Tenho um amigo que faz anos hoje,
13 de Maio. Na casa dos oitenta, conheço-o desde o dia em que, vai para 41
anos, me apresentei na “minha” escola aqui em Leiria. Passámos bons e belos
momentos na nossa velha escola – a D. Dinis nas instalações do antigo Lyceo Rodrigues
Lobo (com a escrita de não sei que acordo ortográfico…) – já que foi ele que,
ainda nos loucos e revolucionários idos de 70, me desafiou para aquelas coisas
da direção da escola, convidando-me, ou melhor, obrigando-me a ser sua
vice-presidente. Um dia, apresentou-se em minha casa (nem sei como a descobriu)
com um papel azul na mão e disse-me: «Assina aqui que precisamos de ti para
vice-presidente do Conselho Diretivo!» E eu assinei, quase sem saber ler nem
escrever…
Depois foi a loucura de dirigir
uma escola de prestígio um ano e tal depois de deixar de ter Diretor (daqueles
do antigamente) com quem, aliás, nos dávamos e nos demos sempre muito bem! Ficámos
todos seis – cinco elementos do Conselho e um amigo do peito que funcionava
como assessor – sempre muito amigos e, durante anos, nos juntámos em jantares habituais
em que contávamos anedotas e ríamos até às tantas. Numa dessas noites, decidiu
que tínhamos de ir roubar maçãs para a quinta do pai nos arredores de Leiria. E
lá fomos nós com sacos e tudo para trazer as maçãs “roubadas”. Com tanto azar
que fomos “apanhados” não sei bem por quem que se pôs aos tiros para o ar e
tivemos de fugir a correr. Como disse acima: loucuras dos idos de 70.
Encontrei-o há dias com a mulher no
supermercado – que é onde encontro muitos dos antigos colegas, vejam lá o
desconchavo! – e disse-lhe: «Olha que nunca me esqueço do teu dia 13 de Maio!» Riu-se
e tratou de me dizer que já fazia oitenta e… e que daí a dias iam os dois fazer
uma viagem a Israel e que gostava muito de viver e tinha pena de deixar isto
tudo… «É que eu sou uma pessoa serena e gosto desta vida calma da província e
tudo. Sou assim de nascença.» – dizia. E, a propósito, contou-me como, no dia
em que estava para nascer ali no Vidigal, o pai queria um carro de praça para ir
buscar a parteira a Leiria e não encontrava nenhum em parte nenhuma porque era
dia da Senhora de Fátima e os carros de praça estavam todos para lá. Por isso o
pai teve de ir de burra até Leiria e trazer a parteira na burra e ele esperou
serenamente para nascer… Rimo-nos bastante mas lamentei pela pobre mãe…
Anos 30 do século passado, nos
subúrbios próximos de uma capital de distrito e era gente de algumas posses… (Vejam
só o atraso deste país. Desde tempos imemoriais!)
Oremos!
ResponderEliminarÁmen!!
Eliminar~~ Que leitura tão agradável, Graça!
ResponderEliminar~~ As minhas congratulações pelo aniversário do teu amigo
e que te proporcione o prazer desses alegres encontros por
muitos e muitos maios...
~~~~ Beijinhos. ~~~~
~~~~~~~~~~~~~~~~~
Oxalá!
EliminarBeijinhos
Gracinhamiga
ResponderEliminar... e sem esquecer o grande Eça que o Zambujal transformou em título Eça agora... na sua obra-mestra "A Cidade e as Serras" há que lembrar o Zé Fernandes que retrata o Jacintinho de Tormes:
"O meu amigo Jacinto nasceu num palácio, com cento e nove contos de renda em terras de semeadura, de vinhedo, de cortiça e de olival.
No Alentejo, pela Estremadura, através das duas Beiras, densas sebes ondulando por e vale, muros altos de boa pedra, ribeiras, estradas, delimitavam os campos desta velha família agrícola que já entulhava o grão e plantava cepa em tempos de el-rei D.Dinis. A sua Quinta e casa senhorial de Tormes, no Baixo douro, cobriam uma serra. .."
Já no tempo d'el rei D. Dinis o País esta atrasado. Passaram-se séculos e a salazarenta criatura esforçou-se por atrasa-lo mais... Porém, depois do 25 de Abril (jugo que sabem o que foi, é e será...) aconteceu o impensável: Cavado, Cuelho e Porta ainda conseguiram a proeza de o atrasar mais e mais...
Qjs
Infelizmente assim é! Este povo atrasado votou neles porque gosta de ser atrasado....
EliminarÉ bom este tipo de encontros, principalmente quando as recordações fazem sentir saudades dos tempos em que existia respeito e camaradagem.
ResponderEliminarQue continues por muito tempo a encontrar o teu amigo com a boa disposição de ambos.
Faz hoje 38 anos fui internada na Clínica da Marinha Grande para a minha filhota mais nova nascer, mas ela fez-me um toma, fez-me estar a soro até ao dia 20 e à noitinha fui transferida para o Bissaya Barreto para fazer cesariana, mais soro até dia 30 à noite, altura em que resolveu nascer de parto normal.
Beijinho Graça desculpa a extensão, há quem as ponha no cabelo, ou unhas, eu coloco nos comentários :))
eheheheheheh.... essa das extensões está boa, Adélia!!!
EliminarMas olha que a tua filha mais nova deve ser de força........ Bolas!!
Beijinhos para ti e para ela!
Ainda hoje parece mentira que essas coisas tenham acontecido, Graça.
ResponderEliminarE foram tão reais e tão próximas.
É bom que se vão contando para evitar que apareçam certos saudosismos de gente que se recusa a perceber o óbvio.
Beijinhos
Tem toda a razão, Pedro!! Insuportáveis estes saudosismos lusos....
EliminarBeijinhos
Contar esses factos aos mais novos é uma epopeia, pois os jovens não acreditam que há poucos anos atrás o país era assim.
ResponderEliminarUm abraço e parabéns ao seu amigo
Acontece-me contar episódios destes e outros parecidos aos alunos e eles perguntarem: «Isso foi antes da República?» E eu digo-lhes: «Bolas! Sou velha mas não tanto!» Noção de tempo histórico é coisa que muitos deste jovens não têm nem lhes interessa!
EliminarBeijinho
"Deus dá o frio conforme a roupa"...Como seria hoje recorrer a essa forma de socorro na iminência de um parto? Viver para contar!.
ResponderEliminarCumprimentos,
Nem quero pensar nisso que me voltam as dores dos partos...
EliminarCumprimentos.
Com jeitinho, estes tipos em oito anos fazem o país regressar a esses tempos.
ResponderEliminarNão me admirava! E eles não se importavam nada...
Eliminarbons tempos esses!...
ResponderEliminarem que os "milagres" aconteciam montados em burra!...
e Fátima era um corropio de automóveis...
beijo
Qualquer local é bom para reencontrar amigos e pôr a conversa em dia, Graça! Gostei imenso deste teu texto...da vontade de viver do teu amigo, que aos oitenta já sente pena por não ser mais novo e ainda ter mais para desfrutar da terra onde vive, das viagens e dos amigos.
ResponderEliminarO mundo evoluiu, Graça, não foi apenas Portugal. Os burros até estão em vias de extinção...os verdadeiros, porque dos outros, cada vez há mais!
Só num aparte, o meu filho também está em Telavive, não a fazer turismo, mas a trabalhar. Já regressa amanhã.
Se não tivéssemos Fátima o corropio seria todo para Lourdes...
Beijinhos!
Janita