Ficámos a saber hoje, a meio da manhã, que a vetusta Universidade de Coimbra foi considerada Património da Humanidade.
Antes de mais, parabéns ao nosso Rei D. Dinis que não foi apenas o "plantador de naus a haver", nem o namoradeiro dos arredores de Leiria...
Antes de mais, parabéns ao nosso Rei D. Dinis que não foi apenas o "plantador de naus a haver", nem o namoradeiro dos arredores de Leiria...
Depois os parabéns a todos os que trabalharam para que esta distinção honrasse a Universidade, a cidade e o país.
Depois há que deixar algumas imagens que atraiam os visitantes.
(da net) |
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(Foto de Francisco Mendes) |
(Foto de Francisco Mendes) |
Biblioteca |
E finalmente um pouco de história.
A Universidade que hoje
existe em Coimbra foi fundada, ou ratificada, em 1290 pelo rei D. Dinis,
começou a funcionar em Lisboa. É de 1 de Março desse ano o diploma régio que
anuncia a criação desta primeira escola universitária portuguesa, que é, por
outro lado, uma das mais antigas da Península Ibérica. A confirmação papal é
ainda de 1290, de 9 de Agosto, sendo Sumo Pontífice Nicolau IV. Segundo essa
bula, poderiam ser ensinadas todas as faculdades «lícitas», com excepção da
Teologia. As primeiras a constituírem-se foram, pois, as faculdades de Artes,
de Leis, de Cânones e de Medicina.
A fundação do «Estudo Geral»
resulta de um condicionalismo específico do País nos finais do século XIII. As
novas tarefas administrativas do Poder Político e da Igreja, bem como a acção
pastoral desta, requeriam uma formação adequada, cada vez mais exigente. Essa
formação não era, porém, compatível com a frequência de escolas distantes
(Paris, Bolonha e outras), nem convinha que se fizesse na vizinha Salamanca,
dado que Portugal lutava ainda pela definição e estabilização da sua
identidade. A criação da Universidade em Lisboa deu, assim, à burguesia e ao
clero a possibilidade de obterem de maneira mais adequada a preparação
indispensável ao desempenho das suas funções. Constituída no âmbito da
consolidação política de Portugal, contribuiu, nomeadamente, para a formação do
importante grupo dos «letrados», que tanta influência teve nesse processo.
Mas a Universidade não se
manteve por muito tempo em Lisboa. Em 1308 transfere-se para Coimbra, cidade já
com velhas tradições escolares, pois aí funcionava desde há muito a brilhante
escola do mosteiro de Santa Cruz. Vai instalar-se então no lugar designado por
«estudos velhos», que ficava sensivelmente onde se encontra agora a Biblioteca
Geral. Só então, por carta régia de 1309, a Universidade passou a gozar do
estatuto de verdadeira corporação, com autonomia e privilégios especiais.
Todavia, embora mantendo sempre a sua autonomia, foi perdendo alguns dos seus
privilégios e, à medida que a centralização do poder ia avançando, o Estado ia
interferindo nela cada vez mais.
O «Estudo Geral» não devia,
porém, permanecer em Coimbra por muito tempo. Em 1338, no reinado de D. Afonso
IV, transferiu-se outra vez para Lisboa. Mas logo em 1354 voltou de novo para
Coimbra, instalando-se desta vez na parte baixa da cidade por onde o burgo se
começava a estender. Em 1377, no reinado de D. Fernando, muda-se mais uma vez
para Lisboa, onde agora vai permanecer por mais de um século e meio. Deve andar
sensivelmente por esta altura — à roda de 1380 — a autorização para a formação
da Faculdade de Teologia. (…)
Em 1537, no reinado de D. João III, dá-se a transferência definitiva para Coimbra e para o velho Paço da Alcáçova, acompanhada da reforma dos estudos e do ingresso de novos docentes, não só portugueses como estrangeiros. Data também desta altura a fundação de uma rede de colégios, muitos deles ligados às ordens religiosas, que tinham funções de pensionato, assistência e ensino, dos quais se encontram ainda alguns vestígios arquitectónicos na «Alta» e na Rua da Sofia. O mais importante destes colégios — com uma estrutura diferente de todos os outros — é o Colégio das Artes, que começou a funcionar em princípios de 1548. (…)
Só no século XVIII, no
reinado de D. José, é que se dá nova reforma profunda da Universidade. Certos
sectores mais cultos da burguesia, que ia adquirindo consciência da sua
importância, do clero e da aristocracia mais evoluída, iam contactando com os
novos métodos e as novas matérias científicas. E esse conhecimento era mais
vivo nos «estrangeirados», portugueses que, por virtude das suas viagens,
contactaram directamente com a cultura de outros países da Europa. Eles não
podiam deixar de sentir o atraso do nosso ensino universitário, como se pode
provar através das reflexões e críticas de Luís António Verney ou António Ribeiro
Sanches.
A reforma pombalina
manifestava sobretudo interesse pelas ciências da natureza e pelas ciências de
rigor, que tão afastadas se encontravam do ensino universitário, embora
incidisse também sobre as faculdades jurídicas e de Teologia. Assim,
salientou-se a reforma da Faculdade de Medicina, que procurou seguir as
sugestões feitas por Ribeiro Sanches sobre a necessidade de uma investigação
experimental, e a criação de duas novas faculdades, a de Matemática e a de
Filosofia. Esta última concedia um lugar particular (que depois se tornou
exclusivo) à Filosofia Natural. (...)
