Que me desculpe quem
tiver de me desculpar, mas nunca fui muito adepta de psicólogos. Da psicologia
sim, mas de psicólogos nem por isso. E, paradoxalmente, nos tempos em que terminei
o Liceu, nos idos de 60, e em que os cursos de psicologia, cá em Portugal,
andavam ainda e apenas pelos primórdios do ISPA, queria muito estudar
psicologia. Talvez por ser uma matéria nova. Só que, à época, curso superior
era mesmo só na Faculdade e nem passava pela cabeça da minha mãe que eu não
tirasse um curso superior mesmo.
O facto é que levei
toda a minha vida profissional a ver deteriorar-se a “boa” educação e as “boas”
maneiras nos alunos bem como esburacar-se a coesão das relações entre pais e
filhos muito, mas muito por ação dos psicólogos. Trabalhei alguns anos com um (excelente)
colega especializado e especialista em Educação Especial que, no tom pretensamente
sereno mas perturbadoramente irónico que lhe era (e é) habitual dizia «os psicólogos
não servem para nada!». Isto à frente de outra nossa muito querida e muito
competente colega também ela especializada e especialista em Educação Especial,
mas também psicóloga…
Sempre me “contrariou
as entranhas” dar conta da reverência que quase dava para chegar com a cabeça
ao chão com que as minhas colegas (quase todas) aceitavam todas as “ordens” de
teor pedagógico (e não só) desde que assinadas por um(a) qualquer psicólogo/a
quando os especialistas em pedagogia deveríamos ser nós próprias!
Ao longo das primeiras
décadas da nossa precária democracia muito desmoronamento houve no que toca a
relações velhos/novos, pais/filhos, professores/alunos, muito por
responsabilidade dos exageros de tantos psicólogos e outros que tais – que começaram
a aparecer como cogumelos, sabe-se lá com que práticas e com que conhecimento das
coisas – apostados em mudar o “velho” mundo com modernismos bacocos daqueles
que facilmente conquistam as mentes instáveis e fraquinhas. E depois foi ver
paizinhos absolutamente deslumbrados com as espertezas dos seus rebentos,
paizinhos que se tornaram “os melhores amiguinhos” dos filhos e como eles se
comportavam, paizinhos que tudo permitiam e tudo davam às suas crias “desde que
eles não se metessem na droga” e sei lá o que mais. Muitos, infelizmente,
continuam com o mesmo comportamento!
Ora vem este arrazoado
todo para, no rescaldo do Dia da Criança, deixar aqui a transcrição de alguns
pensamentos de uma crónica do psicólogo Eduardo Sá – que, não pensem que
constitui exceção na minha pouco simpatia pela ação dos psicólogos, antes pelo
contrário e um dia hei de explicar porquê – e que diz o seguinte: «… gosto dos pais de quem as crianças têm
um bocadinho de medo. Pais que acendem para vermelho sempre que as crianças
pisam o risco ou que “rosnam” como deve ser logo que elas fazem de “homem
invisível” e exageram numa atitude do género: se não repararem em mim eu
agradeço. Pais de coração têm sempre a cabeça quente. E isso é bom. Mas pais
serenos são os pais que não toleram todas as veleidades a uma criança (como se
lá em casa, o “governo em dialogo” se transformasse, volta não volta, numa
democracia onde o “proletariado” manda para lá do que devia mandar). O segredo
é não deixar passar uma asneira, que seja. (…) Exija, por favor. (…) Não assine
contratos nem os cole no frigorífico (…) Nunca se esqueça que pais bonzinhos
nunca serão nunca serão bons pais.»
Penso que a Educação se deixou psicologizar em demasia.
ResponderEliminarNão acho que as crianças tenham que ter medo dos pais. Mas acho que devem saber que há limites e que os pais é que decidem quais são- embora não arbitrariamente nem segundo a disposição do monento.
Boa semana
Assino por baixo. Saudações cordiais.
ResponderEliminarTambém li o artigo do Eduardo Sá e gostei.
ResponderEliminarQuanto aos psicólogos não me vou pronunciar, porque teria de fazer uma declaração de interesses :-)
Concordo com "pais bonzinhos nunca serão bons pais". Tenho um relacionamento sólido e amoroso com minha filha e consegui isso com muito carinho e muita firmeza, a custa de dizer alguns "nãos" e de manter-me firme na minha postura. Não me arrependi, muitas vezes - depois do esperneio - escutei dela um agradecimento por ter procedido assim e de te-la ajudado a enxergar algo que ela ainda não havia percebido.
ResponderEliminarÓtimo post, Graça.
Beijinhos
Os meu netos, predilectos
ResponderEliminarJá conhecem o meu olhar número três
E não voltam a fazer
O que qualquer um deles já fez
O Rogérito, ontem, fez uma redacção cheia de psicologia... como há muito não fazia!
(também gosto do Eduardo, não é nada parvo)
Subscrevo e acrescento: "professores bonzinhos nunca serão bons professores".
ResponderEliminarSubscrevo!
ResponderEliminarCostumava dizer a alunos e alunas, quando o caldo se entornava, que não estava a concorrer a um concurso de "Miss Simpatia"! :-)
Abraço
A psicologia é uma arte.
ResponderEliminarComo em todas as áreas, há bom e mau.
http://oficinadepsicologia.com/
Este grupo tem feito maravilhas.
Gostei muito de ler o texto deste
ResponderEliminarseu post. E concordo com o Eduardo
de Sá. Os pais coneçaram a dispersar
o seu tempo e atenção para muitas
outras coisas e a ceder aos seus
filhos, muita vez, com bens mate-
riais para os manter "felizes"
esquecendo outros procedimentos,
esses sim, importantes.Como não
tive filhos, não devo dizer muita
coisa, por que me falta a experiência directa, apesar de
ter tido sobrinhos, filhos de sobrinha e nos filhos da sobrinha,
já 3 gerações, que sempre acompanhei de muito perto.
Beijinhos
Irene Alves
directa, a
ResponderEliminarGostei de ler! Penso como tu.
E já disse tudo.
Beijo
Laura
Delegou-se para professores, psicólogos, psicopedagogos, terapias diversas, medicação para controle de hiperatividade... e agendas infantis lotadas e os verdadeiros educadores - os pais - tiraram de suas costas a enorme responsabilidade de educar com exemplos... com diálogo... com um olhar que repreende ou incentiva... bem, isso dá um mestrado!!
ResponderEliminarBj. Célia.