sábado, 25 de fevereiro de 2012

Leiria


«Na fronteira meridional do seu condado, e sobre a eminencia roqueira abruptamente erguida no cabo da lomba que separa os valles do Liz e Lena, fundou D. Affonso Henriques, em 1135, o castello de Leiria para conter a audácia dos sarracenos vizinhos. Mais tarde foi elle uma importante base de operações, quando entrou em realização o plano de conquista do nosso primeiro monarca.

Este ninho de águias fazia aos mouros uma vizinhança terrivel: do alto do seu môrro baixavam com frequência os cavalleiros de Paio Gutterres fazer prêsa e desbarato na fazenda mourisca; e o sarraceno, afrontado, espreitava ansioso a ocasião de arrazar o alcácer de alcantil nazareno. Não se fez ella esperar. Em 1137 souberam os de Santarem que D. Affonso andava com demora na Galliza e vieram cercar o castello, que sucumbiu depois de heroica resistência. Duzentos e quarenta cavalleiros e homens de armas cahiram na defesa das suas muralhas, conseguindo escapar-se o alcaide.»


Srª da Encarnação

 
Santuário de Nª S.ª da Encarnação

«No alto de uma colina que se recorta na franja da cidade, entre os pontos do sul e nascente, alveja gracioso e leve como um sorriso o templo da Sr.ª da Encarnação.
Dizem que desde a antigüidade remota foi aquelle cimo ocupado por uma pequena ermida, mas isto é fama incerta e vaga. (…) 

Em 1588 a convicção de um grande milagre feito pela Senhora na pessoa de uma Susana Dias, paralytica, natural das Cortes, acendeu em chamma de enthusiasmo a devoção pela Virgem entre o clero, nobreza e povo da cidade, que á porfia concorriam com avultadas ofertas para se levantar um novo e grandioso templo.»


Castelo e mais abaixo a ameia antiga

Muralha antiga da cidade

 
A cêrca da Villa

«Berço carcomido e velho da recuada infância de Leiria, a cêrca da villa desenvolve-se em figura de meandro, e, depois de abraçar em volta o socalco terminal da lomba, leva os seus extremos a topar na cintura do castello. Ainda hoje é reconhecível em toda a sua extensão, descoroada embora de ameias e peitoris e muito derruída em parte. (…) Dentro existem hoje quintas e casas particulares, o antigo paço episcopal com as suas dependências em que está agora aqüartelada Artilharia 4, e a Igreja de S. Pedro.»


A Sé


 A Cathedral

«Descendo do castello para a cidade, encontra-se ao fundo da encosta o edificio da sé, que poisa desafrontadamente em adro espaçoso coberto de lajedo, murado em volta e vedado na frente por uma extensa e rica balaustrada de lioz.
O exterior do templo é de uma vulgaridade monótona e sem interesse: um vasto casarão de silhueta massiça e pesada, sem um episodio de relevo em que possam prender-se os olhos».
Liceu velho e casario à beira rio
Igreja de Stº Agostinho
O que resta do Grande Hotel Lis ao lado da Igreja do Espírito Santo




  
Velho casario à beira rio
 
Edifício do Banco de Portugal

Fotografias tiradas de uma outra colina sobranceira à cidade num sábado cheio de sol.

Os textos transcritos são da autoria do Dr. José Saraiva, professor do Lyceu de Leiria, in Monumentos de Portugal. Leiria, 1929. 

 (Desculpar-me-ão a ironia, mas não sei por que razão o dr. Graça Moura e outros "defensores do purismo da língua" não utilizam ainda esta forma de escrita usada nos textos transcritos...)


11 comentários:

  1. Carol
    Imagens que conheço muitissimo bem.E sabes não é ironia tua,mas sim a realidade.

    Beijinho e uma flor

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  2. Não é ironia, Graça. Embora eu não goste do acordo, sou acérrimo crítico daqueles que o rejeitam com fundamentos bacocos.
    Quanto à cidade de Leiria, parece-me ter parado um pouco no tempo. Será impressão minha?

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  3. Em assuntos desta importância haverá sempre vários pontos de vista quer para aceitar quer para rejeitar mas com o tempo todos nos iremos adaptar!
    Lá terá que ser!
    Afinal não é a democracia que está em causa!:-))

    Abraço

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  4. Estimada Amiga,
    Grato lhe fico por mais esta lição de história que desconhecia, mas é sempre bom ficar-se a saber através de pessoas conhecedoras da matéria.
    Passei por várias por Leiria, mas não conheço bem a cidade.
    Abraço amigo

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  5. Mostrar Leiria assim só pode ser mesmo de uma Leiriense apaixonada pela cidade e a sua história.

    Como afirmou acima - Carlos Barbosa de Oliveira - Leiria parece ter adormecido no tempo.

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  6. O Prof. José Saraiva que, se me permite acrescentar, para além de professor e reitor do Liceu de Leiria, foi autor da "Monografia de Leiria", director do Arquivo Distrital de Leiria e presidente da Câmara Municipal e, não menos importante,pai dos igualmente ilustres Professores António José Saraiva e José Hermano Saraiva, ambos nascidos na cidade do "Castelo altaneiro".

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  7. E assim, fiz uma viagem virtual a Leiria.

    Só tenho pena que me não tenhas visto e fotografado, enquanto te acenava do castelo...

    Bom Domingo!

    Beijo

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  8. Belo passeio pela cidade do Lis que
    tem uma "Sé sem torre.uma torre sem sé e o rio corre para cima,em Leiria tudo assim é" -como rezava mais ou menos um texto popular antigo da autoria de algum maldizente da cidade.Kinkas

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  9. Ler o teu post é uma outra maneira de (re)conhecer a cidade! Mas nada que chegue a umas boas passeatas, calcorreando os altos e baixos dessa terra magnífica!

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  10. Obrigada, MLisboa, pelos seus esclarecimentos que deve fazer sempre!

    Pois é, Carlos, Leiria ficou mesmo parada no tempo. Conta-se uma anedota assim: «D. Afonso Henriques pôde voltar à Terra e fazer uma viagem de helicóptero por cima de Portugal. E pasmou quando lhe mostraram Guimarães, Lisboa, Santarém, o Porto que não conseguiu reconhecer. Porém, ao aproximar-se de Leiria, exclamou: Olha, ali é Leiria!!» ... É assim mais ou menos como aquela lenga-lenga que a minha amiga Kinkas contou...

    Caro Luís, não sou nada leiriense! Sou lisboeta de gema e vim para cá muitíssimo contrariada. Só que acho a cidade muito lindinha além de que gosto muito da História do nosso país.

    Beijinhos leirienses para todos os meus amigos.

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  11. Olá Graça,
    Muito bom este seu post sobre Leiria. É uma terra onde há uns anos atrás ia muitas vezes. Gostava de levar os meus netos para conhecerem o Castelo, que é muito bonito.

    Beijinho

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