Confesso que ainda não li nenhum livro de Valter Hugo Mãe. Conheço a sua escrita apenas das crónicas que escreve no Jornal de Letras a partir das quais já dá para concluir que se trata de um jovem autor sensível e altamente criativo.
Levada pelo enorme sucesso que foi a sua presença na Festa Literária Internacional de Paraty, no Brasil, e porque aparecia nas bancas um novo romance do autor, mais interessada fiquei em ler a sua crónica sobre o referido romance subordinada ao título "O filho de mil homens - O lado invisível". Gosto sempre muito de ler e de ouvir os escritores a falarem sobre o ato da criação; dá-me a impressão de poder olhar a obra - e o próprio artista - por dentro e isso eu acho muito íntimo, muito poético.
A crónica é assim como que uma confissão do autor sobre ele próprio, sobre o milagre de ter chegado aos 40 anos - idade que ele deixa prever tratar-se da entrada na idade adulta propriamente dita - quando pensava morrer bastante mais cedo, marca deixada pelo que um professor lhe disse nos tempos do liceu.Escreve ele logo de inicio:
«Foi um professor de Religião e Moral, nos meus tempos de liceu e de fortes crenças na transcendência, que me disse, de mauzinho, que eu tinha um semblante muito triste e que provavelmente haveria de morrer cedo. Eu sempre vivi com a convicção de que a tristeza abrevia tudo, mas também é certo que os tristes podem perdurar como frutos secos, tão enrodilhados quanto mudando para outro modo de ser, como eternos. Naquela altura, por causa de acreditar em sinais e juízos de pessoas supostamente com sabedorias divinas, pensei que nascera para ser apenas triste, encurralado já tão cedo, até morrer sem mais.»
Consternação foi o que senti contra aquele professor (padre, ainda por cima) e voltou a vir-me à cabeça o mal que nós professores podemos fazer às crianças e aos adolescentes com algumas saídas infelizes, palavras impensadas, profecias imponderadas. Neste caso pior porque, dizer do escritor, o professor fê-lo "de mauzinho" - e nós sabemos que há muitos que o fazem...
A Livraria Arquivo, nas suas habituais sessões de conversa com escritores, trouxe hoje a Leiria, ao fim da tarde, Valter Hugo Mãe para apresentar e falar sobre o seu novo romance. Foi uma conversa simpática e agradável e absolutamente despretensiosa com uma pessoa sorridente, simples e extremamente sensível que trata as personagens que cria como pessoas livres e autónomas com cujas desgraças e formas de ser chora, chora imenso enquanto as vai escrevendo... É este falar sobre o ato de criação, esta metalinguagem, que me encanta.
Lá vou ter de "dar o golpe" na pilha de livros em espera para ler antes "O filho de mil homens"...
Estava na "minha agenda" deslocar-me à Livraria Arquivo mas, uma indisposição da Any "obrigou-me" a ficar por casa.
ResponderEliminarPerdi a apresentação... creio ter ganho a paciente.
:)
E ainda bem. Que essa é uma paciente muito especial... As melhoras.
ResponderEliminarQuerida Carol, deixaste-me a pensar... talvez tenha dito alguma vez, algo a algum aluno que o tenha marcado negativamente e isso não me agrada!
ResponderEliminarOlha... estás uma giraça, nas fotos!
Um "jovem" que merece ser lido...Podes achar estranho mas revejo nele qualquer coisa de Mario de Sá cCrneiro...
ResponderEliminarNunca li nada dele.
ResponderEliminarNão me surpreende essa atitude mázinha do padre professor.
A igreja católica é perita em culpabilização e exaltação do sofrimento alheio!!
Dorme bem.
Castrações! Quanto fazemos isso! Soberanos nos achamos, nós os educadores e postamo-nos de senhores da verdade! Fundamentalistas horrorosos seja lá de que classe profissional ou vocacional sejam! Abraço, Célia.
ResponderEliminarSaí do clube de leitura, ali ao lado, por volta das 5 h, tinha outros compromissos mas fiquei com pena!
ResponderEliminarConheci-o através do "Apocalipse dos Trabalhadores" e gostei, se depois o quiseres ler é só dizer. :-))( até rima)
Abraço
Como Rosa dos Ventos, também conheci o autor através de "Apocalipse dos Trabalhadores", no mesmo Clube de Leitura. Na altura, não gostava de maiúscula. Uma irreverência da juventude, digo eu :). Tive pena, mas a Freguesia de Marrazes não se compadeceu e faltei ao evento. Ainda bem que foste. Que boa notícia! Bem-haja
ResponderEliminarQue maldade amiga, um Prof. de Religião e Moral, ainda por cima padre, fazer uma profecia daquelas a um garoto!
ResponderEliminarFelizmente que há gente guerreira que não se deixa abater e faz desse mau presságio um forte motivo de inspiração.
Quero dizer que estás linda nas fotos
Chuac!
Carol
ResponderEliminarNão sabia, afinal estou tão perto de Leiria.
Que bom ver tua foto, é que vou tanta vez a Leiria que se te vir já não me escapas.
Beijinho e uma flor
Como forma de o erro não se prolongar, achei por bem (desculpa Gracinha) esclarecer que o senhora que aparece nas fotos não é a Carol. Correr-se-ia o risco, a meu ver de, por exemplo, a Flor de Jasmim, abraçar na rua a Odete, convencida de que era a Carol...
ResponderEliminarObrigada Rocha, pelo esclarecimento. De facto aquela senhora a quem o VHM está a dar o autógrafo não sou eu, nem a conheço. Tirei a fotografia à situação. Peço desculpa pela confusão que estabeleci. (vejo que o meu querido amigo recém operado ao coração está em franca recuperação - já vem até ao computador! Ainda bem. Boa continuação, Rocha!)
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