domingo, 2 de junho de 2013

Psicólogos


Que me desculpe quem tiver de me desculpar, mas nunca fui muito adepta de psicólogos. Da psicologia sim, mas de psicólogos nem por isso. E, paradoxalmente, nos tempos em que terminei o Liceu, nos idos de 60, e em que os cursos de psicologia, cá em Portugal, andavam ainda e apenas pelos primórdios do ISPA, queria muito estudar psicologia. Talvez por ser uma matéria nova. Só que, à época, curso superior era mesmo só na Faculdade e nem passava pela cabeça da minha mãe que eu não tirasse um curso superior mesmo.

O facto é que levei toda a minha vida profissional a ver deteriorar-se a “boa” educação e as “boas” maneiras nos alunos bem como esburacar-se a coesão das relações entre pais e filhos muito, mas muito por ação dos psicólogos. Trabalhei alguns anos com um (excelente) colega especializado e especialista em Educação Especial que, no tom pretensamente sereno mas perturbadoramente irónico que lhe era (e é) habitual dizia «os psicólogos não servem para nada!». Isto à frente de outra nossa muito querida e muito competente colega também ela especializada e especialista em Educação Especial, mas também psicóloga…

Sempre me “contrariou as entranhas” dar conta da reverência que quase dava para chegar com a cabeça ao chão com que as minhas colegas (quase todas) aceitavam todas as “ordens” de teor pedagógico (e não só) desde que assinadas por um(a) qualquer psicólogo/a quando os especialistas em pedagogia deveríamos ser nós próprias! 

Ao longo das primeiras décadas da nossa precária democracia muito desmoronamento houve no que toca a relações velhos/novos, pais/filhos, professores/alunos, muito por responsabilidade dos exageros de tantos psicólogos e outros que tais – que começaram a aparecer como cogumelos, sabe-se lá com que práticas e com que conhecimento das coisas – apostados em mudar o “velho” mundo com modernismos bacocos daqueles que facilmente conquistam as mentes instáveis e fraquinhas. E depois foi ver paizinhos absolutamente deslumbrados com as espertezas dos seus rebentos, paizinhos que se tornaram “os melhores amiguinhos” dos filhos e como eles se comportavam, paizinhos que tudo permitiam e tudo davam às suas crias “desde que eles não se metessem na droga” e sei lá o que mais. Muitos, infelizmente, continuam com o mesmo comportamento!

Ora vem este arrazoado todo para, no rescaldo do Dia da Criança, deixar aqui a transcrição de alguns pensamentos de uma crónica do psicólogo Eduardo Sá – que, não pensem que constitui exceção na minha pouco simpatia pela ação dos psicólogos, antes pelo contrário e um dia hei de explicar porquê – e que diz o seguinte: «… gosto dos pais de quem as crianças têm um bocadinho de medo. Pais que acendem para vermelho sempre que as crianças pisam o risco ou que “rosnam” como deve ser logo que elas fazem de “homem invisível” e exageram numa atitude do género: se não repararem em mim eu agradeço. Pais de coração têm sempre a cabeça quente. E isso é bom. Mas pais serenos são os pais que não toleram todas as veleidades a uma criança (como se lá em casa, o “governo em dialogo” se transformasse, volta não volta, numa democracia onde o “proletariado” manda para lá do que devia mandar). O segredo é não deixar passar uma asneira, que seja. (…) Exija, por favor. (…) Não assine contratos nem os cole no frigorífico (…) Nunca se esqueça que pais bonzinhos nunca serão nunca serão bons pais.»


11 comentários:

  1. Penso que a Educação se deixou psicologizar em demasia.

    Não acho que as crianças tenham que ter medo dos pais. Mas acho que devem saber que há limites e que os pais é que decidem quais são- embora não arbitrariamente nem segundo a disposição do monento.

    Boa semana

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  2. Também li o artigo do Eduardo Sá e gostei.
    Quanto aos psicólogos não me vou pronunciar, porque teria de fazer uma declaração de interesses :-)

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  3. Concordo com "pais bonzinhos nunca serão bons pais". Tenho um relacionamento sólido e amoroso com minha filha e consegui isso com muito carinho e muita firmeza, a custa de dizer alguns "nãos" e de manter-me firme na minha postura. Não me arrependi, muitas vezes - depois do esperneio - escutei dela um agradecimento por ter procedido assim e de te-la ajudado a enxergar algo que ela ainda não havia percebido.
    Ótimo post, Graça.
    Beijinhos

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  4. Os meu netos, predilectos
    Já conhecem o meu olhar número três
    E não voltam a fazer
    O que qualquer um deles já fez

    O Rogérito, ontem, fez uma redacção cheia de psicologia... como há muito não fazia!

    (também gosto do Eduardo, não é nada parvo)

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  5. Subscrevo e acrescento: "professores bonzinhos nunca serão bons professores".

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  6. Subscrevo!
    Costumava dizer a alunos e alunas, quando o caldo se entornava, que não estava a concorrer a um concurso de "Miss Simpatia"! :-)

    Abraço

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  7. A psicologia é uma arte.
    Como em todas as áreas, há bom e mau.

    http://oficinadepsicologia.com/

    Este grupo tem feito maravilhas.

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  8. Gostei muito de ler o texto deste
    seu post. E concordo com o Eduardo
    de Sá. Os pais coneçaram a dispersar
    o seu tempo e atenção para muitas
    outras coisas e a ceder aos seus
    filhos, muita vez, com bens mate-
    riais para os manter "felizes"
    esquecendo outros procedimentos,
    esses sim, importantes.Como não
    tive filhos, não devo dizer muita
    coisa, por que me falta a experiência directa, apesar de
    ter tido sobrinhos, filhos de sobrinha e nos filhos da sobrinha,
    já 3 gerações, que sempre acompanhei de muito perto.
    Beijinhos
    Irene Alves
    directa, a

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  9. Gostei de ler! Penso como tu.

    E já disse tudo.

    Beijo

    Laura

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  10. Delegou-se para professores, psicólogos, psicopedagogos, terapias diversas, medicação para controle de hiperatividade... e agendas infantis lotadas e os verdadeiros educadores - os pais - tiraram de suas costas a enorme responsabilidade de educar com exemplos... com diálogo... com um olhar que repreende ou incentiva... bem, isso dá um mestrado!!
    Bj. Célia.

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