segunda-feira, 2 de outubro de 2017

O Coelhinho de Jorge Listopad

Foram poucos os textos de Jorge Listopad que li. Limitei-me a alguns textos dos muitos que escreveu para o Jornal de Letras.

Crítica mordaz, ironia fina, grande poder de observação das situações. Linguagem por de mais metafórica e irónica.

Mas o que eu nunca falhava era a leitura do Coelhinho que, infelizmente, há muito deixou de aparecer. 

Tinha este formato.





Leiam outros:

«O coelhinho, com expressão vitoriosa e sem saber bater à porta, invadiu a minha privacidade. Quis censurar a sua entrada de rompante, mas não me deu tempo e gritou: – Hip! Hip! Hurra! O Mundial acabou! Consegui preencher a caderneta toda! Colei 638 cromos de jogadores. Até troquei 3 Ronaldos sem caspa por 1 Cho Young-Hyung da Coreia do Sul e 2 Yacine Bezzac pelo raro Branko Ilic. Acabou! Vitória! E deixou-se cair sobre o sofá. Digo-lhe: Mas o Mundial só agora começou… 
De olhos semi-cerrados, respondeu:

 – Não sou nenhum palerma, não é o futebol que interessa, mas sim os cromos.»

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«O coelhinho muitas vezes fala consigo em voz alta. Foi anteontem que dizia:

 - É pena que não sejamos todos árabes. Vendo bem, não é tanta pena, porque já estamos batizados e prometidos ao nosso céu. Mas é pena porque se fôssemos todos árabes, podíamo-nos encontrar numa grande manifestação, que não se sabe como acaba, não num espaço diminuto como o Largo do Carmo, porém no Rossio ou na Praça da Figueira. Que primeiras páginas em todos os jornais! Caramba!

E assim dizendo, foi direito ao quiosque comprar o Financial Times.»


Jorge Listopad, homem de cultura, escritor, encenador, professor, checo, fixado em Portugal desde 1950, morreu ontem, aos 95 anos "sem dar por isso" - dizem.




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