sexta-feira, 19 de agosto de 2016

Entrevistas de Verão

Não gosto de ler entrevistas. Aborrecem-me. Aborrecem-me se são longas pela dispersão das temáticas. Aborrecem-me se são breves por serem, a maior parte das vezes, áridas ou tontas. Prefiro sempre um bom artigo sobre a pessoa em questão ou um texto escrito pelo próprio acerca do(s) tema(s) que se querem ver tratados. Desse modo, não temos de lidar com as interrupções do entrevistador – que muitas vezes corta o fio do discurso e do pensamento do entrevistado – e com as suas muitas vezes acidentadas mudanças de rumo. Além disso, é frequente os entrevistadores não estarem ou serem bem preparados para a abordagem dos assuntos e até mesmo para a abordagem ao entrevistado.

Abro exceção para algumas entrevistas passadas na revista Ler sobre literatura, grande parte delas traduzidas do inglês ou do francês, e que são feitas por quem sabe muito do tema. Não se espraiam a falar de onde nasceu e de como a infância o/a influenciou na escrita, são verdadeiros artigos sobre literatura.

Isto vem a propósito das entrevistas de verão que o jornal DN tem feito a escritores e pessoas da ciência e da política. Claro que não me ative – e perdoe-se-me a arrogância – a ler num uma linha da entrevista ao “pisca-olho” do Rodrigues dos Santos, mas dei uma vista de olhos pela entrevista à escritora Dulce Maria Cardoso – de quem li e gostei de lei O Retorno – e achei de uma superficialidade incrível.

Pior, ou talvez não, foi ler a entrevista de ontem ao cientista João Magueijo, um físico de caráter algo estilhaçante que trabalha no Imperial College London. O que doeu foi constatar a grandeza de pensamento do cientista (que também tem livros editados fora da ciência embora não dentro da ficção) e a pequenez de espírito do entrevistador. A entrevista pretendeu ser abrangente, sem se ater apenas aos aspetos científicos (em que o entrevistador devia estar a léguas de distância do físico – e isso é o menos) mas que ficou muito aquém nos aspetos políticos (sobre o brexit nomeadamente) e sobre conceitos como a dualidade esquerda/direita que notoriamente “baralhou” o entrevistador. Este não teve a humildade de deixar o cientista transmitir um pouco do seu pensamento – que é o interessante numa entrevista já que é assim que aprendemos e alargamos os nossos horizontes – e, por outro lado, com algumas das suas perguntas “pequeninas” deu azo a que o respondente lhe desse algumas “patadas” e a respostas de que não estaria à espera nem gostaria de ter ouvido.

Se estiverem na disposição de ler a entrevista poderão fazê-lo aqui.

João Magueijo

15 comentários:

  1. Li a entrevista e gostei das respostas.
    Também devo dizer-te que gosto do teu espírito crítico, sabes dos que falas e faze-lo sem papas na língua, directa e frontal...gosto de ti assim.

    Beijinhos Graça

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    1. Obrigada, Manu, pela compreensão e pela tua abertura. Beijinho.

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  2. Desta vez não concordo contigo, Graça e considero entrevista de um profissionalismo exemplar.
    Não cabe ao jornalista ser um cientista, mas estar bem informado, de modo a conduzir a conversação para atingir os propósitos que pretende.
    O entrevistador tinha lido as obras do cientista e sabia muito bem quais seriam as respostas, afirmações que lhe interessavam para traçar o perfil psicológico do entrevistado.
    Nenhum jornalista é obrigado a publicar 'patadas', está escrever e não a gravar. Só o faz se for tolo, qualidade que não qualifica este profissional...
    Beijinhos, Graça.
    ~~~~~~~~~~~~

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    1. Opiniões, Majo. E ainda bem que somos todos diferentes. De facto o entrevistador, que é quem ultimamente faz as críticas e apresentações literárias no DN, tinha conhecimento das obras do cientista e tudo, mas achei as questões fraquinhas, que se há de fazer?

      Mas é como digo: ainda bem que há opiniões diferentes - é da discussão que nasce a luz...

      Beijinhos luminosos...

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  3. Esta é daquelas coisas que mais uma vez prova que os gostos não se discutem. li a entrevista, mas sinceramente não tenho uma opinião definida, talvez porque não achei grande interesse.

    Bom fim de semana Graça.

    Beijinho

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    1. É bem como dizes, querida Flor: gostos não se discutem... e assim é que está bem!

      Beijinhos e bom fim de semana.

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  4. A Graça é demasiado exigente.:)

    E as respostas dependem sempre das perguntas.:)

    Nota: li as duas entrevistas e achei-as normais.

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    1. Se calhar sou, Luís. Mas sempre o fui a começar por mim... (que hei de fazer?... :))

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  5. Fiquei curiosa e também fui ler.
    Gostei da entrevista.
    Não era uma entrevista politica era uma entrevista ao Homem ao escritor....não esperava mais do que li.
    Beijinhos

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  6. AS entrevistas reflectem o actual estado do jornalismo português, penso eu....

    Bom domingo

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  7. Andei isto tudo para trás, porque li este post no sábado, comecei a ler a entrevista e depois lembrei-me que tinha aí um livro de Magueijo ("Bifes mal passados") e resolvi ir espreitar, acabei de o ler já de madrugada e depois de muita risota.

    Obrigada pela sugestão!

    Quanto às entrevistas, não concordo contigo: obviamente não são biografias, têm uma leveza própria, diferente de um resumo biográfico. Mas claro que haverá quem não saiba entrevistar e aí já são outros 5 paus... ;)

    Beijocas

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