(No dia em que se celebram os
Autores Portugueses e no ano dos cem anos de Orpheu, não podia deixar de aqui
chamar os grandes autores da Revista que, em 1915, foi uma verdadeira pedrada
no charco…)
No início de 1915, após ter
passado dois anos no Brasil, Luís Montalvor regressou a Lisboa com a ideia de
criar uma revista luso-brasileira com o título Orpheu. Coincidentemente, Pessoa e Mário de Sá-Carneiro – ao longo
do ano de 1914 e com a colaboração de Alfredo Guisado e Armando
Côrtes-Rodrigues – esboçaram sumários para uma revista literária que se deveria
chamar Lusitânia, ou então Europa. Lusitânia era, aliás, o nome de
uma revista que Pessoa planeava publicar ainda antes de travar conhecimento, em
1912, com Mário de Sá-Carneiro. Juntaram-se as duas iniciativas e, como
Sá-Carneiro pôde financiar o empreendimento (graças ao pai), nasceu Orpheu, que teve dois números,
publicados no final de março de 1915 e no final de junho do mesmo ano. Vários
planos e tentativas, antes e depois do suicídio de Mário de Sá-Carneiro (abril
de 1916), conduziram finalmente à impressão, em julho de 1917, de provas
parciais para um Orpheu 3 que nunca
chegaria a ser completado. Faltava, nomeadamente, a colaboração de Álvaro de
Campos.
Pessoa, José de Almada Negreiros
e outros colaboradores de Orpheu sempre
insistiram no mútuo respeito existente pela individualidade de cada um, e é
certo que não se impunha qualquer linha doutrinária que todos devessem seguir,
mas Pessoa e Sá-Carneiro eram os verdadeiros dirigentes da revista. (…)
Fernando Pessoa e Sá-Carneiro
procuravam surpreender, agitar as mentalidades, questionar os valores estéticos
consagrados, escandalizar o bom senso, e não há dúvida que Orpheu representou um momento de rutura e viragem na história da
literatura e cultura portuguesas. A revista e o impulso que ela consubstanciava
tinham, todavia, significados distintos para os vários participantes. No caso
de Fernando Pessoa, Orpheu estava intimamente ligada ao Sensacionismo. (…)
A inclusão de obras em Orpheu – o desenho de José Pacheco na
capa do primeiro número, os quatro hors-textes
de Santa Rita Pintor publicados no segundo e os hors-textes de Amadeo de Souza Cardoso previstos para o terceiro –
recorda-nos que o Sensacionismo tem a ver, antes de mais nada, com as
sensações: o ver, o sentir, o ouvir … Alguns dos seus contemporâneos acusaram Pessoa
de intelectualizar tudo, de ser irremediavelmente cerebral – o que é verdade,
se considerarmos a imaginação como apanágio da inteligência. Com efeito, não
foi com um raciocínio árido e incolor, mas sim com a sua capacidade de sentir
de forma imaginativa e vívida, que o poeta-fingidor logrou escrever obras tão
diversas e cheias de visão, emoção, assombro e silêncio como aquelas que
publicou em Orpheu.
(in “Fernando Pessoa Sobre o Orpheu e o Sensacionismo”; Cabral Martins e
Richard Zenith; 2015: pp 109-112)
AH, O QUE EU GOSTO DOS TEUS TEXTOS VERDES!
ResponderEliminar(e do Fernando Pessoa)
Segundo sei, o Fernando Pessoa embirrava com a cor verde.... Mas eu até sou do Sporting....
EliminarO seu texto é uma lufada de ar fresco , logo pela manhã .
ResponderEliminarM.A.A.
Sempre grata com as suas belas palavras, M.A.A.
EliminarBeijinho
Se não fossemos muitos de nós a lembrar aqueles muitos que povoam a nossa Cultura, pouco se saberia nos meios de comunicação de "massas" que muito pouco ou nada falam dos Grandes deste País. Obrigado Graça por nos recordares "Orpheu" !
ResponderEliminarEu é que agradeço as palavras simpáticas, Ricardo.
EliminarÉ bom recordar determinados factos para que não fiquem
ResponderEliminaresquecidos, como muitos parecem querer.
Gostei de ler o texto deste seu post.
Bj. e bom fim de semana.
Irene Alves
Também acho, Irene. Este é o ano de Orpheu e nem se ouve nada na televisão nem se lê nada nos jornais...
EliminarBeijinho
Óptima maneira de homenagear ...
ResponderEliminarBom serão,Gracinha
:)
EliminarMaravilhosa homenagem.
ResponderEliminarBeijinho Graça, tem um bom domingo.
Beijinhos, Flor!
EliminarUma característica de uma "educadora" mesmo que sempre está atenta à cultura! Ótimo post com excelentes destaques culturais de uma época em que se respirava cultura clássica! Parabéns, Graça!
ResponderEliminarAbraço.
Não podemos nem devemos esquecer os nossos grandes Mestres, Célia.
EliminarObrigada pelas tuas palavras lindas.
Beijinho