quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Hipocrisia






Há muito que assim penso, mas tive alguma contenção em divulgá-lo. Sempre me contrariou o facto dos Estados ocidentais , nomeadamente os Estados Unidos, intervirem, em nome da democracia, nos Estados, especialmente, os do Médio Oriente de governação ditatorial.

É certo que as ditaduras são formas de governar contra o povo e que apenas favorecem quem governa e os seus apaniguados e, de um modo geral, os ditadores mantêm-se à frente dos países por tempo indeterminado, se possível, de forma vitalícia, tornando-se, à medida que o tempo passa, cada vez mais desumanos e mais violentos. Naturalmente que o ideal seria – em termos utópicos – que houvesse um regulador mundial que estabelecesse o bem comum entre todos os povos e que tivesse o poder de sanar estes como outros problemas. Mas isto é a utopia! Ninguém disse, ninguém investiu os Estados Unidos, ou a ONU, ou a Comunidade Europeia desse fim. E, quando o fazem, parece-me que não o fazem de forma gratuita, muito embora evoquem razões humanitárias e de restabelecimento do bem comum.

Veja-se o caso do Afeganistão. Os europeus e os americanos foram para lá cheios de “boa vontade” para tirarem de lá o ditador que oprimia o povo e lhes sugava as riquezas. Puseram o país a ferro e fogo com aquelas suspeitas sem fundamento de que aquele país era um perigo para o ocidente. Mataram, partiram, destruíram, arrasaram, lá “assassinaram” o ditador e depois? O povo ficou mais livre, mais rico, mais feliz? Nem por sombras.

Depois foram as chamadas “primaveras árabes”. Agitaram-se os povos, deu-se-lhes esperanças de uma vida em democracia, desorganizaram-se-lhes as estruturas por muito básicas que fossem, tudo com o aval (hipócrita) do ocidente. E depois? O que ganharam depois destas revoluções assistidas? Guerra pelo poder, miséria, desalento, sangue, suor e lágrimas. Ficaram mais felizes, mais ricos, mais livres? Duvido.

Não estou aqui a advogar pelas ditaduras permanentes, pelos ditadores vitalícios que submetem e devoram o povo. Só que tudo tem o seu tempo e há que passar pelas etapas todas, ou pelo menos por algumas, para se poder evoluir aprendendo. Também os europeus levaram séculos – uns mais que outros – para ultrapassar o absolutismo dos reis e as ditaduras do século XX. Se dizem que os árabes ainda estão na Idade Média – uns estarão (os pobres), outros não (os ricos que vêm estudar para Londres ou para NY) – como querem que em alguns meses se vá lá “ensinar-lhes” o exercício da democracia, enquanto se lhes destroi a vida, os anseios, as terras, as cidades?

Teríamos nós, Portugueses, gostado que, apesar de tudo, no tempo quase interminável da ditadura salazarista tivessem vindo para aí exércitos de americanos ou outros fazer a guerra, destruir o país, quebrar-nos as esperanças, só para tirarem de lá o ditador?

Para aprendermos e estarmos preparados para novas situações, como é o caso da vida verdadeiramente democrática, há que ultrapassar vivendo cada momento nem que para isso tenhamos de quebrar a cara. Como poderíamos nós, portugueses, implantar aqui e agora o sistema de educação da Suécia, por exemplo, se em termos de instrução básica eles têm cem anos de avanço sobre nós?

Por isso não aceito conselhos nem acredito em lições de vida.

11 comentários:

  1. “Eu não quero mudar o mundo.
    Não tenho tempo para isso.
    Quem quer mudar o lugar do mundo actua como quem quer mudar o lugar de um móvel:
    Empurra primeiro para um lado,
    Foi força demais,
    Empurra então para o outro lado,
    Agora com força de menos,
    Depois mais um toque para lá
    E um ainda mais pequeno toque para lá,
    E agora sim:
    O móvel está no lugar.
    Depois abrimos o móvel e vemos que os copos que estavam lá dentro se encontram todos partidos.
    Estão a ver?
    Os copos todos partidos.

    Que aborrecimento.
    Não nos lembrámos da fragilidade do vidro."

    Gonçalo M. Tavares – O homem ou é tonto ou é mulher

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  2. o problema e querer "impingir" a outros povos e culturas solucoes que mal funcionaram conosco

    cada um deve enconrar a sua solucao

    Bjinhos
    Paula

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  3. A democracia não se impõe!!! É um erro fatal...

