quarta-feira, 13 de maio de 2015

Nascer a 13 de Maio

Tenho um amigo que faz anos hoje, 13 de Maio. Na casa dos oitenta, conheço-o desde o dia em que, vai para 41 anos, me apresentei na “minha” escola aqui em Leiria. Passámos bons e belos momentos na nossa velha escola – a D. Dinis nas instalações do antigo Lyceo Rodrigues Lobo (com a escrita de não sei que acordo ortográfico…) – já que foi ele que, ainda nos loucos e revolucionários idos de 70, me desafiou para aquelas coisas da direção da escola, convidando-me, ou melhor, obrigando-me a ser sua vice-presidente. Um dia, apresentou-se em minha casa (nem sei como a descobriu) com um papel azul na mão e disse-me: «Assina aqui que precisamos de ti para vice-presidente do Conselho Diretivo!» E eu assinei, quase sem saber ler nem escrever…

Depois foi a loucura de dirigir uma escola de prestígio um ano e tal depois de deixar de ter Diretor (daqueles do antigamente) com quem, aliás, nos dávamos e nos demos sempre muito bem! Ficámos todos seis – cinco elementos do Conselho e um amigo do peito que funcionava como assessor – sempre muito amigos e, durante anos, nos juntámos em jantares habituais em que contávamos anedotas e ríamos até às tantas. Numa dessas noites, decidiu que tínhamos de ir roubar maçãs para a quinta do pai nos arredores de Leiria. E lá fomos nós com sacos e tudo para trazer as maçãs “roubadas”. Com tanto azar que fomos “apanhados” não sei bem por quem que se pôs aos tiros para o ar e tivemos de fugir a correr. Como disse acima: loucuras dos idos de 70.

Encontrei-o há dias com a mulher no supermercado – que é onde encontro muitos dos antigos colegas, vejam lá o desconchavo! – e disse-lhe: «Olha que nunca me esqueço do teu dia 13 de Maio!» Riu-se e tratou de me dizer que já fazia oitenta e… e que daí a dias iam os dois fazer uma viagem a Israel e que gostava muito de viver e tinha pena de deixar isto tudo… «É que eu sou uma pessoa serena e gosto desta vida calma da província e tudo. Sou assim de nascença.» – dizia. E, a propósito, contou-me como, no dia em que estava para nascer ali no Vidigal, o pai queria um carro de praça para ir buscar a parteira a Leiria e não encontrava nenhum em parte nenhuma porque era dia da Senhora de Fátima e os carros de praça estavam todos para lá. Por isso o pai teve de ir de burra até Leiria e trazer a parteira na burra e ele esperou serenamente para nascer… Rimo-nos bastante mas lamentei pela pobre mãe…


Anos 30 do século passado, nos subúrbios próximos de uma capital de distrito e era gente de algumas posses… (Vejam só o atraso deste país. Desde tempos imemoriais!)



18 comentários:

  1. ~~ Que leitura tão agradável, Graça!

    ~~ As minhas congratulações pelo aniversário do teu amigo
    e que te proporcione o prazer desses alegres encontros por
    muitos e muitos maios...

    ~~~~ Beijinhos. ~~~~
    ~~~~~~~~~~~~~~~~~

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  2. Gracinhamiga

    ... e sem esquecer o grande Eça que o Zambujal transformou em título Eça agora... na sua obra-mestra "A Cidade e as Serras" há que lembrar o Zé Fernandes que retrata o Jacintinho de Tormes:
    "O meu amigo Jacinto nasceu num palácio, com cento e nove contos de renda em terras de semeadura, de vinhedo, de cortiça e de olival.
    No Alentejo, pela Estremadura, através das duas Beiras, densas sebes ondulando por e vale, muros altos de boa pedra, ribeiras, estradas, delimitavam os campos desta velha família agrícola que já entulhava o grão e plantava cepa em tempos de el-rei D.Dinis. A sua Quinta e casa senhorial de Tormes, no Baixo douro, cobriam uma serra. .."


    Já no tempo d'el rei D. Dinis o País esta atrasado. Passaram-se séculos e a salazarenta criatura esforçou-se por atrasa-lo mais... Porém, depois do 25 de Abril (jugo que sabem o que foi, é e será...) aconteceu o impensável: Cavado, Cuelho e Porta ainda conseguiram a proeza de o atrasar mais e mais...

    Qjs

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    1. Infelizmente assim é! Este povo atrasado votou neles porque gosta de ser atrasado....

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  3. É bom este tipo de encontros, principalmente quando as recordações fazem sentir saudades dos tempos em que existia respeito e camaradagem.
    Que continues por muito tempo a encontrar o teu amigo com a boa disposição de ambos.
    Faz hoje 38 anos fui internada na Clínica da Marinha Grande para a minha filhota mais nova nascer, mas ela fez-me um toma, fez-me estar a soro até ao dia 20 e à noitinha fui transferida para o Bissaya Barreto para fazer cesariana, mais soro até dia 30 à noite, altura em que resolveu nascer de parto normal.

    Beijinho Graça desculpa a extensão, há quem as ponha no cabelo, ou unhas, eu coloco nos comentários :))

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    1. eheheheheheh.... essa das extensões está boa, Adélia!!!
      Mas olha que a tua filha mais nova deve ser de força........ Bolas!!

      Beijinhos para ti e para ela!

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  4. Ainda hoje parece mentira que essas coisas tenham acontecido, Graça.
    E foram tão reais e tão próximas.
    É bom que se vão contando para evitar que apareçam certos saudosismos de gente que se recusa a perceber o óbvio.
    Beijinhos

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    1. Tem toda a razão, Pedro!! Insuportáveis estes saudosismos lusos....
      Beijinhos

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  5. Contar esses factos aos mais novos é uma epopeia, pois os jovens não acreditam que há poucos anos atrás o país era assim.
    Um abraço e parabéns ao seu amigo

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    1. Acontece-me contar episódios destes e outros parecidos aos alunos e eles perguntarem: «Isso foi antes da República?» E eu digo-lhes: «Bolas! Sou velha mas não tanto!» Noção de tempo histórico é coisa que muitos deste jovens não têm nem lhes interessa!
      Beijinho

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  6. "Deus dá o frio conforme a roupa"...Como seria hoje recorrer a essa forma de socorro na iminência de um parto? Viver para contar!.
    Cumprimentos,

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    1. Nem quero pensar nisso que me voltam as dores dos partos...
      Cumprimentos.

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  7. Com jeitinho, estes tipos em oito anos fazem o país regressar a esses tempos.

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  8. bons tempos esses!...
    em que os "milagres" aconteciam montados em burra!...
    e Fátima era um corropio de automóveis...

    beijo

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  9. Qualquer local é bom para reencontrar amigos e pôr a conversa em dia, Graça! Gostei imenso deste teu texto...da vontade de viver do teu amigo, que aos oitenta já sente pena por não ser mais novo e ainda ter mais para desfrutar da terra onde vive, das viagens e dos amigos.
    O mundo evoluiu, Graça, não foi apenas Portugal. Os burros até estão em vias de extinção...os verdadeiros, porque dos outros, cada vez há mais!

    Só num aparte, o meu filho também está em Telavive, não a fazer turismo, mas a trabalhar. Já regressa amanhã.

    Se não tivéssemos Fátima o corropio seria todo para Lourdes...

    Beijinhos!

    Janita

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