sábado, 28 de dezembro de 2013

Acorda, povo!

Para um povo que aguentou, de cabeça baixa, 48 longos anos de ditadura abençoada pela Igreja e que ainda hoje suspira por esse tempo, não chegam as manifestações que se têm feito um pouco por todo o lado, nem as críticas à destruição do país nas redes sociais e nos fóruns - que a comunicação social está, de um modo geral, submetida ao poder - nem os dilacerantes testemunhos de quem tudo perde diariamente e passa fome, nem os suicídios (de igual modo calados pela comunicação social), nem o desesperado movimento hemorrágico («Diáspora» chama-lhe aquele senhor metido a presidente, sem saber muito bem o que diz) da juventude qualificada para outros países que lhes abrem as portas e os braços, para abrir os olhos e perceber que é preciso agir!

Mesmo assim - ou talvez por isso - é preciso continuar a mostrar por palavras simples e por números, o buraco, a lama em que este "governo", esta "maioria" e este "presidente" nos estão a atolar. E porque há quem o faça muito melhor que eu, transcrevo a crónica da Câncio no DN de ontem. 

Vale a pena ler. Há que acordar Portugal!



Passos natais passados

Em 2010, na oposição, Passos garante que, devido à crise, lá em casa só haverá presente para "a mais nova". "Foi um ano muito duro", diz no vídeo de Natal. "Pelo desemprego, pelo aumento dos impostos, na redução dos salários, na quebra do investimento. Enfim, é um período de grande tensão e de incertezas tanto para os mais jovens como para os menos jovens." Com o IVA a aumentar um ponto percentual nos três escalões e o IRS a subir para todos com um novo escalão de 45% acima dos 150 mil euros, o ano fecha com desemprego de 10,8%, dívida pública de 92,4%, e PIB a crescer 1,9%.

2011: mensagem natalícia é já de PM. O que cortou meio subsídio a toda a gente e anuncia que em 2012 funcionários públicos e pensionistas ficarão sem os dois (Natal e férias). Medidas que não estavam nem no memorando nem no seu programa eleitoral, mas não o impedem de falar de confiança: "É um ativo público, um capital invisível, um bem comum determinante para o desenvolvimento social, para a coesão e para a equidade. São os laços de confiança que formam a rede que nos segura a todos na mesma sociedade. Um dos objetivos prioritários do programa de reforma estrutural do governo consiste precisamente na recuperação e no fortalecimento da confiança." Ano fecha com défice de 4,2% (abaixo do previsto), dívida pública 107,2%, desemprego 12,7%. PIB contrai 1,6%.

2012 é o ano do anúncio do aumento da TSU para trabalhadores, que cairá pela contestação, e do "enorme aumento de impostos" para 2013, depois do IVA no máximo para a restauração, eletricidade e gás. Se desemprego alcança 15,7%, respetivo subsídio é reduzido em duração e valor, como indemnizações por despedimento. RSI e Complemento Solidário para idosos sofrem cortes. Tudo ao contrário da mensagem natalícia do PM, que exorta "todos [a] fazer um pouco mais para ajudar quem mais sofre, quem perdeu o emprego" e a celebrar os 120 mil lugares vazios dos emigrantes: "Esta quadra natalícia será um momento especial para recordarmos aqueles que estão mais longe, ou aqueles que se afastaram de nós no último ano." Tanto sacrifício para défice subir aos 6,4%, muito acima do acordado, dívida pública atingir 124,1% e PIB contrair 3,2%.

2013, e eis Passos redentor: "Começámos a vergar a dívida externa e pública que tanto tem assombrado a nossa vida coletiva. Fizemos nestes anos progressos muito importantes na redução do défice orçamental, e não fomos mais longe porque precisámos dos recursos para garantir os apoios sociais e a ajuda aos desempregados." De facto: num ano cortou-se CSI a 4818 idosos pobres e no OE 2014 vêm mais cortes, também no RSI e ação social. Prevê-se 17,4% de desemprego, com o de longa duração e jovem a aumentar (por mais que o PM jure que se criaram 120 mil empregos). Dívida vai a 127,8%, PIB contrai 1,5% e défice deverá ficar em 5,9%, 1,4 pontos acima do acordado em 2012. Mas o Pedro vê cenas. Este ano, às tantas, até houve presentes para todos lá em casa.

