Na «Antologia de Poesia Portuguesa
Erótica e Satírica» organizada por Natália Correia e inicialmente publicada em
1966, de onde ontem tirei os versos sobre as medidas da língua (?), encontrei,
entre muitos outros poemas interessantes – quase todos, aliás – um epigrama da
autoria do poeta Filinto Elísio, amigo e confidente da Marquesa de Alorna
(século XVIII) no tempo em que esteve confinada no Convento de Odivelas que
passo a transcrever.
Queixou-se uma noviça
ao pai honrado
que da ordem um
tafulão
lhe tinha quase à
força escarapelado
o virgíneo botão:
«Gritaste ao menos
contra o agressor,
misérrima tolinha?»-
(exclama o ginja já
todo em furor).
«Não, meu pai, não
convinha
(lhe torna a triste)
que era pior mal;
sendo alta noite,
tempo mui perigoso
de incomodar o meu
provincial,
que com a abadessa
estava no seu gozo.»
Lembrei-me, a propósito, do
romance «Madre Paula» de Patrícia Müller que li no final do ano passado e de
que gostei bastante. É um romance histórico baseado na vida da noviça de
Odivelas por quem o rei D. João V se apaixonou violentamente e de quem foi
amante durante treze anos chegando a ter um filho com ela.
(Casa que D. João V mandou construir para Madre Paula, anexo ao Convento de Odivelas luxuosamente mobilado como se de um palácio se tratasse) |
Está muito bem
escrito e, pretendendo ser uma narrativa erótica, não chega perto disso, o que
é bom porque evita ser considerada uma obra menor. É um romance despretensioso contado
em primeira pessoa, muito bem apresentado, sem tiques piegas ou sentimentalões.
A arquitectura do romance está bem conseguida com constantes avanços e recuos
na narrativa o que torna a leitura mais cativante.
Recomendo a quem gosta de ler
romance histórico.
Estava tentado
ResponderEliminarMas o andar a fazer história
Ocupa-me um bom bocado
Imagino! Mas a leitura faz-nos bem: distrai-nos e educa-nos.
EliminarAcredito que seja bem mais interessante que as sombras do outro
ResponderEliminarBeijinhos
Não tenha dúvidas, Pedro!
EliminarEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminar~ Costumes de antanho, em que as meninas de linhagem que ficavam sem dote - por infortúnio ou por direito dos varões e primogénitos - eram obrigadas a enclausurarem-se em conventos para fugirem a um terrível destino de indigente. ~
ResponderEliminar.
Coitadas!
EliminarSem SOMBRAS de dúvida que o "Madre Paula" é melhor do que as 50... e mais fácil de ler.
ResponderEliminarE menos chato...
EliminarParece realmente interessante.
ResponderEliminarUm abraço e bom fim de semana
o erotismo (em literatura) não admite "sombras" - o erotismo é solar...
ResponderEliminarbeijo
Muito bem posto, heretico!!
EliminarFiquei muito interessada em saber mais pormenores sobre a vida dessa Madre Paula. Um romance que me vai ficar a remoer na cabeça, até o encontrar.
ResponderEliminarObrigada, pelo cheirinho, Graça!
Beijinhos
Lê-se muito bem! Espero que gostes.
EliminarEstá na minha lista de compras. Obrigada pela opinião que veio reforçar o desejo de o ler.
ResponderEliminarEspero que goste!!
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