segunda-feira, 8 de junho de 2015

A pesada herança

À partida não gosto das crónicas de Vasco Pulido Valente. Apesar de ser cultíssimo e de escrever num português por de mais correto, não me agrada a forma como dispara dardos à esquerda e à direita sem nunca – ou raramente – apresentar uma opinião, uma forma de ver a realidade lisa e coerente. Porém – e isso é que me espanta e, de certo modo me preocupa… – já é a terceira vez em pouco tempo que concordo com ideias seus.

Hoje o meu jornal citava esta frase sua que encaixa na perfeição naquilo que eu penso e defendo há anos. Diz assim: «Algumas pessoas descobriram agora que uma campanha eleitoral decente exigia que se fizesse a história não só do governo de Sócrates mas também do governo de Passos Coelho. Infelizmente, ninguém se lembrou ainda que a mais leve compreensão da “crise” tem de começar muito antes na “pesada herança” (verdadeiramente pesada) que nos legou Salazar.»

E continua: «Além de uma guerra colonial em Angola, Moçambique e Guiné e de um exército monstruoso, tecnicamente atrasado, a sociedade que Salazar nos legou (fora meia dúzia de enclaves em Lisboa e no Porto) era uma sociedade arcaica. De resto, para a esmagadora maioria da população, não havia nada: não havia saneamento básico ou água corrente; não havia electricidade; não havia hospitais nem centros de saúde; não havia uma rede escolar decente; não havia qualquer espécie de segurança social; não havia estradas; não havia transportes; e, tirando a PIDE e a GNR, não havia polícia

Essa “pesada herança” tem realmente a ver com a extrema pobreza e a inacreditável falta de condições de toda a espécie em que o povo vivia e cuja superação criou, ao longo dos anos depois da Revolução, enormes necessidades financeiras. Mas o pior aspeto dessa “pesada herança” foi é continua a ser a nossa enorme falha na educação e na cultura.

É o sapientíssimo Guilherme de Oliveira Martins que o diz: «A única maneira de sairmos da crise financeira é através da inovação e da criatividade. E a inovação e a criatividade têm a criação artística, a criação cultural, a investigação científica e a educação como realidades dinâmicas. A aprendizagem é o fator que distingue um país desenvolvido de um país atrasado. Um país atrasado é um país que não é capaz de aprender. A realidade cultural é isso. Pesa-me muito e penaliza-me ver demasiadas vezes os programas políticos que têm um capitulozinho no fim e dizem 'é cultura'. Parece que alguém se esqueceu e, à força, lembraram-se que têm de encaixar aquilo ali.»


Por acaso esta espécie de governo que nos tem atormentado nestes últimos quatro anos e que se prepara para voltar a «engrolar» os portugueses para que lhes dêem mais quatro anos de opressão e prepotência não tem a mais básica noção sobre o que atrás ficou dito.

15 comentários:

  1. De vez em quando até VPV diz umas coisas certas.

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  2. De vez em quando até VPV diz umas coisas certas.

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  3. Uma herança deveras pesada, infelizmente.

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    1. 100 anos de atraso em relação aos países nórdicos, cujos povos luteranos aprenderam a ler para poderem ler a Bíblia. Nos países Católicos e Inquisitoriais, pelo contrário, as pessoas eram desencorajadas para mais facilmente serem dominadas. Por cá e com esta espécie de governo ainda assim se pensa e age...

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  4. O VPV é o último dos diletantes.
    O que não significa que não seja inteligente e que as suas opiniões não sejam excelentes.
    Este é um desses casos.
    Beijinhos

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    1. Muito inteligente, estudioso e sabedor. Mas enviesado nas suas opiniões. Deveria cingir-se aos seus estudos históricos, quanto a mim.
      Beijinhos

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  5. Aqui está um diagnóstico perfeito. Enquanto isso há um senhor que foil apresentar mais uma farsa: o Portugal dos pequeninos. A querer fazer da gente coitadinhos.
    É assim que se erradica a indigência cultural crónica do país?

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    1. O mesmo miseribilismo de antanho.... Que gente pequenina esta!

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  6. Sim, Portugal teve uma pesada herança, depois do 25 de Abril apareceram
    alguns políticos com visão de futuro e que fizeram por isso, umas vezes bem,
    outras nem tanto...O actual Governo só vê números e nem sempre bem!!!
    Preparam-se para enganar o povo(e às tantas vão consegui-lo) e ficar mais
    4 anos no poder e se assim for, com muito maior arrogância!!!
    E se acontecer isso, eu vou morrer à Irlanda, porque irei para lá de vez.
    Bj.
    E desejo que se encontre bem.
    Irene Alves

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    1. Posso ir contigo?!!!!! Mas vai emigrar?! Olhe que isso é «um mito urbano»....

      Beijinhos

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  7. A falta de educação, que herança, infelizmente!

    Beijinho Graça tem um bom feriado.

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  8. ~ Com a pesada herança ainda por resolver, aderimos ao euro, de boa fé...

    ~ Oliveira Martins afirmou o que temos sublinhado neste espaço: com este
    estado educacional e cultural, o país regrediu várias décadas no IDH.

    ~ PPC continua a rir - nunca tivemos um «prime» tão risonho - e não pára
    de destruir... Parece comportamento de alienado.

    ~~~~ Beijinho. ~~~~~~~~~~~~~~
    ~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~

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    1. Insuportáveis aquelas suas gargalhadas - bem como as dos seus pobres ministros - completamente desajustadas e extemporâneas. Uma enorme falha de maneiras, de educação.

      Bom regresso, Majo! Beijinhos

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