(Fernanda Câncio, DN/ 27/Dez/2013)



14 comentários:

  1. Já cheguei e gostei do que li...
    Eu bem acordada estou e no ambiente onde estive , não vi ninguém a dormir....Mas , diga-me , o que fazer ?
    Para já , continuação de " felices páscoas " como dirão os meus vizinhos espanhóis.
    M.A.A.

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  2. "Vemos, ouvimos e lemos
    Não podemos Ignorar"

    Ele o Passos já teria saltado mais que um coelho normal se não tivesse feito uma aliança com Portas...aquele de decisões irrevogáveis...

    Não adianta dizer mais nada porque dentro do parlamento ninguém quer inverter a situação para limitar a chulice e o compadrio a nível governamental.

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  3. Afinal os portugueses são ou não de brandos costumes? Diz quem sabe história que não. A qualquer momento a chispa pode incendiar a floresta.
    O problema é que durante a ditadura foi instilado no sangue do povo um vírus do medo, do conformismo e da fé no Estado para resolver os problemas das pessoas. Por isso não reage suficientemente às malfeitorias do Governo. Está à espera dum milagre.
    Os ouvidos do povo estão insensíveis à ordem "acordem porra". Quem sabe se seria mais eficaz um "fia-te na virgem e não corras"? Se fosse escutado com os ouvidos do coração.

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  4. Graça, peço desculpa, mas como já esgotei há muito tempo os adjectivos publicáveis relativamente a essa mentirosa criatura que o "bom povo português" elegeu para o Poder - assim como elegeu para todos os cargos o fantasma tenebroso de Belém - não posso comentar, sinceramente!

    Bom domingo.

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  5. É bom relembrar para os que tem a memória curta! E depois ele, PPC, usa aquela fábula: Se não foste tu, foi o teu pai", o que quer dizer: a culpa foi do anterior governo...

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  6. O actual governo, não estando sozinho na perseguição aos desprotegidos, é o responsável pela decadência do que ainda restava da chamada classe média e pela agonia da classe baixa.

    O (ir)responsável pela liderança deste grupo de malfeitores é uma pessoa mal formada.
    O que esperar pois de gente que apenas olha para o seu umbigo e para ... o dos amigos?

    Pois que se acorde. Nem que seja em 2015 mas aí pode ser tarde demais.

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  7. Pois se estamos com este governo, é porque a esquerda consente.

    Incapaz de consensos, ao invés de dar-se ao respeito; coloca os seus inteletuais a vociferar e publicar banalidades brejeiras.
    Mais grave, quando provém da classe representante da área pedagógica.

    Entretanto, o governo diverte-se com estas inofensivas artes de "bem parecer"...

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  8. Sem dúvida que este governo tem sido o pior que nos calhou na rifa desde o 25 A. E essa dos presentes só para a mais nova é aquela coisa que fica bem num discurso, mas é mais outra mentira chapada... :P

    Beijocas e que em 2014 estes trastes se vão embora de vez!

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  9. Povo unido jamais será vencido...
    Já...
    Povo omisso sempre será vencido...
    Tanto ai quanto aqui!
    Abraços de um feliz e mais consciente 2014...
    Célia.

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  10. Há silêncios que são gritos...
    Um beijo.

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  11. Todos os dias sei de mais alguém que partiu...
    Hoje ouvi a notícia da boca de uma mãe com lágrimas nos olhos!
    Já não sei o que dizer...:(

    Abraço

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  12. Não será tão cedo Graça.Este povo levou uma injecção atrás da orelha.

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  13. A criatura e o grupo que lidera não têm qualquer espécie de vergonha! Uma espécie de Ali- Babá e os 40 ladrões!

    Votos de um 2014 bem acordado, com saúde e consciência de si!

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