sábado, 24 de fevereiro de 2018

David Mourão-Ferreira



(24 de fevereiro de 1927 – 16 de junho de 1996)

Faria hoje 91 anos.

Em jeito de homenagem, fica aqui mais um dos seus extraordinários poemas.


Casa

Tentei fugir da mancha mais escura
que existe no teu corpo, e desisti.
Era pior do que a morte o que antevi:
era a dor de ficar sem sepultura.

Bebi entre os teus flancos a loucura
de não poder viver longe de ti:
és a sombra da casa onde nasci,
és a noite que à noite me procura.

Só por dentro de ti há corredores
e em quartos interiores, cheiro a fruta
que veste de frescura a escuridão...

Só por dentro de ti rebentam flores.
Só por dentro de ti a noite escuta
o que sem voz me sai do coração.

(David Mourão-Ferreira, Infinito Pessoal, in Obra Poética, 2006.)



12 comentários:

  1. Um belíssimo Soneto, num misto de romance e erotismo.
    Feliz escolha para homenagear o Poeta.
    Gostei da metáfora de ver a mulher amada como a casa onde se criam raízes.

    Beijinhos, Graça!

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  2. Excelente escolha para o homenagear!

    Beijinho querida.

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  3. Um belíssimo poema. Boa escolha para a homenagem.
    Um abraço e bom domingo

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  4. Não me lembro. Mas adorei o poema.

    Hoje:- O acordar da quimera
    .
    Bjos

    Votos de boa noite

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  5. Belo e tocante poema!
    Obrigada, pela partilha, Graça!
    Abraço.

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  6. Um dos grandes poemas portugueses, que soube cantar o amor com uma voz original e bela!

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  7. Os bons poetas
    morrem
    mas não morrem

    A mensagem
    que nos deixam
    é imorredoura

    Beijinhos, Graça.

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  8. Que bom que gostaram! Foi/é um dos nossos melhores poetas da atualidade!

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  9. não sabia mesmo" mea culpa, mea culpa...

    belo o poema, pois claro! difícil seria (será) o contrário,

    beijo, minha amiga

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