No decorrer dos últimos anos
do século XIX e dos primeiros do século XX, ia crescendo a consciência dos
ideais republicanos e da necessidade de reestruturar a Universidade e o ensino
em geral. Para tal apontavam mesmo alguns mestres, fazendo críticas ao ensino
vigente e acentuando a necessidade da sua reforma segundo novos métodos. Foi
isso que se procurou levar a efeito após a proclamação da República em Outubro
de 1910 e, assim, legislação diversa foi surgindo com o objectivo de
reestruturar o ensino. Nesta situação a Universidade de Coimbra, com a criação
das Universidades de Lisboa e do Porto, deixou de ser a única do País, e certos
privilégios tão contestados que de certa forma sobreviviam, como o foro
académico, foram abolidos.
À medida que a República se
ia desmoronando, iam morrendo os sonhos de revolução cultural e em breve o
regime democrático fundado em 1910 dava lugar à Ditadura, que surgiu após o
movimento de 28 de Maio de 1926, e depois ao «Estado Novo». No Governo de
Salazar, que fora catedrático em Coimbra, procurou-se criar condições para
transformar, até certo ponto, a Universidade num aparelho do regime. Mas não era fácil que tal se verificasse,
devido às dificuldades criadas por uma instituição ciosa da sua autonomia. Por
outro lado, foram surgindo nos meios académicos, designadamente estudantis,
focos anti-governamentais. A Associação Académica de Coimbra, antiga instituição
escolar fundada em 1887 e que possuía uma orgânica democrática, foi um dos
principais meios de difusão de tais ideias, e daí a repressão que sofreu. Os
movimentos académicos de 1962 e 1969 — este já durante o governo de Marcelo
Caetano — são símbolos da luta dos contra o regime. (...)
Com o 25 de Abril de 1974
inicia-se um novo período da vida portuguesa e, portanto, também da
Universidade, que tem sido alvo de várias reformas que acompanharam as fases da
nova dinâmica política e pedagógico-cultural e as contradições do processo
histórico português dos últimos anos.
Prof. Doutor Luís Reis Torgal
E parabéns a quem por lá passou,por exemplo eu!
ResponderEliminarComecei em Lisboa, terminei a licenciatura em Coimbra e ainda fizemos juntas uma pós-graduação em Aveiro!
Estou a pensar ir fazer uma cadeirita à Lusófona para o meu currículo ficar ainda mais "brilhante", até poderei chegar a ministra! :-))
Abraço
Não querias mesmo mais nada... Queres uma equivalências?!...
ResponderEliminarUma boa notícia que nos deve orgulhar a todos. Mesmo àqueles que não têm boas recordações de Coimbra, como é o meu caso.
ResponderEliminarBom fds
Bem merecido!
ResponderEliminarExcelente noticia que nos deixa orgulhosos!
ResponderEliminarNão passei por lá, infelizmente não tive hipótese!
Beijinho e uma flor
Fiquei muito orgulhosa! Não sendo de Coimbra, não tendo lá estudado e não a conhecendo bem, sempre me senti atraída por essa bela cidade, cuja história me interessou desde os bancos do liceu assim como o seu património arquitetónico e paisagístico.
ResponderEliminarEsta será outra das cidades que espero visitar a sério e não de passagem.
Coimbra merece esta distinção e que este titulo lhe proporcione coisas ainda melhores.
ResponderEliminarA nossa história também se fez em Coimbra.
ResponderEliminarPatrimónio temos e que nos enche de orgulho!
Beijo
Laura
Mais do que merecido, caminhar por Coimbra é respirar história! E outras coisas, por vezes, mas isso não vem ao caso... Beijoca!
ResponderEliminarCoimbra e os Portugueses estão de parabéns por este evento. Mas também quero dar os parabéns à Dra. Graça, por nos lembrar um pouco da História de Portugal, relativamente à Universidade de Coimbra.
ResponderEliminarUm bom domingo.
MT
Orgulho. :)
ResponderEliminarEu é que estou envergonhada pois nunca lá estive...
Ainda estás muito a tempo, Luísa, nossa querida algarvia, tens de lá ir com a tua máquina fotográfica que faz maravilhas.
ResponderEliminarObrigada, MT. Adoro História. Não estudei em Coimbra, sou toda lisboeta, mas depois de terminar o meu curso de Germânicas, ainda fiz umas cadeiras de História. Depois vim «enfurnar-me» em Leiria e acabou. Só muitos anos mais tarde, passei por Aveiro para uma pós-graduação.
Curiosamente a minha filha mais velha estudo em Coimbra e... não gostou muito, não. Tudo muito antigo...
Também ouvi a notícia ontem na rádio e concluí que tenho de visitar a cidade, que mal conheço. E o que conheço é de ouvir falar da sua História, arquitetura e vida estudantil - desses tempos salazarentos, ou dessas festas de queima das fitas mais atuais ou do sino que dá pelo nome de cabra... :)))
ResponderEliminarBelas fotos, também!
Beijocas!
ResponderEliminarResta-nos o brilho nunca ofuscado da nossa identidade.
Um belo trabalho!
Beijinho
Valha-nos isso, Lídia!
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