sexta-feira, 12 de junho de 2015

Arcaísmos

A menina estava a praticar para o [Cratino] exame de Português da próxima segunda-feira e respondeu à questão de compreensão do texto com duas simples palavras. E eu disse: «Isto não é um telegrama!» Cara de ponto de interrogação. «Um telegrama? O que é isso, um telegrama?»

De facto, a menina nasceu já dentro da época “dourada” dos telemóveis portanto como saber da existência daqueles papéis A5 dobradinhos em três e selados com as palavras – poucas, que se pagava à palavra – que se queria que chegassem rápidas ao destino. E eu expliquei-lhe que quando havia muita urgência em enviar uma mensagem para alguém que vivesse longe se ia ao correio escrever as ditas palavras que depois eram telegrafadas ou telefonadas para o local onde morava o destinatário. Depois alguém do correio de lá ia de bicicleta ou de moto entregar o telegrama com a mensagem a casa da pessoa a quem a mesma era dirigida. Olhos bem abertos de espanto!

E ainda lhe falei dos telefones de antigamente. E ela: «Tinham um disco que se rodava para marcar os números.» E eu que sim, mas antes, nos anos 50, quando eu tinha ainda 7 ou 8 anos, se tínhamos de ligar para outra terra, outra cidade, tínhamos de ligar para as telefonistas e pedir uma chamada interurbana, dizer o número para o qual queríamos falar e depois esperar, por vezes três ou quatro horas, por vezes até mais, para recebermos a chamada da telefonista que nos punha em comunicação com a pessoa com queríamos comunicar e, por vezes, a ligação caía e tínhamos de começar tudo de novo… Cara de quem nem sequer acredita no que estou a dizer…

O outro menino, a propósito das expressões em latim que o Frade de Gil Vicente lançava ao Diabo, dizia: «Nesse tempo a missa era dita em latim.» E eu: «Há 40 e tal anos ainda se dizia a missa em latim. Eu sou desse tempo! Fartei-me de assistir a missas em latim» Olhos arregalados como se eu fosse da era da pedra lascada…

Entretanto hoje a minha neta pediu-me para comprar um brinquedo insignificante e desnecessário que custava um euro. E eu: «Ó Elisa, 200 escudos por esta parvoíce…» E, ato contínuo, ela: «Ó avó, o que é 200 escudos?!»

Realmente são só arcaísmos… Ou sou eu que estou a ficar arcaica…


A propósito, deixo-vos aqui a cançoneta «Un telegrama» apresentada no Festival de Benidorm, em 1959.... 

Outro arcaísmo...




12 comentários:

  1. "Admirável Mundo Novo" quando publicado em 1932, era ficção científica...
    Há umas semanas atrás, numa repartição de finanças, ouvi a funcionária dizer para uma senhora com menos de 60 anos: "Para resolver esse assunto, tem que ir ao portal das finanças". A senhora pede-lhe a morada, para ir lá da parte da tarde...

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    1. Claro! Aliás, considero uma arrogância enorme tudo agora ter de ser tratado nos portais e pela internet. Há muitas pessoas que não têm essa ferramenta e nada as/nos obriga a saber usá-la. Enfim! Um país de ignorantes armado em modernaço...

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  2. Minha querida amiga
    Estou muito grato pela prontidão com que respondeste ao meu apelo.
    Estava deveras preocupado com a ideia de poder contagiar quem me visitasse, com esse hipotético vírus que a Amiga Majo parecia ter detectado.
    Felizmente não passou de falso alarme, verificado por ti e por todas as amigas que, tão gentilmente, comprovaram a minha boa saúde -:)))
    Muito brevemente estarei de regresso e poderei retribuir todas as atenções recebidas.
    Um beijo
    MIGUEL / ÉS A MINHA DEUSA

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  3. ~ Era menina quando me pavoneava, vaidosinha, com saias rodadas, muito armadas pela saia interior de tarlatana, já com mistura da, então, novidade sintética - o ''nylon''.

    ~ Telegrama e telefonista; tinteiro e caneta de tinta permanente; bi e quadri-motores; escudos e tostões; sinaleiros, varinas, pregões... Era, realmente, outro mundo!

    ~ ~ ~ Beijinhos arcaicos. ~ ~ ~
    .

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    1. Eheheheheh, Majo! Também usei desses saiotes para armar as saias de roda.... Somos mesmo arcaicas.....

      Beijinhos

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  4. Minha amiga, é por estes arcaísmos que às vezes me sinto como se tivesse cem anos :)
    Já agora, nunca ouvi esta canção, por onde andaria ? :)

    um beijinho com cheirinho a manjerico ;)

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  5. Para ensinar às crianças o que dantes havia e se perdeu, com a nova Era, cá estamos nós os Avós, Graça!

    Assim como nós também abríamos a boca quando nos contavam coisas de antigamente!!
    Olha, eu fiquei de boca aberta quando a minha Mãe me disse que no tempo da sua avó, as mulheres não usavam cuecas!! Acreditas? Pois, então!!

    Tudo o que hoje se usa amanhá será arcaico!! :))

    Vivam os tempos modernos!

    Beijinhos e bons Santos Populares!

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  6. Uma curiosidade: não me lembro de, quando criança e nem mesmo em adolescente, ter achado estranho alguma coisa, ou seja, algum arcaísmo.
    Talvez porque nesse tempo o tempo (passe o pleonasmo) passando devagar tinha muito tempo para mostrar as "novidades".
    Beijo!

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  7. Em tão pouco tempo tanta coisa mudou... E o telex? Quando eu comecei a trabalhar nos anos 80 ainda se usava o telex para comunicar. :)

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