É a primeira imagem que recordo
ter da cidade (paravam ali as camionetas): a Praça Rodrigues Lobo. Quadradinha,
amorosa e aconchegante. Pela mão da minha mãe. Calor de morrer e sombra debaixo
das arcadas desenhadas a lápis de carvão. Sob a sua alçada, as mulheres,
vestidas de negro e com um chapelinho redondo sobre o lenço, agachavam-se sobre
cestos de vime redondos e sacas de chita vendendo feijão e grão. Calor de
morrer mesmo no meu vestidinho de popelina sem mangas. Senti-me levada não sei
por que mãos para essa sombra e só acordei num café por ali. O calor foi de
mais para mim. Verão quente – em Leiria é sempre muito quente o Verão – de um
qualquer ano de 50. Teria os meus sete anos, sei lá. Mas linda, a Praça com
aquele castelo sobranceiro a espreitar lá no alto, nunca mais me saiu da
imagem. E aqueles chapelinhos redondos de feltro preto na cabeça das mulheres
também me encantaram. Desconhecidos para mim.
Mal sabia eu que haveria de aqui
passar muito mais de metade da minha vida. Com aquele castelo empoleirado a enfeitiçar-nos.
Quando vim, em 74, um dos prazeres
que cortava a tristeza de ter deixado a minha terra do coração, era quando a
minha mãe vinha cá passar as férias escolares e íamos até à Praça beber um chá
com torradas num daqueles cafés por debaixo das arcadas. Talvez o mesmo onde
acordei do desmaio. Mas nunca mais no Verão. Esse prazer cumpria-se mais nas
férias de Natal, com frio, depois de nos movermos cúmplices pelas lojinhas
envolventes. Já sem as mulheres de preto agachadas sobre as ceiras e os sacos
de pano e sem os chapelinhos redondos de feltro (ou de cotim) preto.
Ontem permiti-me repetir esse
prazer. Sozinha. No mesmo café, mas modernizado. As arcadas desenhadas a lápis são
as mesmas: acolhedoras, medievais. No lugar das mulheres agachadas sobre os
cestos e com os seus chapelinhos redondos sobre o lenço alastram esplanadas com
largos chapéus-de-sol a derramarem sombra para os quentes dias de Verão. A estátua
saiu do centro da Praça e foi arrumada a um canto, (diz que porque se usa assim
nas grandes praças europeias) as lojinhas desapareceram mas o aconchego das
arcadas continua a fazer-se sentir. E o castelo permanece jovem, sobranceiro e
belo a olhar-nos do alto da velha colina-vulcão que ali por trás se eleva.
Belas fotos e boas recordações. Desmaios à parte... ;)
ResponderEliminarBeijocas
Curioso, que me lembro bem da praça como aqui a mostras! Desde miúdo, Leiria era ponto de paragem obrigatório nas constantes viagens entre Lisboa e Porto...
ResponderEliminarNasci em 56, mas em 74 já casada e com uma filhota requentava a pastelaria Soraia na av. Heróis de Angola. tenho uma vaga ideia destas imagens mais antigas.
ResponderEliminarbeijinho e uma flor
É verdade... lembra bem o Carlos Oliveira... entre 1976 e 79 fazia viagens semanais ao Porto e nessa altura não havia alternativa, era obrigatório atravessar Leiria. Parava um minutos, passeava... gostava!
ResponderEliminarAgora parece-me mais bonita, a velha praça dos cereais.
ResponderEliminarBoas memória, reportagem e fotografias.
Quando há dois anos regressei a Leiria fiquei a conhecer ainda melhor a praça. A pastelaria (com um segundo andar) tinha um ambiente muito agradável. De momento não me recordo do nome. Gostei muito de passear por Leiria e de tirar a foto (não podia deixar de tirar) junto a essas mulheres com os chapelinhos redondos e pretos.
ResponderEliminarGracinhamiga
ResponderEliminarNão fora o pecado da repetição, eu diria o mesmo que o Carlosamigo e o Rogério, a quem também trato por Rogériamigo.
Mas, de Leiria (de que tanto gosto) a recordação mais sentida que tenho foi a pré-inauguração da Delegação do Diário de Notícias com o João Figueira à frente dela.
Depois os anos foram passando, o DN fechou a Delegação, o João Figueira é professor na Universidade de Coimbra onde prepara o doutoramento e eu... envelheci. Sem chapéu preto e redondo nem lenço de pôr na cabeça.
Mas o castelo continua lá no alto...
Qjs
Quem não conhece a nossa cidade pode vir aqui e entra no seu coração.
ResponderEliminarAqui se abraça o passado e o presente no olhar do castelo empoleirado no alto das fragas que o sustentam.
Só me recordo das camionetas junto à fonte das três bicas. Hotel Liz.
-Oliveiras, Capristanos , Claras e Vilela...
Desejo também um Santo Natal e um novo ano cheio de paz e prosperidade
Abraços
Estimada Amiga Graça Sampaio,
ResponderEliminarComo é por vezes fazer-mos uma pausa e olhar para os tempos em que algo nos fez mudar as nossas vidas.
Adorei as fotos, como adoro a cidade de Leiria, a qual tive o prazer de conhecer por diversas vezes.
Uma das fotos onde estão as mesa do café me fez lembrar a minha ex-amada cidade de Évora, essa foto é igualzinha à zona da Praça do Geraldo café Arcada.
Votos de um Santo e Feliz Natal para Si e sua Exma. Família, e que o novo ano continuem vendo esse altaneiro castelo e que vos traga as maiores venturas, saúde, paz e amor.
SAN IAT FAI LOK
Abraço amigo
A Praça, orgulhosa do seu passado, tenta "ajustar-se" aos novos tempos. Não é de estranhar que nos cafés e esplanadas haja mais cerveja e muita falta de chá...
ResponderEliminar:)
Apesar de tudo está (bem) viva e recomenda-se!
é um lugar emblemático de uma cidade muito mal tratada pela construção desenfreada que tinha na edlidade uma permissividade muito prejudicial.
ResponderEliminar"Esta formosa terra
ResponderEliminar"Situada numa planície fresca e deleitosa
A uma rocha íngreme encostada
Donde o Castelo a mostra mais formosa
De dois alegres rios rodeada
E de fresca verdura graciosa
Vales ao redor verdes sombrios
Que cortam mansamente os brandos rios." Assim escrevia Rodrigues Lobo...
Foi bom partilhar esta "viagem" consigo minha amiga, e que bem me soube o café na sua companhia :)
ResponderEliminarAproveito para lhe desejar um Feliz Natal na companhia de quem ama.
Muita Saúde, Amor e Paz !
beijinho
Fê
Não existem bons amanhãs
ResponderEliminarsem boas memórias
Uma cidade verdadeiramente encantadora!xxx
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