Ao contrário das lágrimas dos velhos
ao contrário do riso dos melífluos
estas correntes postas nos artelhos
estes circuitos postos nos testículos.
Chocalhamos a raiva quando calha
quando não calha calha-nos a vez
e falha-nos a voz e somos a escumalha
dum país vasilhado e pretoguês.
Ai Dom Sebastião
tão tão tão
tão encoberto que pouca gente sabeque o nevoeiro encobre
um português suave.
Ai Dona Leonor
dor dor dor
dor tão fina tão santa tão concórdiaque tanta gente aposta
na bosta que lhe oferece a misericórdia.
Ai nossa Dona Inês
talvez talvez talvez
que Pedro Justiceiro nos coma o coração
- era Pêro Pinheiro
com um pêro na mão.
Ai meu Pedro
meu erro
minha torre
meu cedro
minha altura de medo
de aonde me quebro.
(1969)
Faria hoje 75 anos se a morte não o tivesse surpreendido em Janeiro de 84.
Lindo Graça, adorei!
ResponderEliminarTodos sofremos.
O mesmo ferro oculto
Nos rasga e nos estilhaça a carne exposta
O mesmo sal nos queima os olhos vivos.
Em todos dorme
A humanidade que nos foi imposta.
Onde nos encontramos, divergimos.
É por sermos iguais que nos esquecemos
Que foi do mesmo sangue,
Que foi do mesmo ventre que surgimos.
Ary dos Santos
beijinho e uma flor
Grato pela lembrança e pelo poema.
ResponderEliminarUm homem na cidade
ResponderEliminarAgarro a madrugada
como se fosse uma criança
uma roseira entrelaçada
uma videira de esperança
tal qual o corpo da cidade
que manhã cedo ensaia a dança
de quem por força da vontade
de trabalhar nunca se cansa.
Vou pela rua
desta lua
que no meu Tejo acende o cio
vou por Lisboa maré nua
que se deságua no Rossio.
Eu sou um homem na cidade
que manhã cedo acorda e canta
e por amar a liberdade
com a cidade se levanta.
Vou pela estrada
deslumbrada
da lua cheia de Lisboa
até que a lua apaixonada
cresça na vela da canoa.
Sou a gaivota
que derrota
todo o mau tempo no mar alto
eu sou o homem que transporta
a maré povo em sobressalto.
E quando agarro a madrugada
colho a manhã como uma flor
à beira mágoa desfolhada
um malmequer azul na cor.
O malmequer da liberdade
que bem me quer como ninguém
o malmequer desta cidade
que me quer bem que me quer bem!
Nas minhas mãos a madrugada
abriu a flor de Abril também
a flor sem medo perfumada
com o aroma que o mar tem
flor de Lisboa bem amada
que mal me quis que me quer bem!
dos meus preferidos e tão bem cantado pelo Grande Carlos do Carmo
http://youtu.be/aUEGq2GZHtQ
Beijinhos Graça (este é só para si!) <3
E a vontade que me dá
ResponderEliminarFazer
Hoje
Um interregno para coisas belas...
Cheguei a ouvi-lo... ao vivo! Apenas uma vez.
ResponderEliminarUm poeta de mão cheia , que eu gostava de ouvi recitar pela força que punha nas palavras!
ResponderEliminarBons sonhos, Gracinha.
Morreu o homem mas a obra será eterna!
ResponderEliminarAbraço
Sabe sempre bem recordar Ary.
ResponderEliminarObrigado
Que sorte Catarina! Infelizmente nunca o ouvi ao vivo.
ResponderEliminarÉ isso, São: a força que punha nas palavras!
Um poeta de mão cheia! E o de belas canções de cujas letras foi autor. Que lindas letras/poemas escreveu especialmente para o Fernando Tordo e para o Carlos do Carmo!
Obrigada pelos vossos poemas.