sábado, 20 de fevereiro de 2016

Para que servem as CPCJ e quejandos?

(do DN)

Zangada que ando com estes (tele)jornais que continuam a fazer de tudo para defender a política liberal de direita que manda na Europa (e que mandou no nosso país durante quatro longuíssimos anos) e para nos fazerem ver que o atual governo vive a prazo, pouco (ou nada) os ouço ou leio pata além do que às artes e às letras (pouco) dizem.

Há notícias, porém, que nos entram pela casa e pelos olhos dentro como é o caso daquela mãe que, em grande sofrimento, entrou pelo rio dentro com as duas filhitas pela mão, em Caxias.

Acerca deste trágico acontecimento, cada um fará o seu juízo que depois verbaliza ou não. Cada um aponta culpas à mãe e/ou ao pai conforme vai lendo o que sai escrito na imprensa ou de acordo com as suas próprias convicções.

Hoje a capa do DN publica um título, no mínimo, escandaloso: Alertas sobre casal de Caxias chegaram a oito entidades públicas. Foram elas: Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV), PSP, Comissão de Proteção de Crianças e Jovens (CPCJ), o Ministério Público (MP), Tribunal de Família e Menores, PJ, Segurança Social e o Hospital Amadora-Sintra.

Que as CPCJ não servem para nada ou para muito pouco, já eu sei há muitos anos pela minha longa experiência à frente da “minha” escola. Lembro-me bem que eram muitos os casos sociais problemáticos, graves, muito graves alguns, em que se debatiam muitos dos nossos alunos e o que era feito? Nada!! Que não tinham meios, que as assistentes sociais da Segurança Social não eram minimamente suficientes (eu diria “eficientes”!), que, que, que… A minha opinião, se não mesmo certeza, era que nada era feito porque a inércia (a burocracia? a lesmice?) era por de mais. E expressei-o por mais de uma vez.

Mas oito organismos públicos que estavam conhecedores da situação e todos a «assobiarem para o lado»?! OITO?! Não passa mesmo a fronteira do judicialmente aceitável? A mim parece-me bem que sim! Uma vergonha! Um crime! Entre tantos.

Lamento dizer que somos, por natureza negligentes, fazemos “o possível”, "damos o nossos máximo", mas raramente nos esforçamos por fazer o impossível; uma natureza do «deixa arder que o meu pai é bombeiro»; «não é comigo, por isso»… E se fosse? E se alguma vez for?

Desculpem-me, mas estou mesmo muito furiosa com esta situação!!


21 comentários:

  1. E tem razão para estar zangada, Graça. No nosso país o trabalho de gabinete é demasiado e, depois, não sobra tempo para tratar das coisas onde é necessário tratá-las. Há a tendência para a sobreposição de competências entre diferentes organismos, comissões.
    Quanto à ideia que expressa no início da crónica... Andava eu a pensar que eram minhocas minhas. O austeritário senhor, proto social-democrata para as necessidades imediatas, está com um tempo de antena bestial. E como o pobo é curto de memória nem dá conta das contradições do dito. Às vezes penso: o homem sofre de amnésia.

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    1. Um país às avessas... um povo muito ... sei lá como. Um verdadeiro sufoco, Agostinho!

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  2. Umberto, Eco
    Antes da sua partida escrevia

    "os jornais não estão feitos para difundir,
    mas para encobrir notícias"

    A primeira página do DN é disso a ilustração

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    1. É isso mesmo, Rogerito! Quanto mais confundirem, melhor! Mais agradam aos chefes - vampiros!

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  3. ~~~
    Fiquei chocada!
    Na minha ingenuidade, penso sempre
    que a segurança da criança é assunto sagrado.

    Como fiquei consternada
    com as primeiras notícias da Casa Pia!
    Não queria acreditar no descaso que o estado
    tinha dado a crianças que lhe tinham sido confiadas!

    Pobres e sem dignidade... Confrangedoramente triste!
    ~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~

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    1. Isso é o que depois vêm dizer à televisão: enchem as bocas imundas com «o superior interesse da criança»

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  4. Se tiverem alguma virtude, só se for a de contribuírem para a diminuição da taxa de desemprego. Aquelas pessoas precisam de ganhar a vida, não é?... nem que seja à custa de nada fazerem pela vida dos outros.
    É esta cambada que dá má fama à restante função pública. :|

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  5. Parece que a burocracia (a.k.a. negligência, ineficiência) não se tem alterada muito nas últimas décadas.

