nick - professor recém-contratado para a universidade e ela, uma jovem dona de casa simples e pouco letrada, com o adequado nome de Honey.

A peça tenta explorar de forma impiedosa os pontos fracos das pessoas a partir dos mais íntimos segredos de cada uma dos personagens o que cria um clima de grande tensão no grupo – mais no jovem casal do que nos veteranos que estão habituados a jogar estes jogos entre si.

O título tem a ver com uma brincadeira quebra-gelo que tinha tido lugar na festa de receção aos novos professores da universidade da qual as personagens principais regressam bem embriagadas e é um trocadilho entre o nome da bem conhecida escritora inglesa Virginia Woolf e a canção do desenho animado de Walt Disney «Quem tem medo do lobo mau?», em inglês «Who’s afraid of the big bad wolf?» que também aponta para a simbologia do lobo e dos medos íntimos de cada um de nós.

Muito interessante. Se puderem, gostarem e tiverem oportunidade, não deixem de ir ver.




16 comentários:

  1. Eu gosto muito de teatro, embora não veja muito. Ultimamente o que tenho visto é teatro amador. O último que vi, no mês passado, O Solário de Fernando Augusto, é uma peça também intensa. Passa-se numa clinica de Luxo, nos anos 70 na zona de Sintra. Um solário quase sempre nevoento, mas pleno dos bons ares da região. Para ali eram depositados, os familiares de gente de uma gama social alta com problemas de foro psiquiátrico. Uns por traumas da guerra colonial, outros por causas diversas.
    A peça passa-se entre 4 personagens cheias de tiques , birras, medos e preconceitos, uma denúncia angustiada de uma enorme hipocrisia social que os vitimou. Cada um tenta desvalorizar o motivo que o levou até ali. Com histórias, agressões de família, de guerra, que desabafam com mais ou menos violência, como se a confissão fosse o tratamento adequado. Acaba sempre em violência.
    Três doentes, vigiados por uma enfermeira, também ela vitima dos mesmos males, mas que se impõe e tenta esconder a sua sensibilidade. Uma peça, que faz lembrar o filme "Voando sobre um ninho de Cucos"
    O final é trágico, como trágico é o mundo em que vivemos, quase nunca reagindo contra os falsos valores impostos pela sociedade.
    Um abraço e bom fim-de-semana

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Deve ter sido muito bom, Elvira! Ao estilo desta de que falei - dramas psicológicos.

      Beijinho.

      Eliminar
  2. ficamos de pena de não ter visto a peça, Graça !

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Pode acontecer que ainda tenha uma oportunidade, Ângela...

      Eliminar
  3. Foi uma noite de teatro que valeu a pena.

    bom fim de semana

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Pois foi. Apesar de ter ideia de que gostei mais da versão que vi nos anos 70.

      Beijinho.

      Eliminar
  4. Nada se compara à emoção de se assistir a boa peça teatral, Graça! Fizeste bem em ir ver de novo.

    Beijinhos acalorados e encalorados. :)

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Encalorados mesmo!!! Bolas! Quarenta e tal graus de máxima, vinte e tal de mínima...

      Eliminar
  5. Eu gosto e vou tão pouco. Contrassensos da vida do dia a dia.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. É bem verdade. Há mais facilidade para quem mora em Lisboa ou no Porto.

      Beijinho.

      Eliminar
  6. Fez muito bem ir ver. Diogo Infante é um excelente actor.
    Estou na Irlanda, mas quando regressar a Portugal e voltar
    a Lisboa ou por perto, irei ver.
    Bjs.
    Irene Alves

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Que bom estar na Irlanda!! Deve estar bem mais fresco do que aqui...

      Beijinhos irlandeses...

      Eliminar
  7. Na minha opinião, o teatro é insubstituível para determinadas peças escritas precisamente para esta forma de arte...
    A filosofia e psicologia são fundamentais no bom teatro...
    Porém, tal como acontece no cinema, há boas e más peças e bons e maus atores.
    Agradeço tão especificada e cuidada sugestão...
    Não percebo por que razão os circos aparecem na época natalícia... com este calor apetecia!
    ~~~ Beijinhos artísticos ~~~

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Com este calor apetecia era uma piscina aqui no jardim... :))

      Beijinhos

      Eliminar