quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Valter Hugo Mãe






Confesso que ainda não li nenhum livro de Valter Hugo Mãe. Conheço a sua escrita apenas das crónicas que escreve no Jornal de Letras a partir das quais já dá para concluir que se trata de um jovem autor sensível e altamente criativo. 

Levada pelo enorme sucesso que foi a sua presença na Festa Literária Internacional de Paraty, no Brasil, e porque aparecia nas bancas um novo romance do autor, mais interessada fiquei em ler a sua crónica sobre o referido romance subordinada ao título "O filho de mil homens - O lado invisível". Gosto sempre muito de ler e de ouvir os escritores a falarem sobre o ato da criação; dá-me a impressão de poder olhar a obra - e o próprio artista - por dentro e isso eu acho muito íntimo, muito poético.

A crónica é assim como que uma confissão do autor sobre ele próprio, sobre o milagre de ter chegado aos 40 anos - idade que ele deixa prever tratar-se da entrada na idade adulta propriamente dita - quando pensava morrer bastante mais cedo, marca deixada pelo que um professor lhe disse nos tempos do liceu.Escreve ele logo de inicio: 

«Foi um professor de Religião e Moral, nos meus tempos de liceu e de fortes crenças na transcendência, que me disse, de mauzinho, que eu tinha um semblante muito triste e que provavelmente haveria de morrer cedo. Eu sempre vivi com a convicção de que a tristeza abrevia tudo, mas também é certo que os tristes podem perdurar como frutos secos, tão enrodilhados quanto mudando para outro modo de ser, como eternos. Naquela altura, por causa de acreditar em sinais e juízos de pessoas supostamente com sabedorias divinas, pensei que nascera para ser apenas triste, encurralado já tão cedo, até morrer sem mais.»

Consternação foi o que senti contra aquele professor (padre, ainda por cima) e voltou a vir-me à cabeça o mal que nós professores podemos fazer às crianças e aos adolescentes com algumas saídas infelizes, palavras impensadas, profecias imponderadas. Neste caso pior porque, dizer do escritor, o professor fê-lo "de mauzinho" - e nós sabemos que há muitos que o fazem...

A Livraria Arquivo, nas suas habituais sessões de conversa com escritores, trouxe hoje a Leiria, ao fim da tarde, Valter Hugo Mãe para apresentar e falar sobre o seu novo romance. Foi uma conversa simpática e agradável e absolutamente despretensiosa com uma pessoa sorridente, simples e extremamente sensível que trata as personagens que cria como pessoas livres e autónomas com cujas desgraças e formas de ser chora, chora imenso enquanto as vai escrevendo...  É este falar sobre o ato de criação, esta metalinguagem, que me encanta.

Lá vou ter de "dar o golpe" na pilha de livros em espera para ler antes "O filho de mil homens"...









12 comentários:

  1. Estava na "minha agenda" deslocar-me à Livraria Arquivo mas, uma indisposição da Any "obrigou-me" a ficar por casa.
    Perdi a apresentação... creio ter ganho a paciente.
    :)

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  2. E ainda bem. Que essa é uma paciente muito especial... As melhoras.

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  3. Querida Carol, deixaste-me a pensar... talvez tenha dito alguma vez, algo a algum aluno que o tenha marcado negativamente e isso não me agrada!
    Olha... estás uma giraça, nas fotos!

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  4. Um "jovem" que merece ser lido...Podes achar estranho mas revejo nele qualquer coisa de Mario de Sá cCrneiro...

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  5. Nunca li nada dele.

    Não me surpreende essa atitude mázinha do padre professor.

    A igreja católica é perita em culpabilização e exaltação do sofrimento alheio!!

    Dorme bem.

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  6. Castrações! Quanto fazemos isso! Soberanos nos achamos, nós os educadores e postamo-nos de senhores da verdade! Fundamentalistas horrorosos seja lá de que classe profissional ou vocacional sejam! Abraço, Célia.

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  7. Saí do clube de leitura, ali ao lado, por volta das 5 h, tinha outros compromissos mas fiquei com pena!
    Conheci-o através do "Apocalipse dos Trabalhadores" e gostei, se depois o quiseres ler é só dizer. :-))( até rima)

    Abraço

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  8. Como Rosa dos Ventos, também conheci o autor através de "Apocalipse dos Trabalhadores", no mesmo Clube de Leitura. Na altura, não gostava de maiúscula. Uma irreverência da juventude, digo eu :). Tive pena, mas a Freguesia de Marrazes não se compadeceu e faltei ao evento. Ainda bem que foste. Que boa notícia! Bem-haja

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  9. Que maldade amiga, um Prof. de Religião e Moral, ainda por cima padre, fazer uma profecia daquelas a um garoto!
    Felizmente que há gente guerreira que não se deixa abater e faz desse mau presságio um forte motivo de inspiração.

    Quero dizer que estás linda nas fotos

    Chuac!

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  10. Carol
    Não sabia, afinal estou tão perto de Leiria.
    Que bom ver tua foto, é que vou tanta vez a Leiria que se te vir já não me escapas.
    Beijinho e uma flor

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  11. Como forma de o erro não se prolongar, achei por bem (desculpa Gracinha) esclarecer que o senhora que aparece nas fotos não é a Carol. Correr-se-ia o risco, a meu ver de, por exemplo, a Flor de Jasmim, abraçar na rua a Odete, convencida de que era a Carol...

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  12. Obrigada Rocha, pelo esclarecimento. De facto aquela senhora a quem o VHM está a dar o autógrafo não sou eu, nem a conheço. Tirei a fotografia à situação. Peço desculpa pela confusão que estabeleci. (vejo que o meu querido amigo recém operado ao coração está em franca recuperação - já vem até ao computador! Ainda bem. Boa continuação, Rocha!)

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