    Por seu lado, as democracias têm o seu lado tenebroso!!! E, como tão bem dizes: hipócrita.

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  4. Há uma tênue linha de fragilidade ao querer se transpôr limites e hábitos instituidos; nem sempre os mesmos são eficazes... mas, acostuma-se a tudo nessa vida! Abraço, Célia.

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  5. Estimada Amiga Carol,
    Estou totalmente de acordo com suas sábias palavras.
    Os Estados Unidos da America, que apregouam a democracia, praticam uma política totalmente negativa, pensam que são os donos do mundo e só arranjam conflitos e guerras.
    A geopolitica dos ianques leva a que o mundo ande desta forma, em termos de economia tudo anda mal devido a eles.
    São o país com o maior decfit do mundo, mas tudo bem, os pequenos país tem que andar a reboque deles,
    Ontem o senado americano aprovou uma lei que poderá ounir a República Popular da China, sobre a valorização do Yuan, veremos no que dai irá dar.
    Enfim os senhores do mundo que a casa tem desarrumada.
    Abraço amigo

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  6. Os Estados Unidos, apesar de tudo, mantém um certo equilíbrio a nível mundial. A minha modesta opinião apenas.

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  7. Infelizmente as democracias representativas como funcionam actualmente deixam muito a desejar e algumas até se podem confundir com ditaduras...
    Acho que os povos têm o direito de procurar os seus caminhos e nem todos desembocam no modelo de democracia ocidental!
    O pior é o sofrimento, a morte , a violação dos direitos humanos mas as interferências em território alheio não têm levado a melhorias significativas!
    Todo este razoado logo de manhã, para quem até é preguiçosa, deixou-me com a cabeça à roda!
    Ando com tonturas ou talvez mais com tonteiras mas isso deve ser do novo OE que vai chegar entretanto! :-((
    Mas ainda acrescento que não morro de amores pelos States...é verdade que fizeram o que puderam durante a 2ª Guerra Mundial só que então o modelo geopolítico, social e económico era outro!

    Abraço

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  8. Antigamente cá faziam-nos engolir que os americanos é que salvavam o mundo, e que depois dos Americanos, só havia desgraça e os "maus" dos comunas Russos, que até comiam crianças, blá, blá,...
    Hoje só pensa assim quem não quer ler nem ver mais nada, leiam na internet, porque a imprensa Ocidental, quase toda ela está controlada, raramente se ouvem notícas que possam deitar abaixo os americanos, e as suas diabruras.
    As entrevistas a ex-colaboradores do regime mafioso-americano, a explicar como deitam abaixo a economia dos países, como fazem os empréstimos sem lá colocar um tostão que não seja em seu proveito próprio! Como depois lhes tiram o tapete, e dum momento para o outro lhes exigem o dinheiro, que estes não podem pagar porque simplesmente não o receberam, e têm que ficar reféns dos EUA, entregando-lhes os seus bens, normalmente petróleo, que é a matéria prima preferida dos "beneméritos".
    Países como nós e outros Europeus temos que aguentar, e pagar com o envio de tropas para suportar as guerras que eles fomentam diáriamente.
    Já lhes dei muito crédito, também houve tempos que acreditei no pai natal. Já não acredito em nada, e nos States, então...

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  9. Querida Carol,

    A coisa agora já nem se pode apelidar de hipocrisia. Está tão na cara de desvergonha que ninguém pode dizer que foi ao engano.
    Antigamente a guerra fria fazia-se para não deixar alastrar o Comunismo.
    Depois para manter os poços de petróleo a produzir para os donos do mundo (USA).
    Agora porque não lhes passam cartão e exigem pagar em Euros deixando o dólar cair em descrédito.
    Eles lutam e cobram a ajuda que deram à Europa, depois da guerra, para levar a água ao seu moinho mas, feliz ou infelizmente já não conseguem enganar ninguém.

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  10. Ontem estive a ouvir uma entrevista de Saramago. Concordo com ele. O problema está na falta de consciência, sem a qual não há valores.

    Obrigada pelas palavras carinhosas. Cá vou...

    Beijo

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  11. Obrigada, Amigos, pelos vossos pensamentos.

    Belíssimo o escrito de Gonçalo M. Tavares (como sempre aliás), transcrito pelo Rui.

    Rosinha, ao que eu te "obrigo" e logo de manhã... Cuidado com as tonturas que as tonteiras são saudáveis...

    Acáciazinha, arriba! arriba!

    Beijinhos para todos.

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