Nunca fui pessoa de projetos. Para
mim projetos fazem-nos os arquitetos e mesmo esses falham e são tantas vezes
alterados. Tive sempre a noção de que o futuro é daqui a bocadinho e, daqui a
bocadinho, tudo pode estar virado do avesso. Se calhar porque lá em casa eram
um bocado instáveis e andávamos sempre a mudar de casa e de terra, se calhar
porque aprendi, à força e desde muito nova, a lidar com as mortes repentinas
dos meus mais próximos.
Não suporto a ideia que entrou na
moda há uns tempos, aí pelos anos 90, de que tudo tem de obedecer a um projecto,
até a vida. Essa do projecto de vida é, no meu modesto entender, mais uma daquelas
expressões retóricas falaciosas com que gostam de nos encher a cabeça para que
pensemos que somos um povo tão organizado que até fazemos projetos para a vida.
Foi sempre contrariada que fiz,
na minha profissão, planificações a longo prazo (que raramente cumpríamos por
força de circunstâncias várias que, de um momento para o outro, alteravam
tudo). Depois veio a «moda» dos projetos educativos (e elaborei vários lá para
a “minha” escola! Imaginam-me a estudar e a propagandear a Metodologia de
Projeto? Detestei!) e dos projetos curriculares e mais não sei o quê e o que
mais que, garanto-vos, em nada melhoraram coisa nenhuma no que toca às
aprendizagens dos alunos. Serviram essencialmente para assoberbar os
professores com papelada e para, com essa papelada – quanta mais, melhor! –
encher dossiers para a Inspeção-Geral chegar às escolas e classificá-las de Muito
Bom se tiverem X quilos de papelada bonita e apelativa ou de Suficiente se
tiver apenas alguns gramas da mesma. Pouco interessa se os alunos fizeram
aprendizagens ou não. Interessam os papeis, se possível com muitos gráficos
comparativos…
Mas porque estou eu a falar de escola?
Eu queria apenas dizer que não acredito na “moda” dos projetos porque o futuro
é daqui a bocadinho e, daqui a bocadinho, pode já estar tudo ao contrário.
Tudo isto porque me lembrei
daquela canção – lembro-me tantas vezes! – «Look what they’ve done to my song,
Ma!» A gente pensa que vai ser assim, desta e daquela maneira, como
romanticamente imaginámos a nossa canção e, de repente, sopra um vento
destrambelhado e muda tudo…
Foi em 1969 que a Melanie Safka nos
trouxe essa canção na sua voz arrastada e rouca de cantora folk e, no ano
seguinte, a (malograda) Dalida apresentou-a na versão francesa «Ils ont changé ma chanson».
Vejam qual preferem.
O plano de destruir canções não falha.
ResponderEliminarE o futuro que se projecta
manda que o socialismo não saia da gaveta
Melanie,
gosto mais dela desde que a ouvi
Que socialismo, Rogerito?!....
EliminarSou o exemplo vivo do que acaba de escrever, Graça.
ResponderEliminarQuando é que me passou pela cabeça vir para Macau?
Nunca!
Depois de vir, quando é que imaginei que aqui ia casar e constituir família??
Que disparate!!
Depois de casar e constituir família, ficar em Macau e não regressar à Pátria??
Era o que faltava!!
Et pure.....
Beijinhos, boa semana
Eheheheheh..... como o compreendo, Pedro!!!
EliminarBeijinhos
Bom dia Graça
ResponderEliminarEntre o tudo e o nada existirá sempre alguma coisa.
Penso que devemos sempre ter um projecto,um plano,um desejo...Alguma coisa...
Pessoalmente gosto de saber para onde vou, o que quero, qual o melhor caminho.
Poderei chamar-lhe outras coisas mas terá sempre este sentido de viver.
Claro, amigo Luís, concordo! Só me exaspero contra o exagero de «projetos» que toda a gente inventa por tudo e por nada...
EliminarEu gostava de ter o dom de escrever o que escreve e como escreve...
ResponderEliminarSempre gostei de planificar tudo ou quase tudo...tudo "direitinho " ( sem ser de direita ) , como gosto de dizer , mas esse vento destrambelhado sopra sempre sempre...e se não é de um lado , vem de outro. é tão chocante que , quando digo " gostava que isto ou aquilo fosse assim "....acontece ao contrário...para não ter chatices , deixei de planificar , deixo correr e não me incomodo . ou antes , faço por não me incomodar.
M.A.A.
Querida M.A.A., realmente não mereço a simpatia das suas palavras...
EliminarÉ assim que me sinto também: «faço por não me incomodar»....
Em toda a vida que já vivi (curta por sinal), vivi na ansiedade de realizar os projectos no futuro e agora que olho para trás, não realizei nada do que idealizei porque o que planei para fazer aos 19 já não em apetece fazer...
ResponderEliminarO pior é quando nos continua a apetecer e já não dá para fazer o que se idealizou...
EliminarO futuro ...como ele muda de repente.
ResponderEliminarGosto mais da primeira versão.
O meu beijinho agradecido querida amiga, aos poucos vou-me reerguendo.
Fê
Tem de ser, Fê, querida!! Como de costuma dizer: a vida continua... Como dizem por aí: «quando pensamos que sabemos as respostas todas, a vida muda-nos as perguntas.»
EliminarBeijinhos solidários.
Gostei de recordar a canção.
ResponderEliminarDesta vez , não estamos totalmente de acordo.
Defendi a Pedagogia de Projecto com as devidas cautelas, porque tive motivos para isso... e porque gosto de ter uma ideia sobre a linha que quero seguir, embora nunca perca a noção de que nada tenho nas mãos.
Beijinhos e boa semana
Mas não estamos assim tão longe.... Não ser de projetos não quer dizer que não tenha uma linha orientadora e convicções bem fortes...
EliminarBeijinhos
Também a minha vida já se alterou demasiadas vezes para me pôr a projectar!
ResponderEliminarPrefiro a versão inglesa.
Beijinhos
Também eu!!
EliminarBeijinhos
Todos, em qualquer tempo, em qualquer situação tivemos/temos projectos. O que não acontecia antes é que não se perdia muito tempo a registá-los, ao milímetro, floreando contextos, inventando recursos e fazendo depender desses registos o sucesso do projecto em si. Depois eles multiplicaram-se como cogumelos (falo das escolas, concretamente) e o que aconteceu foi que com tanto tempo gasto no "registar", ficou pouco tempo para o "aplicar".
ResponderEliminarIsto é o que se chama "ter mais olhos que barriga".
Bj.
Como descobri, à minha custa, que o homem põe e Deus dispõe, há muito deixei de fazer planos para avida. Vivo um dia de cada vez e deixo-me ir ao sabor dos acontecimentos.
ResponderEliminarSe me agradam, embarco , se não fico em terra!...
As canções ouvi-las-ei noutra altura, hoje tive um dia muito preenchido e com pouquíssimo tempo para andar na blogo!
Beijinhos, Graça!
Janita