quinta-feira, 3 de julho de 2014

Cá se fazem...

Acreditamos, para nossa própria paz de espírito e equilíbrio emocional, numa qualquer justiça superior, uma justiça divina ou cósmica, uma espécie de conta-corrente que, de alguma maneira, nos alivie as dores dos maus momentos e das maldades de que por vezes somos vítimas e que se traduz pelo simples e popular ditado «cá se fazem, cá se pagam».

Veio-me à mente este pensamento (tão profundo…) quando, um dia destes, depois de descaroçar a agulha de croché quilo e meio de ginjas para fazer doce, fiquei com a pele dos dedos e a unhas pretas como se tivesse andado a trabalhar na terra ou não limpasse as unhas há quinze dias. E não houve creme, limão ou lixívia que as conseguisse fazê-las voltar a um aspeto mais limpinho.


Quando, vai para quarenta anos, me vi obrigada a finalmente vir morar para Leiria, vim encontrar uma sociedade que mantinha um estilo de vida em muitos aspectos diferente daquele a que eu vinha habituada. Um dia tive de ir a uma agência do extinto Banco Pinto e Sotto Mayor fazer, a pedido do meu marido, um depósito e, naturalmente, pus-me na bicha (desculpem-me: recuso-me a dizer «fila» como se usa agora) para a caixa. O meu espanto foi mais que muito quando o funcionário da caixa começa a chamar pelo nome e com toda a deferência clientes (homens, claro!) para os atender à frente das pessoas que estavam na bicha. Lá me mantive à espera da minha vez de ser atendida até porque não queria chegar a casa sem ter realizado o dito depósito mas com alguma revolta, uma fúria como nem imaginam. Mas o pior ainda estava para vir… É que, quando finalmente cheguei ao balcão, reparei, com alguma repulsa, que o funcionário tinha as unhas pretas, pretas como se tivesse acabado de trabalhar na terra… Tal como as minhas depois de descaroçar as ginjas…


(imagem da net)

15 comentários:

  1. E o doce ficou bom? adoro esse doce, por isso tivesse ginjas não me importava nada de ficar com as unhas em misero estado...fazia doce também
    Bjs

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  2. Gostei de conhecer esse acontecimento, quem sabe o tipo não tinha mesmo descascado ginjas.

    Após a minha ausência forçada estou voltando aos pouquinhos.

    Beijinho e uma flor

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  3. Gracinhamiga

    Unhas negras fazem-me logo recordar o Francisco José do nosso tempo:

    Olhos negros são traição
    são cruéis como punhais
    olhos bons com coração
    os teus olhos leais


    Deixa-te de tristezas pelas unhas negras. Espera-se a todo o momento que de fontes seguras nos chegue a informação de que o doce ficou... doce.

    Mas, apenas um lembrete: para a próxima vez faz uma ginjinha com elas; é saborosa e não tens que descaroçar as ginjas. E além do mais, não precisas de lavar as unhas, porque elas gastam-se... :-)

    Qjs

    Está a chegar a II parte da Caxemira sem elas


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  4. Acho que o bancário era "sugismundo" e há tempos não cuidava da higiene... Agora, você Graça, dedicou-se à uma saborosa culinária! Assim sendo, valeu as unhas escuras!
    Abraços.

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  5. Não há verniz que "disfarce"!! : )

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  6. Gosto de ter as mãos limpas,mas andar o dia todo no jardim não é possível. Lavo-as com sabão e uma escova,mas nunca ficam bonitas.
    Quanto aos que atendem público parece-me que devem ter ainda mais cuidados.
    Hoje as luvas evitam muitas situações desagradáveis.

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  7. Fazer depósitos nunca pertenceu ao meu "pelouro" e fazer doce de ginja também não, o de ameixa sim! :)
    Não sabia que as ginjas deixavam as unhas nesses estado...
    Quanto ao que contas, palavra que me espanta semelhante atitude abaixo de provinciana!

    Abraço

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  8. Costumo dizer " mulher dotada , mulher explorada "... Sabe fazer doce de ginja ?...Eu esqueci-me...estou desmemoriada...estou como a Sofia...M.A.A.

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  9. ~
    ~ ~ ~ Querida amiga!

    ~ ~ Um texto impecável com uma ilustração asquerosa! Meu Deus!
    ~ Esmeraste!

    ~ ~ O Luís tem razão. As luvas finas e aderentes são indispensãveis.
    ~ Descuraste as ferramentas. O meu espremedor de alhos tem um
    ~ descaroçador muito prático.

    ~ ~ Tenho imeeeeeeeeeensa inveja do doce que deve ter ficado uma
    ~ delícia requintada.

    ~ ~ Este ano não apareceram cerejas doces neste jardim, à beira mar
    ~ plantado.

    ~ ~ Boa disposição para degustares, já que a ginginha demora uns
    ~ meses a ficar no ponto certo.

    ~ ~ ~ ~ ~ Abraço. ~ ~ ~ ~ ~

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  10. ~
    ~ Acrescento que o teu relato do caso com o troglodita, reportou-me a um caso, também inesquecível, em que engoli um sapo enooooooorme o que me deixou doente de revoltada!

    ~ Num dia muito complicado que envolveu correrias, tendo deixado por brevíssimo espaço ds tempo, o carro mal estacionado; fui autuada por um chefe de polícia ébrio, completamente encharcado de álccol. Tinha um bafo, que dava para acender um archote!

    ~ ~ ~ Beijinhos. ~ ~ ~

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  11. Confesso que unhas negras também me enojam, se bem que as entenda num trabalhador do campo ou num mecânico de automóveis. Agora nas pessoas comuns, não vejo razão, a não ser falta de higiene. Ou das ginjas, que não sabia terem esse efeito... :)

    Beijocas

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  12. Henriquamigo,

    Também faço ginginha com elas: fiz no anos passado e há dois anos mas como ainda há frascos delas por aí, este ano foi tudo para doce - que é bem bom! Mas fique sabendo que também as descaroço para a ginginha... Coisas que aprendi com a minha mãe!

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  13. Se calhar, o bancário tinha andado a descaroçar ginjas!... :)

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  14. mãos sujas, perdão, unhas sujas por uma boa causa - furar ginjinhas...

    e doce com elas!...

    beijos

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  15. Há uns 40 anos aconteceu-me o mesmo e várias vezes no supermercado, aliás o único naquela altura. A primeira vez passou, depois meti aquela gente na ordem. Felizmente hoje estamos mt mais civilizados!

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