Estas memórias fui buscá-las ao Expresso. 25 de Novembro de 1975. Nunca é de mais recordar. E repisar...
«O 25 de Novembro de 1975 foi reduzido por quase todos os
comentadores ao confronto entre democracia ocidental e totalitarismo soviético.
Duas semanas antes, Mário Soares e Álvaro Cunhal tinham protagonizado o famoso
debate na RTP do «Olhe que não, doutor...». Henry Kissinger, secretário de
Estado de Nixon, tinha visto em Soares e em Cunhal émulos de Kerenski e de
Lenine e previsto para Portugal o mesmo desfecho de 1917, na Rússia. Mas era,
de facto, isso que estava em causa?
Entre 1974 e 1975 viveu-se um dos períodos mais ricos
e agitados da História portuguesa recente. Um regime que parecia eterno caiu
num só dia. Sem censura, sem polícia política e sem guerra colonial, o mundo
parecia ao alcance da mão. (...)
Cercado no Quartel do Carmo, a 25 de Abril de 1974, Marcello
Caetano chamara Spínola «para o poder não cair na rua».
Um ano depois, os partidos não se entendiam. O Presidente da República, não eleito, era um polo de conspiração. Estava assinado um pacto entre o Movimento das Forças Armadas e os partidos. O Conselho da Revolução tutelava a produção legislativa. Nos círculos militares vivia-se um delicado equilíbrio. A Igreja virava à direita e amotinava o campo contra o comunismo. Até porque a hiperpolitizada vida de Lisboa aparecia como um universo estranho às populações rurais, cujo quotidiano pouco mudara com o 25 de Abril. (...)
Um ano depois, os partidos não se entendiam. O Presidente da República, não eleito, era um polo de conspiração. Estava assinado um pacto entre o Movimento das Forças Armadas e os partidos. O Conselho da Revolução tutelava a produção legislativa. Nos círculos militares vivia-se um delicado equilíbrio. A Igreja virava à direita e amotinava o campo contra o comunismo. Até porque a hiperpolitizada vida de Lisboa aparecia como um universo estranho às populações rurais, cujo quotidiano pouco mudara com o 25 de Abril. (...)
No final do Verão Quente de 1975, os sectores básicos da
economia estavam nacionalizados. Lisboa tinha, semana sim, semana não, grandes
manifestações de moradores, trabalhadores, estudantes e soldados, às quais
delegações da extrema-esquerda europeia davam um toque cosmopolita. No Norte
havia bombas e arruaças contra as sedes do PCP e partidos mais à esquerda. Lá
se dizia que Portugal só começava de Rio Maior para norte e que para baixo «era
Moscovo». (...)
Já Mário Soares tinha a apoiá-lo na famosa manifestação da
Fonte Luminosa radicais da extrema-direita com quem não se sentaria à mesa. Os
diversos poderes político-militares viviam um equilíbrio instável que não iria
durar sempre. E a tentação totalitária não estava só do lado da esquerda. O
revanchismo dos derrotados do 25 de Abril sonhava com um Pinochet português e o
Estádio da Luz cheio de «comunas» para fuzilar...
Ao fim do dia 25 de Novembro de 1975, quando as forças afectas
ao VI Governo Provisório neutralizaram as unidades militares contestatárias,
houve choro e ranger de dentes dos dois lados. Mais à esquerda acusava-se o PCP
de traição por não ter apoiado a resistência nas ruas. No extremo oposto do espectro
amaldiçoava-se o major Melo Antunes quando este apareceu na TV a vincar que o
PCP era indispensável à construção da democracia.
A 30 de Novembro, escrevia-se em «Le Monde»: «A revolução
romântica, à 'Couraçado Potemkine', que há um ano incomodava a Europa e
inquietava Washington, dissipou-se em 48 horas como uma nuvem de fumo. Alguma
vez teria sido outra coisa?»
os intelectuais de esquerda de França sonhavam com o que aconteceu em Portugal porque para eles era um sonho que não concretizavam: revolução, autogestão, socialismo, comunismo, nacionalizações, fim da exploração do homem pelo homem, tudo isso a acontecer em Portugal de um dia para o outro ?! E eles que faziam propaganda de esquerda desde os anos '30 com o "Front Populaire" mas que nunca tinham ido tão longe!
ResponderEliminarfoi realmente uma surpresa das grandes!
felizmente não tínhamos petróleo e a guerra civil não pegou! foi para outros lados...
uma página da história de Portugal sempre a relembrar
boa noite Graça
Angela
Obrigada, Ângela, pelo seu ponto de vista "francês".
