Foram poucos os textos de Jorge Listopad que li. Limitei-me a alguns textos dos muitos que escreveu para o Jornal de Letras.
Crítica mordaz, ironia fina, grande poder de observação das situações. Linguagem por de mais metafórica e irónica.
Mas o que eu nunca falhava era a leitura do Coelhinho que, infelizmente, há muito deixou de aparecer.
Tinha este formato.
Leiam outros:
«O coelhinho, com expressão vitoriosa e sem saber bater à porta, invadiu a
minha privacidade. Quis censurar a sua entrada de rompante, mas não me deu
tempo e gritou: – Hip! Hip! Hurra! O Mundial acabou! Consegui preencher a
caderneta toda! Colei 638 cromos de jogadores. Até troquei 3 Ronaldos sem caspa
por 1 Cho Young-Hyung da Coreia do Sul e 2 Yacine Bezzac pelo raro Branko Ilic.
Acabou! Vitória! E deixou-se cair sobre o sofá. Digo-lhe: Mas o Mundial só
agora começou…
De olhos semi-cerrados, respondeu:
– Não sou nenhum palerma, não
é o futebol que interessa, mas sim os cromos.»
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«O coelhinho
muitas vezes fala consigo em voz alta. Foi anteontem que dizia:
- É pena que não sejamos todos árabes. Vendo
bem, não é tanta pena, porque já estamos batizados e prometidos ao nosso céu.
Mas é pena porque se fôssemos todos árabes, podíamo-nos encontrar numa grande
manifestação, que não se sabe como acaba, não num espaço diminuto como o Largo
do Carmo, porém no Rossio ou na Praça da Figueira. Que primeiras páginas em
todos os jornais! Caramba!
E assim dizendo,
foi direito ao quiosque comprar o Financial Times.»
Jorge Listopad, homem de cultura, escritor, encenador, professor, checo, fixado em Portugal desde 1950, morreu ontem, aos 95 anos "sem dar por isso" - dizem.
Que descanse em paz.
ResponderEliminarAbraço e uma boa semana
Não conhecia esse coelhinho. E gostei dele. Morrer sem dar por isso deve ser uma bênção.
ResponderEliminarEu também gostava...
EliminarNão conhecia mas não admira que façam sucesso!!!bj
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