sábado, 15 de outubro de 2011

Mais por menos...




O ministro Nuno (c)Rato – aquele do Eduquês, lembram-se? – com a mania das matemáticas vem agora com a falaciosa máxima de se fazer “mais com menos” – ou pensa que os outros são burros ou lá se acha com poderes mágicos – e então quer cortar no desenho curricular dos alunos do ensino básico (e no número de professores necessários por escola), dizendo que vai proceder à “reforma curricular” para acabar com a “dispersão curricular”.

Lá ter terminado com os espaços curriculares de Área de Projeto e de Estudo Acompanhado para dar mais carga curricular às disciplinas de Língua Portuguesa e Matemática ainda se compreendeu já que aqueles espaços curriculares criados pela reorganização de 2001 estavam demasiado gastos juntos dos alunos e até dos professores, e o reforço de disciplinas básicas e nucleares como são a LP e a Matemática era há muito desejado por professores e pais. No entanto, estas medidas criaram só por si um decréscimo do número de horários requisitados. A escola, porém, serve para ensinar/educar os alunos e não para criar horários para os professores. Até aqui entende-se.

Agora cortar cegamente nas disciplinas que o senhor ministro (c)Rato chama de “não estruturantes” já não me parece que seja para melhorar o currículo dos alunos. Senão vejamos:

1. Cortar nas horas do Desporto Escolar num país que já está a braços com problemas de obesidade infantil não parece traga qualquer vantagem para os alunos;

2. Reduzir o número de horas semanais na História e na Geografia, disciplinas que já foram tão compactadas com a reorganização curricular de 2001, não vai dar para que os alunos saibam sequer quem foi o primeiro rei de Portugal ou para que lado estão virados ao descortinarem nos céus a Estrela Polar;

3. Acabar com a obrigatoriedade do estudo de uma segunda língua estrangeira num país que quase vive do turismo, num continente sem fronteiras e com um povo que tem uma imensa facilidade para falar outra línguas parece, no mínimo, castrador. De recordar a péssima experiência da aprendizagem de uma só língua estrangeira logo após a revolução de Abril que, como a primeira língua estrangeira que se estudava era por tradição e obrigação o francês, fez com que uma larga fatia de pessoas nunca tivesse estudado o inglês na escola. Nesse tempo, porém, o problema que se punha era a falta de professores habilitados para lecionarem essas disciplinas, que não é o caso atualmente.

4. Terminar com o par pedagógico na disciplina de EVT também não traz nada a favor dos alunos já que fazer aulas práticas de várias áreas em turmas de 28 miúdos de dez / doze anos com um professor apenas, desculpem-me a frase corriqueira mas o/a pobrezinho/a vai andar num verdadeiro virote se mais não for para ao menos evitar que um dos garotos espete a tesoura ou o xis-acto num dedo ou, pior ainda, no braço do parceiro...

Os miúdos passam muito tempo na escola? Passam sim senhor! No nosso tempo nós tínhamos muito menos carga horária e aprendemos? Assim era de facto! Mas não nos esqueçamos que no nosso tempo (nem é bom lembrar!) só ia para a escola “a nata”, o ensino era oratório e de cima para baixo, os alunos portavam-se bem porque tinham medo dos pais e dos professores, etc. etc. etc. – nada do que acontece hoje em dia. Além disso, não precisávamos de passar o dia na escola porque tínhamos sempre gente em casa com quem estar, o que não acontece hoje, nem por sombras!

Por estes e muitos outros motivos que não cabe expor num espaço como este, não venha o senhor ministro acenar com a ideia de que vai fazer mais com menos porque nós não acreditamos.

Acreditamos sim que o senhor ministro Nuno (c)Rato quer livrar-se de muita despesa despedindo muito professor! Essa sim é a razão principal e única!

Nessa altura que eu sinceramente não queria que chegasse, estou para ver se os professores vão sair para as ruas aos milhares e se vão programar para vestir de luto como fizeram quando apenas os obrigaram a ser avaliados como todo o comum dos mortais.

17 comentários:

  1. Ótimo texto, Carol!
    Não sou economista nem sou boa em orçamentos, mas quando cortam na educação e na saúde o problema não é grave. É gravíssimo! A educação é o alicerce de um país desenvolvido, um país que quer progredir.
    Ao fim e ao cabo parece que todos os dirigentes deixam muito a desejar. É preciso ter azar. Haverá algum ministério que esteja no trajeto certo?