EliminarBeijinho.
E quantos 25 de Novembro
ResponderEliminarforam verão adentro
acontecendo?
http://videos.sapo.pt/ngaK7yWqEA7aQEevVw2s
Todos os anos passa mais um...
EliminarRecordo-me perfeitamente da declaração do major Melo Antunes.
ResponderEliminarO apaziguamento do 25 de Novembro criou uma nova ordem de poder acabando com a revolução.
Decorridos mais de 40 anos, em que ponto nos encontramos? Democracia ou ditadura financeira. A chamada globalização e democratização da informação (sem filtros) estão a pôr o mundo em cacos? Ou é o caminho do progresso, da evolução da humanidade?
E no horizonte parece estar a formar-se uma tempestade medonha - uma nova versão da ordem mundial. Sabemos que isso tem sempre associada a confrontação bélica...
BFS.
Ditadura financeira em Portugal e pelo mundo fora. Os vendilhões do Templo...
EliminarDamos voltas e voltas e eu sinto que para muitos...continua tudo igual!
ResponderEliminarObrigada pela partilha e bom domingo
Só os ignorantes e os cegos que não querem ver acham que continua tudo igual, Gracinha...
EliminarBeijinho.
Um dia que jamais esquecerei, meu marido estava no RAL1 ou seja RALIS.
ResponderEliminarObrigado pela partilha.
Beijinhos
Faço ideia o medo que tiveste... Já passou, mas dificilmente se consegue esquecer.
EliminarBeijinho.
Querida Gracinhamiga
ResponderEliminarHoje venho roubar-te espaço e tempo mesmo sem tua permissão; é que eu vivi por dentro o 25 de Novembro, como jornalista do "Jornal Novo". E orgulho-me de o ter feito em nome do jornalismo, da verdade, da democracia, da liberdade e do socialismo democrático.
Resumo em poucas linhas: os jornais e os outros órgãos de comunicação ficaram proibidos (até Rio Maior) na sequência da intervenção do capitão Duran Clemente na RTP que aliás foi interrompida.
O pessoal do "Jornal Novo" foi para Coimbra para ali fazer o quotidiano; só eu fiquei em Lisboa para assegurar o que era possível... reportar. O Manuel Ricardo Ferreira que estivera comigo em Angola ficou para teclar.
Fiz vários exclusivos: entrei no Regimento de Comandos na Amadora (fui o único a fazê-lo porque pensaram que eu ia receber farda e arma, pois fora a minha unidade militar, o RI1, o Regimento de Infantaria 1... Ali conheci Ramalho Eanes, de quem obtive uma pequena declaração - também a única -o comandante da unidade, Jaime Neves que me mandou prender, mas fui safo pelo meu amigo major Lobato de Faria, que depois segui a curta distância até ao COPCON onde ele "deteve" o Otelo, numa cena caricata que um dia contarei...)
Ainda estive na calçada da Ajuda durante os confrontos de que resultaram dois mortos e onde consegui falar com o "Major" Tomé, outro bom amigo (eu tinha estado como oficial miliciano cinco anos no serviço militar obrigatório por causa da política... daí conhecer tantos militares) a quem saquei umas quantas declarações.
E finalmente na Cova da Moura consegui falar com o general Costa Gomes. Tudo isto com muitas peripécias que talvez um dia conte por escrito, pois já as contei em palestras diversas...
E quanto ao "meu" 25 de Novembro é tudo...
Bjs da Raquel e qjs do Henrique o Leãozão
PS - Fica para outro dia as armas "do" Edmundo Pedro cgada em que também participei, bem como a assembleia do MFA em Tancos, mais uma "alhada" em que andei metido... Gostava de ler a tua opinião... e de outros leitores e comentadores. Obrigado
Belo depoimento, Henriquamigo. Bela partilha. Obrigada.
EliminarBeijinhos gratos.
A VELHA E O CÃO
ResponderEliminarUma pausa na Saga da Alzira porque acabo de publicar um post diferente – sem ironia, sem galhofa, a atirar para o drama. Por isso, gostaria dos comentários naturalmente também diferentes. Muito obrigado. Como habitualmente a publicação é anunciada blogue a blogue; e o pedido de divulgação, também se agradece.
Qjs e/ou abçs Henrique, o Leãozão
Lá irei...
Eliminar41 anos depois,cumpriram-se as palavras de Melo Antunes: o PCP faz
ResponderEliminarfalta à democracia portuguesa.
Vale mais tarde que nunca, amigo Irlando...
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