quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Madre Paula

Na «Antologia de Poesia Portuguesa Erótica e Satírica» organizada por Natália Correia e inicialmente publicada em 1966, de onde ontem tirei os versos sobre as medidas da língua (?), encontrei, entre muitos outros poemas interessantes – quase todos, aliás – um epigrama da autoria do poeta Filinto Elísio, amigo e confidente da Marquesa de Alorna (século XVIII) no tempo em que esteve confinada no Convento de Odivelas que passo a transcrever.


Queixou-se uma noviça ao pai honrado
que da ordem um tafulão
lhe tinha quase à força escarapelado
o virgíneo botão:
«Gritaste ao menos contra o agressor,
misérrima tolinha?»-
(exclama o ginja já todo em furor).
«Não, meu pai, não convinha
(lhe torna a triste) que era pior mal;
sendo alta noite, tempo mui perigoso
de incomodar o meu provincial,
que com a abadessa estava no seu gozo.»


Lembrei-me, a propósito, do romance «Madre Paula» de Patrícia Müller que li no final do ano passado e de que gostei bastante. É um romance histórico baseado na vida da noviça de Odivelas por quem o rei D. João V se apaixonou violentamente e de quem foi amante durante treze anos chegando a ter um filho com ela. 

(Casa que D. João V mandou construir
para Madre Paula, anexo ao Convento de Odivelas
luxuosamente mobilado como se de um palácio se tratasse)

Está muito bem escrito e, pretendendo ser uma narrativa erótica, não chega perto disso, o que é bom porque evita ser considerada uma obra menor. É um romance despretensioso contado em primeira pessoa, muito bem apresentado, sem tiques piegas ou sentimentalões. A arquitectura do romance está bem conseguida com constantes avanços e recuos na narrativa o que torna a leitura mais cativante.

Recomendo a quem gosta de ler romance histórico.

16 comentários:

  1. Estava tentado
    Mas o andar a fazer história
    Ocupa-me um bom bocado

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  2. Acredito que seja bem mais interessante que as sombras do outro
    Beijinhos

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. ~ Costumes de antanho, em que as meninas de linhagem que ficavam sem dote - por infortúnio ou por direito dos varões e primogénitos - eram obrigadas a enclausurarem-se em conventos para fugirem a um terrível destino de indigente. ~
    .

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  5. Sem SOMBRAS de dúvida que o "Madre Paula" é melhor do que as 50... e mais fácil de ler.

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  6. Parece realmente interessante.
    Um abraço e bom fim de semana

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  7. o erotismo (em literatura) não admite "sombras" - o erotismo é solar...

    beijo

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  8. Fiquei muito interessada em saber mais pormenores sobre a vida dessa Madre Paula. Um romance que me vai ficar a remoer na cabeça, até o encontrar.

    Obrigada, pelo cheirinho, Graça!

    Beijinhos

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  9. Está na minha lista de compras. Obrigada pela opinião que veio reforçar o desejo de o ler.

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