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  2. Sem educação, sem futuro!!!!!
    Obrigada pela visitinha no meu blog... sim o brasil é lindo e foi ótimo estar em maceió!!!

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  3. Carol: A m.... do estudo acompanhado não acabou no 2º ciclo
    No final de contas acabaram com o que tinha menos inutilidade,a AP...A Fc...e o EA lá continuam e as aulas de substituição...
    Um dia destes a falar on-line com uma indígena da Holanda,esta julgou que eu estava a brincar quando lhe disse que tinha faltado ( a uma aula de Ev)e esta tinha sido dada por uma professora de Geografia.
    E acho que acabou por julgar que eu estava a fazer pouco dela...
    Até nem os americanos acreditam...LOL

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  4. É verdade...o f....ng Easter Bunny lixou-me ao quadrado...
    LOL
    Não tem piada nenhuma...

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  5. Estamos na era do corte.

    Já vivemos a da tesoura posta na salva para cortar a fita.

    Agora usam as facas dos matadouros do antigamente. Primeiro fizeram apenas alguns golpes superficiais; agora, vão-no-las espetando cada vez mais profundamente enquanto nos olham macabros e sádicos.

    Em Setembro, eu andei pessimista e derrotada porque estava com horário zero e não fora colocada. Agora estou em substituição não sei até quando...

    Uma certeza tenho. Um dia destes mandam-me um mail informando-me que estou despedida.

    Só um país de acéfalos governantes pode ter tais resoluções, que convêm para que, mais inculto e ignorante, o povo não conteste.

    Bom domingo!

    Beijo

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  6. Eu faço a mesma pergunta que a Catarina: Haverá algum ministério que faça alguma coisa de jeito?

    Um óptimo Domingo.

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  7. É claro que anda TUDO a reboque da economia e das fi(n)anças públicas...Agora é a doer, a CORTAR (para alguns)! Mas,com ou sem cortes, a verdade é que o estado do ensino é, de há anos, deplorável. Uma coisa é ter ensino com qualidade, outra, em quantidade...
    Quanto à questão da avaliação, é clara a sua utilidade; o que me pareceria bem é que fossem igualmente sujeitos a avaliação do desempenho outros funcionários, logo a começar pelos também professores, mas universitários, os médicos e enfermeiros e ainda os juízes... ou já serão?!...A saúde do ensino pode não estar muito bem, mas justo me parece dizer que esse estado reflecte em grande parte as sucessivas políticas a que tem sido sujeito...
    Os continuados ataques que levaram à falência destes três pilares fundamentais da Sociedade -Justiça,Saúde e Ensino- são porventura a causa da caótica situação actual.
    Mas pior ainda é não passarem os políticos de paus mandados do capital.
    Bom Domingo, Carol!
    Eu cá vou tentando fazer omeletes sem ovos, que, com apenas um ovo, há já quem faça para uma casa de família, se há!...
    Bjinho.
    O.

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  8. Querida Carol, bom texto, amiga!
    Neste momento o que interessa é a economia, e isso implica despedir professores, para assim se pagarem menos salários. Não me venham cá com teorias de mais com menos e disciplinas não estruturantes.
    Estou farta de demagogias, estou farta de me tentarem atirar areia para os olhos.
    Os alunos, só necessitam das disciplinas de L. Portuguesa e Matemática? Pois muito bem!
    Os conteúdos das outras disciplinas, não interessam nada? OK!
    Só quero saber é como os alunos vão aguentar nas escolas, o dia inteiro (porque os E.Ed., não os vão querer em casa, parte do dia!!)com as reduções previstas?

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  9. Citando Mia Couto: «Problema é deixar este escuro entrar na cabeça da gente»

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  10. Uma autêntica anedota este ministro!
    Dizer que há disciplinas não estruturantes é uma barbaridade quando todos sabemos que todos os saberes são importantes para a educação e formação do corpo e do espírito!
    Claro que este novo desenho curricular a ser implementado, se o for, não o será nos colégios privados que terão a liberdade de elaborar o seu "projecto educativo" de acordo com as elites que pagam altas mensalidades para os meninos e meninas se transformarem nos futuros dirigentes políticos e económicos do país!
    Lá voltaremos à nata mais "pura", a do dinheiro!
    Dá nojo! :-((
    Também já me interroguei sobre a última parte do comentário da Turista...não só por não quererem mas sobretudo porque não está ninguém em casa para lhes abrir a porta!

