quarta-feira, 17 de junho de 2015

A formiga e a cigarra

Não sou nada dada a moralismos, nem sequer a moralidades, por isso não sou grande apreciadora de fábulas. Isto decerto porque, para além de me entender muito melhor com a ironia, na minha instrução primária fui – como todas as criancinhas nesse tempo de moralismos clericais – forçada a lê-las e relê-las nos livros de leitura e depois a recontá-las em redações sempre com a obrigação de, à laia de conclusão, retirar e fazer salientar a dita moralidade.

Bom, mas isto tudo para explicar que, não obstante, nos últimos dias o bom do La Fontaine não me tem saído da cabeça com a sua Formiga trabalhadora e a sua Cigarra desmioladamente gastadora. E isto porquê? Por causa do triste caso da dívida da Grécia e do estupidamente chamado grexit.

Quem não se lembra de ouvir o ministro formigo, digo, o ministro Miguel Macedo dizer aí por 2012 que Portugal não podia continuar um país de muitas cigarras e poucas formigas? De facto, o seu desejo foi-se transformando em realidade e, graças ao esforço aturado e gratuito (que se lixem as eleições quem não se lembra também) do “governo” e do seu representante em Belém, atualmente são muitas as formiguinhas, coitadinhas, abençoadas, e poucas a malandras, as desbocadas das cigarras.

O “nosso” primeiro não se cansa de dizer e bradar que Portugal está a salvo de qualquer turbulência e que tem reservas que aguentam qualquer embate (pois não é que temos os cofres cheios?!)

Entretanto a espécie de presidente da República foi para a Bulgária gabar «o bom aluno» que tem sido o seu governo (sabe-se lá a que custo por parte do povo, mas isso também não interessa nada). Disse ele: «O sucesso do programa de ajustamento é o exemplo de política responsável, quando há uma forte vontade política.» E tem o topete de se pôr a «pedir contas a Atenas» e de, armado em bom, lançar papaias deste tipo: «Não podem ser abertas exceções para nenhum país.» E continua: «num espaço tão integrado como a zona euro há regras que não podem deixar de ser respeitadas; o governo de Atenas não pode ignorar a realidade.»

 Isto sim é sinal de grande solidariedade institucional!

Socorro-me uma vez mais de Sérgio Figueiredo – que, repito, gosto de ler – que escrevia há dias: «É francamente difícil de entender a descontração do governo português diante do cenário do grexit grego. Há quase uma satisfação contida no sorriso de Mona Lisa que a nossa ministra das Finanças esboça, quando é confrontada com tal cenário. Lisboa devia ser a primeira a defender uma solução para a Grécia, mas prefere correr para os credores e pagar antes do tempo. Parece que a nossa colossal dívida externa se resolve com prestações antecipadas. Parece que a prioridade é deixar a "alternativa Syriza" sucumbir como prova de que afinal sempre estivemos certos. Parece que não se conhece a lógica implacável dos mercados. Parece que os juros da nossa dívida não voltaram a subir.»

São as belas, solidárias, altruístas, nada vingativas nem rancorosas formiguinhas à portuguesa.

E vem-me à memória aquela canção que diz…


10 comentários:

  1. A ventura dos "cofres cheios" custa-nos dois milhões de euros por dia !!!

    E como tem o reformado de Boliqueime o desplante de ir falar da Grécia num pais terceiro?! No dia em que aquela estafermosa e mesquinha criatura sair de Belém acendo três dúzias de velas à aparecida em Fátima!

    Bons sonhos

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    1. Eu até vou acendê-las lá em Fátima, se for caso disso! E se fosse já amanhã? Então até iria lá a pé!!!

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  2. Não acredito que um possível default grego não se alastre a terceiros.
    As economias estão demasiados interligadas na chamada economia global para isso não acontecer.
    Ainda não default, há uma forte probabilidade, e é ver como se estão a portar as Bolsas.
    Beijinhos

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  3. Esta gente que nos governa são cigarras disfarçadas de formigas. Espero que sejam desmascarados antes de Outubro.

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    1. Não sei, não, Carlos. Este povo é por de mais cego e obtuso recusando-se a ver!

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  4. ~ ~ ~ É evidente que se trata
    de obscena campanha eleitoral, que, pela amostra, entendemos quão abjeta será!

    ~~~~~~ Beijinhos. ~~~~~~
    ~~~~~~~~~~~~~~~~~

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    1. Vai ser do pior!!! O safado do Paulo Rangel, veio hoje no DN, até disse a seguinte heresia: «Se Cristo descesse à terra votaria na esquerda ou na direita?» Manipulação pura e dura, Majo!!

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  5. Eu que ao percebo nada de politica, penso que o P.R. se tivesse um pouco de vergonha na cara, abstinha-se de falar da Grécia, e a fazê-lo, nunca seria como o fez. Mas enfim vergonha, senso de responsabilidade, é coisa que não se pode pedir a um homem que se queixa de ter problemas económicos com a "magra" reforma de 10 000€ num país onde mais mais de um milhão de reformados, não chega aos 300€.
    Um abraço

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    1. Um «palhaço» reles! E não diga nunca que não percebe nada de política! Todos temos a obrigação de fazer um esforço por entendermos o que se passa à nossa volta e que nos afeta!! Isso é política!

      Beijinho.

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