terça-feira, 31 de maio de 2016

Quem disser o contrário...

A ler este magnífico livro de Mário de Carvalho: «Quem disser o contrário é porque tem razão – Letras sem Tretas – Guia Prático de Escrita de Ficção»

Já o tinha “cheirado” na livraria quando saiu ainda não há dois anos. E, um dia destes, veio parar-me às mãos na Biblioteca Municipal. Gosto muito do autor, se bem que não de fácil leitura (se calhar por isso é que gosto…). Gosto da sua linguagem, da sua sintaxe complexa mas corretíssima, do vocabulário quase erudito, da sua ironia – mais que tudo.

Parece tratar-se de um compêndio de escrita criativa, como está na moda de há uns anos para cá. Mas não é. Não esperem listas de verificação (à americana) nem conselhos (oh como odeio esta palavra!) ou normas para bem escrever. A ironia, portanto, apresenta-se logo à janela, com o título. «Letras sem Tretas» - atraiu-me especialmente. («Letras são Tretas»!! A vingançazinha pouco criativa dos colegas de Ciências e das Engenharias na cantina da Universidade ressabiadinhos porque se matavam a “empinar” conceitos e a escrever relatórios – à mão, pois claro, que não havia fotocópias, nem computadores… enquanto nós – diziam eles – nada tínhamos para fazer.

Numa breve Nota Prévia, o autor começa por dizer no seu tom mais simples:

«Este livro não é um trabalho académico.

Ao correr da pena, reúne e dá sequência a observações empíricas da experiência da escrita, da memória do autor e de uma ou outra consulta em segunda mão. (…)

O autor não tenciona, nem de longe, nem de perto, atrever-se ao terreno da teorização narratológica e visa muito aquém dos estudos literários. Pretende tão-só, num itinerário vagamundo, desvendar uns poucos caminhos, anotar-lhes as curvas e contracurvas, prevenir dos salteadores e trapaceiros, e indicar algumas razoáveis estalagens.(…)»

Claro que eu, pessoalmente, não tenho a mínima intenção (nem propensão) de me pôr a escrever um livro de ficção, mas estou a ler este Guia Prático de Escrita “a todo o vapor” como se de um romance de aventuras se tratasse…

É um verdadeiro tratado de literatura, de cultura. Mas, mais do que isso, estou a divertir-me imenso! A ironia de Mário de Carvalho não está longe da de Saramago.

12 comentários:

  1. Depois desta crítica literária tão positiva também fiquei com vontade de mergulhar na leitura de algo novo, diferente, inspirador.
    Vou anotar o título para uma próxima aquisição. Já tenho uns quantos. Um dele de um blogger que faz parte da minha lista e, sem se considerar um escritor, já editou dois livros.
    Tem um estilo literário muito sui géneris. Gostei.
    Tive um cheirinho de um e fiquei com vontade de mais.

    O Título deste livro do Mário de Carvalho é bastante apelativo, pela contradição explícita. Se são Letras sem Tretas é disso que eu gosto. De tretas já ando farta!:))

    Beijinhos

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    1. De tretas andamos todos muito fartos, Janita!

      Se leres, vais gostar! Beijinhos.

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  2. Tu que és uma pessoa que não vais em tretas, acredito que tenhas gostado do livro pelo que descreves. Mais um que tenho de comprar.
    Um dia destes já não tenho lugar para tantos, haja tempo para ler.

    Beijos Graça

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    1. Como eu, Manu! Tantos que estão ainda por ler! No quarto, na sala, no corredor...

      Beijinhos

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  3. ~~~
    Sorte tem Mário de Carvalho com a tua critica e divulgação da obra.

    Ninguém pode ficar indiferente! Fiquei muito curiosa e desejosa de o ler, embora não tenha, de todo, o hábito de escrever ficção.

    Que bom é o deleite de uma leitura que nos entusiasma!
    ~~~ Beijinhos.~~~

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    1. Não tenhas dúvida, Majo!
      Tenta que vais achar o máximo!

      Beijinhos

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  4. Gosto muito da escrita do Mário de Carvalho e os livros dele agarram-me do princípio ao fim.
    Já fiz referência a vários livros dele no On the rocks, mas não a este, que não li...

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  5. Mais um comentário fora da margem.
    O gozo do Mário de Carvalho é o meu/nosso gozo.
    Tenho este livrinho, pois.

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  6. Já o li, também. É excelente. :)

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