    Abraço

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  11. Por andarem a fazer experiências com a Escola, é que naquela espécie de programa de televisão, que a TVI tem com aqueles iletrados, e burros da "Casa dos Segredos", foi perguntado a uma concorrente:
    -Diga nomes de países da América do Sul?
    -Ela primeiro, disse que não sabia, depois atirou para o ar;
    - Será, África?!
    O que é esta gente anda ou andou a fazer na escola?
    O que é que se ensina afinal?

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  12. Muito bem argumentado. E gosto de honestidade que colocas na argumentação. Consegues perspectivar de forma global...Coisa rara:)


    Em matemática mais com menos...dá menos:)

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  13. Não se permita entristecer,
    por nada nesse Domingo.
    Mostre a todos o valor do seu sorriso
    aproveite esse Dia para ser feliz
    Faça chuva ou Sol estarei sempre aqui para dizer
    que te amo.
    Um lindo e feliz Domingo.
    Beijos no coração.
    Evanir

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  14. Carol
    É uma vergonha, estamos a ser tratados como lixo.
    Beijinho e uma flor

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  15. Ola Carol

    Eu sou aluno e não discordo de todas as medidas...


    O desporto escolar é mais uma exigência das escolas que outra coisa... Andei algum tempo e so nos pressionavam para prestigiar a escola onde andávamos...

    Penso que se há problemas com obesidade, a culpa em parte é dos pais que gostam de mimar os filhos e alguns habituaram-nos mal...


    Só fui 3 vezes ao MCdonald's mas tive colegas de turma que iam lá todos os dias porque os papás davam dinheiro e autorização para os meninos irem la...

    Claro que poderiam não engordar mas um pelo menos ficou com colesterol e diabetes... Chegou ao ponto de ser internado... O que era bom era a comida de plástico...

    Os professores de educação fisica estão-se a barimbar para os alunos com problemas de saude como os meus...
    Nem todos...

    Dos 8 que tive apenas 2 respeitaram.

    Tenho problemas cardíacos degenerativos e escolioses torácica e lombar...
    Ainda a semana passada a minha professora obrigou-me a fazer 30 flexões seguidas.. E quando me queixei das dores de costas ela ainda gozou cmg!!!

    Se nos queixar-mos vingam-se.. Portanto professores que não se queixem porque é bonito irem para a TV dizerem que os alunos são uns revoltados e que não querem fazer nada... Quando há imensas injustiças e têm que se calar bem calados, caso contrario as medias descem. Eu falo porque já fui vitima e já vi muito a ser feito contra colegas meus!

    Infelizmente é o pais que temos... Uma escola é como que um mini Portugal..

    Desde corrupção, queixam que dão a lado algum... Há de tudo...
    Existem alunos com imensa vontade de aprender.

    Desculpe o longo comentário Carol


    Um bjinho

    Flávio

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  16. Obrigada, amigos - professores, pais e aluno - pelas vossas ideias. Todos concordam que cortar na educação e na saúde não pode dar bom resultado - vamos pagá-las e bem!

    É isso, M! Menos por mais dá menos em matemática, mas o senhor ministro diz que não e é doutor em Matemática...

    Caro Donatien, havíamos de conversar sobre todos esses assuntos da escola a tempo inteiro e assim: a colega da Holanda entenderia se se lhe explicasse tudo como deve ser. De facto, as aulas de substituição não deram em nada porque os nossos colegas estavam de birra com a ministra e resolveram resistir.

    Flávio, nunca peça desculpa pelo tamanho dos comentários! Eu gosto imenso que "me" comentem. Eu sei que os alunos têm muita razão de queixa relativamente a muitos professores - há muito a mudar na atitude de grande parte dos professores! Há que ter calma, que as coisas têm de mudar, levam é muito tempo...

    Beijinhos a todos.

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  17. Muito bom este texto! mas pela parte que me toca ando tão farta tão saturada que já nem tenho forças para me manifestar, ao fim de tantos anos, e graças ás alterações curriculares de AP, "herdei" mais uma turma, aumentou para 28 todas as turmas, etc...etc...
    Estou tão farta!
    Bjs

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