domingo, 19 de fevereiro de 2012

O terceiro cardeal



"A Família" (Livro da Primeira Classe)

Não entendo a vantagem mas ontem as notícias anunciavam com algum orgulho que o nosso país “ganhou” o seu terceiro cardeal. Trata-se de um D. Manuel Monteiro de Castro, que as notícias também dizem ser “o cardeal diplomata”. E parece-me ser tanta a sua diplomacia que tratou logo de (re)mandar as mulheres para casa cuidar dos filhos. Disse mais este crânio (que tendo andado em missão por esse mundo fora parece que pouco aprendeu) tido como homem de “vasta experiência e cultura” que “o trabalho da mulher a tempo completo não é útil ao País. Trabalhar em casa sim, mas que tenham de ir trabalhar pela manhã até à noite creio que para o país é negativo.” E que “a mulher deve poder ficar em casa, ou, se trabalhar fora, num horário reduzido, de maneira a que possa aplicar-se naquilo que é a sua função essencial, que é a educação dos filhos.” 

E aí, pensei: será que face ao número absolutamente ingente de desemprego, o senhor cardeal quer guardar o que ainda há para os homens – chefes de família “por direito”, ou está ainda imbuído daquele espírito ideológico ditatorial, clerical, paroquial, para não dizer bafiento e castrador, consagrado na Constituição de 1933 que afirmava a igualdade de todos os cidadãos perante a lei e a «negação de qualquer privilégio de nascimento, de nobreza, título nobiliárquico, sexo ou condição social», (…) «salvas, quanto às mulheres, as diferenças da sua natureza e do bem-estar da família»? Também a senhora condessa de Rilvas, dirigente da Obra das Mães, aquando da criação daquela organização em 1938, esclareceu que esta tinha como objetivo intervir «no campo moral, pela reeducação da mulher, fazendo-as regressar ao lar e ensinando-as a amar os seus filhos». [in “A cada um o seu lugar” de Irene Flunser Pimentel].

Será que o senhor cardeal vem mesmo reforçar as pretensões deste governo em fazer-nos retroceder àqueles tempos que não queremos nem lembrar?




9 comentários:

  1. Uma opinião absolutamente salazarenta! :-((
    Mas com o rumo do desemprego já estão centenas de casais em casa a educar muito bem, à míngua, os seus filhos!
    Abençoado cardeal!
    Valha-o Deus! :-((

    Abraço

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  2. Boa noite Graça.
    Esta não teve mesmo graça...o homem saiu agora das cavernas e a nomeação baralhou-lhe as ideias...
    Enfim certamente ainda pensa que só ele e os seus pares são iluminados para governar o mundo...
    Valha-me Deus...tá tudo maluco...

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  3. Que útil saber que temos um novo cardeal e ainda por cima tão "progressista"... :P

    Que a condessa de Rilvas dissesse uma coisa dessas em 1938, admite-se, a mentalidade era outra. Agora com um povo a passar por tantas dificuldades como é que um homem dos dias de hoje (seja ele cardeal ou outro qualquer) pode afirmar tamanho disparate? A mulher fica em casa para educar os filhos e depois o que é que lhes põe na mesa?!? Isto para além de um padre ser a pessoa mais indicada para falar da educação que os pais devem dar às crianças... ;)

    Beijocas!

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  4. Querida Carol, do fundo do meu ser, digo não a estas "imagens", de má memória!!

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  5. Depois do post anterior que me tirara as últimas teias de aranha da cabeça,tão puro,tão integral no seu nu,tão lavado de corpo e alma,vens-me com este atraso de vida! Não posso perdoar-te por me relembrares que existem ainda enormes (?)figuras que reduzem a mulher à função de reprodutora que não fará nada mais que cuidar da sua ninhada e a quem é desaconselhado passar as fronteiras
    do seu lar e completar a realização pessoal em full-time.Então, as gravuras da época salazarenta deixaram-me de rastos.
    Juro que vou de imediato tomar um duche para me desinfetar.Kinkas

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  6. Fazes bem, querida Kinkas, que até metem nojo! Mas, sabes, é preciso lembrar alguns e algumas que foi assim....

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  7. Depois de o ouvir só me apetecia vomitar aquele vernáculo que nós há 50 anos não usávamos e que agora já passou a interjeição! Gente desta não merece pingo de respeito...

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  8. Gracinha, desculpa não dizer nada senão que roubei a segunda ilustração.

    É que eu não digo asneiras, mas agora apetecia-me segiur a teoria de Fernando Mascarenhas, a sério!!

    Abraço-te

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  9. Querida amiga.
    Aos bem instalados, tudo lhes é permitido.
    Acaso alguém já lhe fez a pergunta porque será que um filho do povo como ele, que não tem raízes nobiliárquicas se intitula de Dom?
    Será que tem brasão? Nascem como qualquer um de nó, crescem de igual forma, porque será que depois duma certa altura lhes sobe o sangue de nobreza?
    Longe vão os tempos em que o clero era poder sobre a plebe. Estes seres ignóbeis que de nobreza nada têm, ainda se julgam ditadores ou impunes? São conselheiros de quem? Limitam-se a humilharem os pobres materiais, pois como pobres de espírito que são, não conseguem espezinhar aqueles que são ricos de espírito.
    Grato pelo comentário deixado no meu espaço, o titulo, é somente uma sugestão.
    Um abraço e divirta-se, muito embora esteja difícil a diversão.

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