(Representação da Implantação da República no Salão Nobre
da Câmara Municipal de Leiria - Jun/2010)
«Se a notícia chegou por telegrama ainda nesse dia 5, não seria de estranhar, mas nada na cidade o indicou. Contudo, no dia seguinte todos se mexeram sem dificuldades aparentes na distribuição dos novos cargos, como se a surpresa não fosse grande.
A confirmação veio durante a noite, com a chegada em automóvel de um casal de Ourém e foi na manhã do dia 6 que o alcobacense José Eduardo Raposo de Magalhães recebeu a nomeação por telegrama às 11.45. neste da, muita gente saiu à rua. Uns com grande entusiasmo, outros por curiosidade e expectativa, ou até pelo receio de serem apontados a dedo. Curiosamente, foi o próprio presidente da Câmara monárquico, Correia Mateus, que fez a proclamação local da República, ás 16 horas a partir da janela do edifício camarário, entregando de seguida as chaves do edifício ao republicano Gaudêncio Pires de Campos.
Logo no dia 7, já após a tomada de posse do novo governador civil, Raposo de Magalhães, assumia também funções a nova Comissão Administrativa Municipal, que seria presidida pelo venerável da Loja Maçónica Gomes Freire, Inácio Veríssimo de Azevedo, tal como para a Junta de Paróquia seria destacado o “histórico” comerciante democrático José Carlos Afonso. Estas nomeações, óbvias, teriam, no entanto, sido precedidas de uma calculada e preventiva proposta do presidente da Câmara cessante, Correia Mateus, também ele, afinal, iniciado maçon.
Os meses de Outubro e Novembro foram de preparação no reposicionamento das elites. A partir deste último mês, com a sucessão de eleições nas diversas associações profissionais (Comercial e dos Operários de Leiria) e mesmo recreativas (Assembleia e Grémio), acenderam uns, reciclaram-se outros, sendo ainda substituídos o administrador do concelho e os regedores. (...)
O estatuto de governador civil e o seu impacto público na I República eram claramente desvalorizadas em comparação com o regime monárquico onde a representação do Governo Central ganhava uma maior projecção, levando geralmente a um nítido eco por parte da imprensa, sobretudo quando se dedicava às causas locais.
Um bom exemplo disso mesmo foi o que tivemos em 1907 com a criação da Liga dos Interesses de Leira, sob o patrocínio do governador civil José Jardim que reuniu na mesma assembleia todo o escol monárquico e republicano, apelando tanto ao bom senso da Câmara regeneradora como do Governo de João Franco para diversas questões infra-estruturais do concelho.
Nada disso viria a passar-se após 1910. (...)
Com o conforto de um relacionamento muito chegado entre os líderes locais e o Directório do partido e mesmo com o novo Governo, os republicanos de Leiria pareciam convencidos que iriam inverter o tradicional conservadorismo da região. Não só Bernardino Machado era um amigo, como João Soares e outros que viviam em Lisboa frequentavam o círculo restrito da cúpula partidária, o que se confirmaria pelos cargos que viriam a exercer. Também mais tarde, as relações de amizade entre o menos moderado Tito Larcher com Júlio Dantas trariam para Leiria alguns equipamentos culturais. (...)»
In “Leiria Roteiros Republicanos” Acácio de Sousa
Apesar de este texto não ter colhido opiniões, é meu dever recomendar - especialmente aos amantes de História (de Portugal)- a leitura do livro do professor e historiador Acácio de Sousa que foi, até há pouco tempo, o diretor do Arquivo Distrital de Leiria, onde realizou obra notável.
ResponderEliminarNão dei a minha opinião, porque só hoje vim cá ( ontem estive de folga durante o dia e à noite fui ver o Vitorino).
ResponderEliminarGostei imenso de ler, Carol. É um documento histórico que até nos pode conduzir a épocas mais recentes...
Que sorte ter ido ouvir/ver o Vitorino. Gosto muito de o ouvir cantar.
ResponderEliminarObrigada pela sua opinião, Carlos.
Ola Carol!!
ResponderEliminarEu que sou de Leiria não soube da representação!!
Teria ido com todo gosto!! Qualquer desculpa é boa para entrar no lindo edifício que é a Câmara de Leiria...
Pode não ser dos mais bonitos da cidade mas... Muito não faltará!!
Um abraço
Flávio
Caro Flávio,
ResponderEliminarSó agora li o seu comentário. De facto, esta representação não aconteceu no 5 de Outubro; já foi no ano passado em Junho por força das celebrações dos 100 anos da República. O Dr. Acácio de Sousa, que na altura ainda era o diretor do Arquivo Distrital, realizou os Roteiros Republicanos, uma apresentação, explicação e dramatização dos acontecimentos à época da Implantação da República que terminavam no belíssimo edifício da Câmara. Foi bastante interessante. Que pena não ter sabido!
Beijinho