(A caminho de Monserrate) |
Era por este e por outros caminhos igualmente belos como este que, nos idos de 60, mal terminavam as aulas, o nosso habitual grupo de rapazes e raparigas da Vila munidos de cestas e de facas, se lançava na difícil mas super-divertida tarefa de ir ao musgo para o presépio.
A serra é, como sabem, verdejante, sombria e húmida mais do que suficiente para cobrir muros, pedras e caminhos com musgosos tapetes altos de fofos que faziam as nossas delícias.
Frio de rachar, humidade que chegava aos ossos, chuva muitas vezes, que Sintra era como Londres. Mas o gozo era o passeio, a brincadeira, a risota, a zombaria. A beleza estonteante da paisagem nem era por nós notada porque era a habitual de todos os dias. Com as mãos enregeladas e com a perícia de quem corta escalopes, metíamos as facas por baixo do musgo e cortávamos cuidadosamente longas pastas verdes que, no dia seguinte, iríamos dispor no canto da sala onde o presépio caseiro iria nascer.
Serra dentro, a noite começava a esboçar-se aí pelas quatro e meia da tarde. A essa hora, porém, saídos para o nosso passeio apenas depois do almoço, a tarefa que nos movia não estaria nem sequer a meio. Além de que os caminhos eram infindáveis e a nossa vivacidade não nos aconselhava a voltar tão cedo para trás. «Vamos só até àquela curva!» «Não! Até à Fonte dos Amores!» (que não voltei a encontrar quando ultimamente visitei a Serra porque, parece, foi encerrada em propriedade privada)
E, por fim, já quase noite escura, com os cestos bem carregados com as boas das plantas quase molhadas, o regresso em passo de corrida serra abaixo. Quando avistávamos o palacete da Zezinha, já nos sentíamos em casa, mas ainda tínhamos mais uns seis ou sete minutos até ouvirmos a minha mãe a ralhar-nos por nos demorarmos tanto!
Frio de rachar, humidade que chegava aos ossos, chuva muitas vezes, que Sintra era como Londres. Mas o gozo era o passeio, a brincadeira, a risota, a zombaria. A beleza estonteante da paisagem nem era por nós notada porque era a habitual de todos os dias. Com as mãos enregeladas e com a perícia de quem corta escalopes, metíamos as facas por baixo do musgo e cortávamos cuidadosamente longas pastas verdes que, no dia seguinte, iríamos dispor no canto da sala onde o presépio caseiro iria nascer.
Serra dentro, a noite começava a esboçar-se aí pelas quatro e meia da tarde. A essa hora, porém, saídos para o nosso passeio apenas depois do almoço, a tarefa que nos movia não estaria nem sequer a meio. Além de que os caminhos eram infindáveis e a nossa vivacidade não nos aconselhava a voltar tão cedo para trás. «Vamos só até àquela curva!» «Não! Até à Fonte dos Amores!» (que não voltei a encontrar quando ultimamente visitei a Serra porque, parece, foi encerrada em propriedade privada)
E, por fim, já quase noite escura, com os cestos bem carregados com as boas das plantas quase molhadas, o regresso em passo de corrida serra abaixo. Quando avistávamos o palacete da Zezinha, já nos sentíamos em casa, mas ainda tínhamos mais uns seis ou sete minutos até ouvirmos a minha mãe a ralhar-nos por nos demorarmos tanto!
(Casa da Mira Longa) |
No dia seguinte, quase na antevéspera
da noite de Natal, dispunham-se as figurinhas de barro sobre o musgo fresco e
perfumado e enfeitava-se o pinheirinho – que não de plástico – com as bolas de
vidro pintado e as fitas prateadas. O Natal brilhava e rescendia.
Bom Natal!
Nesse tempo eu ainda era um menino da cidade... lembro-me bem de andar com o meu pai pelo pinhal do meu avô a apanhar o musgo, o pinheiro, as pinhas e outros pequenos ramos que a minha mãe depois pintava. Fazer o presépio e montar a árvore de natal envolvia a família toda, mais ou menos como agora...
ResponderEliminar:)
Boas Festas também para si e para toda a sua família.
ResponderEliminarBom Natal!
ResponderEliminarTb cheguei a ir ao musgo e a encher latas de conserva com arroz (ou com trigo?) para obtermos “as searas”. Era ainda a época em que o Menino Jesus é que trazia as prendas e as coloca no sapatinho.
ResponderEliminarBoas festas, Graça. : )
Oi, Graça! Linda a sua narrativa natalina com descrição de uma vida vivida e natural. Belas recordações! Foi muito bom ler e conhecer você e sua região. Obrigada!
ResponderEliminarAbraços natalinos!
Célia.
Tudo aquiloi que fazemos nós mesmos tem muito mais gosto e valor.
ResponderEliminarPARABÉNS XXXX
Tradições que se vão perdendo no escoar dos tempos, mas que ficam aqui muito bem documentadas.
ResponderEliminarFeliz Natal também para si
Nesse tipo de tarefas aprendia-se a ser gente. A descoberta da natureza, as aventuras por montes e vales, a fazer coisas bem e outras mal, era, no meu ponto de vista, muito melhor que estar agarrado a uma consola de jogos eletrónicos.
ResponderEliminarBela crónica, O Natal também é recordar.
Não tenho tido tempo para deixar a minha opinião mas sigo este blogue inteligente e lúcido, de forma atenta.
ResponderEliminarEstou muito cansada por isso deixo votos de um fim de semana bom e um beijinho
Um agradecimento muito especial para as queridas Mariazita e Maria Sol. E para todos os maus amigos bloggers em geral.
ResponderEliminarVotos de muito Bom Natal!
ResponderEliminarObrigada por esta partilha.
Se o espaço da narrativa não surgisse tão claramente identificado, eu diria que fazia parte desse grupo de miúdos.
Um beijo e votos de um Natal Feliz.
Lídia
⋱ ⋮ ⋰ ♬♪ ⋯ ✰ ⋯ ♬♪ ⋰ ⋮ ⋱
ResponderEliminarPassando para desejar um FELIZ NATAL e um NOVO ANO repleto de muitas e grandes realizações.
Beijinhos
Adorei Graça, sabes que as minhas filhotas não usam arvores artificiais e fazem o presépio com musgo que vão recolher ao pinhal.
ResponderEliminarbeijinho e uma flor
E eu hei de voltar aos pinheirinhos naturais pelo cheiro e pela originalidade!
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