«Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio,
fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas,
sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes,
a energia dum coice, pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as
moscas; um povo em catalepsia ambulante, não se lembrando nem donde vem, nem
onde está, nem para onde vai; um povo, enfim, que eu adoro, porque sofre e é
bom, e guarda ainda na noite da sua inconsciência como que um lampejo
misterioso da alma nacional, reflexo de astro em silêncio escuro de lagoa
morta.
Uma burguesia, cívica e politicamente corrupta até à medula,
não descriminando já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha, sem carácter,
havendo homens que, honrados na vida íntima, descambam na vida pública em
pantomineiros e sevandijas, capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da
mentira à falsificação, da violência ao roubo, donde provém que na política
portuguesa sucedam, entre a indiferença geral, escândalos monstruosos,
absolutamente inverosímeis no Limoeiro.
Um poder legislativo, esfregão de cozinha do executivo; este
criado de quarto do moderador; e este, finalmente, tornado absoluto pela
abdicação unânime do País.
A justiça ao arbítrio da política, torcendo-lhe a vara ao
ponto de fazer dela saca-rolhas. (...)»
Retrato feito há mais de cem anos por Guerra Junqueiro e, no entanto, tão atual ainda...
Que sufoco!!
:)
ResponderEliminarHouve aqui sabotagem. Tinha acabado de comentar... era mais ou menos assim:
ResponderEliminarOuvi há pouco na SIC Notícias o sermão do primeiro, notando que
1.º os barões e afins estavam felicíssimos com as palavras do chefe, rostos radiosos, sorrisos, palmas (devem estar à espera de aumento ou de um lugarzinho para o filho ou para o neto). até os críticos da política de austeridade da Troika;
2.º o Durão Barroso foi marcar o ponto para não ser preterido nas eleições presidenciais;
3.º o primeiro julga-se imune à kryptonite tal era o tom; para quem não se importava importava com eleições,, não fazia campanha... biografia (de um jovem?) ontem e hoje aquele latim todo...
Valha-nos S, António.
Que paciência a sua para assistir a um espetáculo desses...
EliminarEsses são alguns parágrafos do "Balanço patriótico" com que Guerra Junqueiro termina o livro "Pátria" .Também o tenho!
ResponderEliminarEsse era o tempo da monarquia e, apesar de Junqueiro terminar o livro escrevendo :
(...)
Nessa agudíssima crise nacional a república é mais do que uma simples forma de governo, É o último esforço, a última energia, que uma nação moribunda opõe à morte.
Viva a República! é hoje sinónimo de Viva Portugal!"
Curiosamente, mais de cem anos passados e em plena República 'democrática'...tudo continua igual ou pior!
Mais do que um sufoco, isto é o estrebuchar de uma Nação!
Entretive-me a ler a peça que antecede este 'balanço' e com isto e os actos já é madrugada!
Como escreveu Camões e Junqueiro, no início cita: Esta é a Ditosa Pátria Minha-Amada.
Janita
Boas leituras, Janita!
EliminarJá conhecia este retrato de Guerra Junqueiro.
ResponderEliminarA actualidade do que escreveu é desconcertante.
Beijinhos
Tão actuais estes lamentos e como a todos nós dizem respeito...
ResponderEliminarPerante tamanha verdade de ontem e hoje , calcule-se o sofrimento de quem não pensa nem vive assim....
ResponderEliminarM.A.A.
... e se formos à idade média ou aos antigos clássicos filósofos, o panorama descrito é sempre o mesmo ! No entanto, nunca se encontram textos destes "a dizer bem" !
ResponderEliminar... Estranho ! ... ou talvez não ! o "Homem" (ao longo dos tempos) sempre teve uma necessidade "doentia" de dizer mal (em geral, de tudo e de todos) !
Pessoalmente não valorizo muito este tipo de crítica, sempre fácil e sempre aprovada e apoiada por uma enorme maioria.
Prefiro de longe ler críticas favoráveis (mas quem se atreve ?...) do que críticas desfavoráveis (fáceis) !
... mas se calhar, isso é defeito meu, que tento ser "conciliador" e "compreensivo das coisas" e não "divisionista" e permanentemente "derrotado e revoltado" !
Aprecio e ocupo-me mais com as "coisas boas da vida" ... com o "carpe diem" ! ... mas como disse, isso é "um defeito meu" ! :)))
Grande Abraço ! :)
Não é defeito teu, não, Rui!!
EliminarÉs uma pessoa fantástica e o mundo seria bem melhor se todos pensassem e agissem como tu!
Desculpa lá, Graça, mas vim até cá e ao ler o Rui, apeteceu-me dizer-lhe isto!!
beijinhos.
Janita
"necessidade doentia de dizer mal"??? Ou necessidade de denunciar o que está mesmo muito mal? Sejamos sinceros...
EliminarNasceu há mais de 200 anos. Mas como está atualizado!
ResponderEliminarOlá, Graça.
ResponderEliminarMais um país que tinha tudo para ser maravilhoso e, no entanto, com uma percentagem tão grande de indecentes corruptos que destroem tudo em nome duma ganância tresloucada.
bj amg
É bem verdade.
EliminarAmiga Graça:
ResponderEliminarPorque será que o Poder tudo corrompe ?
Sempre assim foi e assim será, que maçada !
Um beijinho
Fê
Infelizmente assim é...
EliminarNem tanto ao mar, nem tanto à terra é o que penso!
ResponderEliminarMuito do que Guerra Junqueiro escreveu (e outros como Eça), era então verdade e infelizmente continuam a existir muitíssimas semelhanças com a actualidade.
Mal de um povo que não se nega a bem fazer e a fazer bem (ou pelo menos faz o melhor que pode e sabe) e no entanto não é capaz de exigir dos seus governantes atitudes e comportamentos similares.
O tal general romano (?) teve mesmo a "tal" premonição:
-um povo que não se governa e nem se deixa governar?
Beijinhos com sorrisos