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  6. As Instituições não funcionaram com os sinais que teriam sido dados pela mãe das meninas. É o "deixa andar"; "quem vier atrás que feche a porta"...Para alem da morte das crianças, que é uma grande tragédia, imagine-se quantos milhares de euros se gastaram neste período de buscas pelo corpo da menina. E aqui sim, já se pode gastar dinheiro!

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    1. Não tenha dúvidas! É isso mesmo. Aqui é assim: «casa roubada, trancas à porta» - mesmo sem gostar de usar provérbios...

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  7. Trabalhei numa CPCJ e garanto que as pessoas se interessavam pelos casos.

    Simplesmente, ninguém é capaz de seguir mais de cem casos em simultâneo ( e eu tive colegas nesta situação).

    Há quem não se esforce? Não nego, porque em todas as profissões essas criaturas marcam presença, infelizmente.

    O que mais me dói é o sofrimento das crianças, porque o dos adultos embora o lamente , defendem-se melhor.

    Nunca entendi o motivo porque não existe cruzamento de dados e informações. O que se consegue é por relações pessoais.

    Não se trabalha em rede , não se rentabiliza o pessoal técnico e a legislação em vigor é , além de ineficaz, muito confusa.

    Como é possível que se esteja a seguir uma criança e se a família repentinamente recusar continuar a colaborar com a CPCJ , o processo pára obrigatoriamente?

    Enfim..

    Irrita-me que seja um alarido tremendo cada vez que uma criança morre às mãos de quem a devia amar e proteger, mas que nada resulte daí!

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  8. Ainda: as respostas a nível de espaço físico são muito poucas tanto para mulheres maltratadas como para crianças em risco.

    E depois também existem os casos de pessoas que são ajudadas sistematicamente , mas regressam para junto de quem as maltrata.

    No meu Serviço , houve um caso paradigmático desses e só parou quando finalmente a senhora foi assassinada pelo marido...

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    1. Doloroso, São, e incompreensível!!!

      Entendo a tua revolta, mas olha que aqui nesta terra onde vivo as senhoras assistentes sociais gostam é de estar de rabinho sentado a discutir as blusas «burberries»... Não serão todas, mas...

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  9. Estou muito triste , mas mesmo triste . Custa a acreditar o mal que possa acontecer a uma criança, mais , mal vindo dos pais. Uma criança numa casa , dá uma alegria inimaginável. vIVO LONGE DOS meus netos , MAS QUANDO TENHO O PRAZER DE OS TER POR CÁ , ATÉ REJUVENESÇO ,é uma alegria.Quando alguém amigo aparece com crianças, aquele xi , um beijinho dão-nos vida. As crianças são os futuros homens e mulheres deste mundo ; quanto mais carinho receberem melhor.
    As instituições falham ? Pois falham , deviam sentir-se muito muito mal e devolver os vencimentos.
    Um abraço para todas as crianças e que a estrelinha da sorte as proteja.
    M.A.A.

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    1. Milhões de estrelinhas serão precisas para proteger tantas crianças sofredoras e vilipendiadas por esse mundo fora!! Seres tão indefesos!

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  10. doentio isto tudo!
    dói mesmo tanta ganância pelo espectáculo do "horror"

    beijo

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    1. o espetáculo acima de tudo - um voyeurismo doentio e maldoso.

      Beijinho.

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  11. Um acontecimento do qual não consigo comentar, acredita!

    Aqui na Marinha Grande houve uma senhora que fez mais de 10 queixas contra o marido por maus tratos e ameaças de morte, nada foi feito a não ser quando ele a matou mesmo.

    Não falo de outros por falta de conhecimento próprio, mas sobre a Associação Portuguesa de Apoio à Vítima tenho a dizer que me deixou muito triste um dia que lhes pedi ajuda porque o pai dos meus netos estava dar pancada à minha filha, a APAV deu como resposta para voltar a ligar daì a uma hora, valeu a PSP que retirou a minha filha e netos de casa e levaram-nos para o posto da PSP, quando a APAV aceita o pedido de ajuda desta vez feito pela PSP, a ajuda que davam era esta, repara bem: acolhiam a minha filha e os filhos, mas, cada qual ía para uma associação de idades diferentes. Triste, mas real.

    Beijinho

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  12. E depois ainda vem a Juíza perguntar à vitima porque é que ela demorou tanto a apresentar queixa? (Caso de Bárbara Guimarães) Como se não soubesse que entre a queixa e ajuda a vítima volta para casa e com os problemas duplicados. Enfim, é assustador ver como tudo falha...
    xx

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