quarta-feira, 26 de abril de 2017

Guernica

Passam hoje oitenta anos sobre a carnificina em Guernica, a pequena povoação basca., perpetrada pela Luftwaffe de Hitler, como forma de apoio a Franco na sangrenta Guerra Civil Espanhola.

O massacre que ocorreu a 26 de abril de 1937, durante a Guerra Civil de Espanha, foi visto como um ensaio para os bombardeamentos aéreos da Segunda Guerra Mundial. Foi a primeira vez que uma cidade foi destruída por bombardeamento aéreo.




A partir das quatro horas da tarde, a cada quarto de hora esquadras de aviões nazis e italianos apoiaram a guerra do General Francisco Franco contra a Segunda República espanhola, lançando sobre Guernica bombas incendiárias depois das bombas destrutivas. O ataque destruiu a maior parte da localidade, na época com 5 000 - 7 000 habitantes, causando centenas de vítimas. Foi considerado um ataque terrível na época e usado como propaganda fascista que se foi difundindo por todo o mundo europeu ocidental, nomeadamente em Espanha, depois do General Franco ter chacinado os “Vermelhos”, em Portugal, na Itália e, claro, na Alemanha onde o movimento nasceu.





Não há como não referir o emblemático quadro de Picasso Guernica. Depois da chacina, o pintor de Málaga demorou sete semanas para realizar a sua obra de colossais dimensões. Uma obra onde mostra a dor da população basca e é, ao mesmo tempo, um grito contra todas as guerras.





Aos que apontaram a crueza da obra, Picasso respondeu que “a pintura não serve para decorar apartamentos, é um instrumento de guerra […] contra a brutalidade e o negrume”. E aos pedidos de esclarecimento quanto à simbologia do quadro, que tantas dúvidas e discussões gerou, retorquiu: “Não cabe ao pintor explicar os símbolos, de outro modo, mais valeria que ele os explicitasse por escrito! Quem contempla o quadro deve interpretar os símbolos tal como os entende”.

Diz-me quem já leu que o escritor esapnhol Javier Cercas, já agraciado pelo prémio literário das “Correntes d’Escrita” em 2105, tem escrito – e bem – sobre a Guerra Civil Espanhola. A ler!

O nosso (bem esquecido) poeta Carlos de Oliveira também dá uma particular atenção ao trágico episódio Guernica em «Descrição da Guerra em Guernica», uma composição de dez poemas nos quais o anjo camponês, levado pelo olhar da pintura de Picasso, vai testemunhando e guiando o leitor desde o instante em que casas pegam fogo, trabalhadores rurais são esmagados, aves e gado são mortos, além do sofrimento daqueles que encontram sem vida os seus entes queridos. 

Deixo aqui o primeiro dos poemas.

«Entra pela janela,
o anjo camponês;
com a terceira luz na mão;
minucioso, habituado
aos interiores de cereal,
aos utensílios
que dormem na fuligem;
os seus olhos rurais
não compreendem bem os símbolos
desta colheita: hélices,
motores furiosos;
e estende mais o braço; planta
no ar, como uma árvore,
a chama do candeeiro.»

E o último.

«O incêndio desce;
do canto superior direito;
sobre os sótãos,
 os degraus das escadas
a oscilar;
hélices, vibrações, percutem os alicerces;
e o fogo, veloz agora, fende-os, desmorona
toda a arquitetura;
as paredes áridas desabam
mas o seu desenho sobrevive no ar; sustém-no
a terceira mulher; a última; com os braços
erguidos; com o suor da estrela
tatuada na testa.

(Carlos de Oliveira,1982)

11 comentários:

  1. De manhã lembrei-me desta data. Não que conhecesse as obras que descreve exceptuando, claro está, a pintura de Picasso, da qual, contrariamente ao que leio muitas vezes por aí, gosto imenso.

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  2. É bom que a humanidade não esqueça, estas barbaridades, para que a história se não repita.
    Um abraço

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  3. Datas e exemplos de o Homem não deve esquecer.
    Beijinhos

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  4. Foi um bombardeamento alemão a acrescentar terror a uma guerra civil de extrema crueldade...
    A minha mãe teve uma professora espanhola freira - no colégio do Faial - que escapou porque desmaiou de susto durante o fuzilamento.
    Excelente homenagem, Graça, abrangente, expressiva e tocante.
    Parece que andamos sempre a carpir uma guerra, é uma atrás de outra...
    ~~~ Beijinhos condoídos ~~~

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  5. Muito oportuno o seu post, PARA QUE A MEMÓRIA NÃO ESQUEÇA! E é bom lembrar também que isto aconteceu aqui ao nosso lado!...

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  6. Há que fazer relembrar estas barbaridades para que os novos aprendam e para que os menos novos não o esqueçam. Apesar de ter sido mau de mais!

    A época fascista foi um drama, uma cruel tragédia vivida aqui dentro e tão perto durante tempo de mais no século passado. Muito próxima no tempo e no espaço.

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  7. Amiga Graça, obrigada por este excelente post.
    Conhecia a obra de Picasso, mas desconhecia tanto o poeta como o escritor, que vou pesquisar.
    Acho que algumas memórias andam esquecidas dos efeitos terríveis dum guerra.

    Um beijinho

    O Toque do coração

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  8. É bom que se perpetue a memória na esperança que o homem tenha emenda.
    O que vimos recentemente, um confronto de garotos (EUA e Rússia):
    - a minha bomba é a maior
    - mas a minha é maior do que a tua
    não augura nada de bom.

    Gozemos os dias de temos.

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  9. É bom recordar pra não esquecer e não voltar acontecer!!! Bj

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  10. Olá amiga, boa noite. Navegando na net encontrei seu blog, amei suas postagens e já estou seguido e com certeza voltarei mais vezes aqui.

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