À partida não gosto das crónicas
de Vasco Pulido Valente. Apesar de ser cultíssimo e de escrever num português
por de mais correto, não me agrada a forma como dispara dardos à esquerda e à
direita sem nunca – ou raramente – apresentar uma opinião, uma forma de ver a
realidade lisa e coerente. Porém – e isso é que me espanta e, de certo modo me
preocupa… – já é a terceira vez em pouco tempo que concordo com ideias seus.
Hoje o meu jornal citava esta
frase sua que encaixa na perfeição naquilo que eu penso e defendo há anos. Diz
assim: «Algumas pessoas descobriram agora
que uma campanha eleitoral decente exigia que se fizesse a história não só do
governo de Sócrates mas também do governo de Passos Coelho. Infelizmente,
ninguém se lembrou ainda que a mais leve compreensão da “crise” tem de começar
muito antes na “pesada herança” (verdadeiramente pesada) que nos legou Salazar.»
E continua: «Além de uma guerra colonial em Angola, Moçambique e Guiné e de um
exército monstruoso, tecnicamente atrasado, a sociedade que Salazar nos legou
(fora meia dúzia de enclaves em Lisboa e no Porto) era uma sociedade arcaica.
De resto, para a esmagadora maioria da população, não havia nada: não havia
saneamento básico ou água corrente; não havia electricidade; não havia
hospitais nem centros de saúde; não havia uma rede escolar decente; não havia
qualquer espécie de segurança social; não havia estradas; não havia
transportes; e, tirando a PIDE e a GNR, não havia polícia.»
Essa “pesada herança” tem realmente
a ver com a extrema pobreza e a inacreditável falta de condições de toda a
espécie em que o povo vivia e cuja superação criou, ao longo dos anos depois da
Revolução, enormes necessidades financeiras. Mas o pior aspeto dessa “pesada herança”
foi é continua a ser a nossa enorme falha na educação e na cultura.
É o sapientíssimo Guilherme de
Oliveira Martins que o diz: «A única
maneira de sairmos da crise financeira é através da inovação e da criatividade.
E a inovação e a criatividade têm a criação artística, a criação cultural, a
investigação científica e a educação como realidades dinâmicas. A aprendizagem
é o fator que distingue um país desenvolvido de um país atrasado. Um país
atrasado é um país que não é capaz de aprender. A realidade cultural é isso.
Pesa-me muito e penaliza-me ver demasiadas vezes os programas políticos que têm
um capitulozinho no fim e dizem 'é cultura'. Parece que alguém se esqueceu e, à
força, lembraram-se que têm de encaixar aquilo ali.»
Por acaso esta espécie de governo
que nos tem atormentado nestes últimos quatro anos e que se prepara para voltar
a «engrolar» os portugueses para que lhes dêem mais quatro anos de opressão e
prepotência não tem a mais básica noção sobre o que atrás ficou dito.
De vez em quando até VPV diz umas coisas certas.
ResponderEliminarSim, de quando em vez....
EliminarDe vez em quando até VPV diz umas coisas certas.
ResponderEliminarUma herança deveras pesada, infelizmente.
ResponderEliminar100 anos de atraso em relação aos países nórdicos, cujos povos luteranos aprenderam a ler para poderem ler a Bíblia. Nos países Católicos e Inquisitoriais, pelo contrário, as pessoas eram desencorajadas para mais facilmente serem dominadas. Por cá e com esta espécie de governo ainda assim se pensa e age...
EliminarO VPV é o último dos diletantes.
ResponderEliminarO que não significa que não seja inteligente e que as suas opiniões não sejam excelentes.
Este é um desses casos.
Beijinhos
Muito inteligente, estudioso e sabedor. Mas enviesado nas suas opiniões. Deveria cingir-se aos seus estudos históricos, quanto a mim.
EliminarBeijinhos
Aqui está um diagnóstico perfeito. Enquanto isso há um senhor que foil apresentar mais uma farsa: o Portugal dos pequeninos. A querer fazer da gente coitadinhos.
ResponderEliminarÉ assim que se erradica a indigência cultural crónica do país?
O mesmo miseribilismo de antanho.... Que gente pequenina esta!
EliminarSim, Portugal teve uma pesada herança, depois do 25 de Abril apareceram
ResponderEliminaralguns políticos com visão de futuro e que fizeram por isso, umas vezes bem,
outras nem tanto...O actual Governo só vê números e nem sempre bem!!!
Preparam-se para enganar o povo(e às tantas vão consegui-lo) e ficar mais
4 anos no poder e se assim for, com muito maior arrogância!!!
E se acontecer isso, eu vou morrer à Irlanda, porque irei para lá de vez.
Bj.
E desejo que se encontre bem.
Irene Alves
Posso ir contigo?!!!!! Mas vai emigrar?! Olhe que isso é «um mito urbano»....
EliminarBeijinhos
A falta de educação, que herança, infelizmente!
ResponderEliminarBeijinho Graça tem um bom feriado.
Obrigada, igualmente. Beijinhos.
Eliminar~ Com a pesada herança ainda por resolver, aderimos ao euro, de boa fé...
ResponderEliminar~ Oliveira Martins afirmou o que temos sublinhado neste espaço: com este
estado educacional e cultural, o país regrediu várias décadas no IDH.
~ PPC continua a rir - nunca tivemos um «prime» tão risonho - e não pára
de destruir... Parece comportamento de alienado.
~~~~ Beijinho. ~~~~~~~~~~~~~~
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Insuportáveis aquelas suas gargalhadas - bem como as dos seus pobres ministros - completamente desajustadas e extemporâneas. Uma enorme falha de maneiras, de educação.
EliminarBom regresso, Majo! Beijinhos