domingo, 10 de setembro de 2017

Que terá A Amiga Genial de tão genial?

A ler freneticamente «A Amiga Genial» da misteriosa autora italiana Elena Ferrante. Provavelmente muitos de vós passaram já por isso, já que a primeiro volume da tetralogia saiu em 2015 e teve muita publicidade. Também sei que tem sido um verdadeiro sucesso de vendas. Mas eu comecei a lê-lo há um mês e já vou a meio do 4º e último volume – eu que não sou uma leitora voraz.



Trata-se de um romance, romance e mais nada! Na verdadeira aceção da palavra, ou seja: «uma obra literária que apresenta narrativa em prosa, normalmente longa, com factos criados ou relacionados com personagens que vivem diferentes conflitos ou situações dramáticas, numa sequência de tempo relativamente ampla.»

Então o que é que «A Amiga Genial» tem de genial?

Será talvez pelo simples facto de se tratar de uma história extremamente bem contada em que o leitor está constantemente a ser convocado para novos acontecimentos, novas intrigas, novos conflitos que ora dão sentido à ação que está a ser descrita explicando-a, desenrodilhando-a, ora criam teias que nos atiram para outras situações aparentemente díspares daquela em que estamos enfronhados. Toda a ação parece desenrolar-se sobre rodas, sem sobressaltos aparentes, numa naturalidade da água a correr ou de movimento diário do planeta. Só que o leitor sente-se tão preso ao fluir da narrativa que não tem como se despegar desse enleio. E a coisa está tão bem urdida que, quando se chega à última palavra de cada volume, há não sei o quê que nos empurra insanamente para o volume seguinte, como se alguma frase tivesse ficado a meio.

A história é de uma simplicidade extrema: conta-nos a vida de duas raparigas nascidas num bairro muito pobre de Nápoles nos meados do século passado, que se conhecem desde sempre, vão para a mesma escola, tornam-se amigas e nunca mais conseguem separar-se, nem que seja mentalmente, até à velhice. A narradora é uma delas e pretende-se que a amiga genial seja a outra de quem ela fala. Mas, pelo menos aos meus olhos, essa genialidade parece passar constantemente de uma para a outra, até nos fazer crer que vivem ambas na mente uma da outra e que, por isso, são inseparáveis.

A genialidade da obra constata-se na cerrada urdidura da história; no perfil firmemente traçado de cada personagem (e são muitas); na descrição intensa e apaixonada embora com o desassombradamente que evita as lamechices da realidade brutal vivida no bairro, em Nápoles e no país em geral; nos comentários históricos, políticos, sociais, culturais de uma Itália que passava, em clima de grande violência e agitação, os tempos mais difíceis da sua história recente, os chamados Anos de Chumbo, que vão sendo entrelaçados com o decorrer da ação, ela sim, cheia de sobressaltos. Um desassossego, um imenso desassossego que nos prende, nos enleia, nos apanha os pensamentos e as emoções de forma indelével.


Muito bom. Recomenda-se vivamente.

10 comentários:

  1. Não li. Tomei nota, mas não sei se terei possibilidade de ler.
    Um abraço

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  2. A autora deveria ser avisada deste teu texto tão cativante e que nos leva a ir imediatamente à livraria mais próxima!
    Fiquei super motivada, obrigada.
    Bjs ( ainda noutro dia fui à Teté em busca das opiniões dela )

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  3. Li os 4 livros da série. Gostei imenso. Muito empolgante.

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  4. Já estive com ele na mão, tentada a comprar e acabei por o colocar no mesmo lugar, onde estava, por ter outros em espera. Quando o puder fazer, compro todos para ler de seguida.
    Agora, com este teu texto, ainda me senti mais motivada para ler a escritora misteriosa, de quem ainda não li nada, e cuja verdadeira identidade me parece já ter sido desvendada.
    Boa semana e boas leituras, Graça!

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  5. Nunca li nada de Elena Ferrante. Mas esta sua excelente descrição encheu-me de curiosidade.
    Uma boa semana, Graça.
    Um beijo.

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  6. Estou a ler "A Amiga Genial" e concordo plenamente com a tua análise do romance.

    Uma "quase" autobiografia que me lembra a minha amizade com a minha amiga genial com quem me vou encontrar em Outubro no Porto e se chama BEATRIZ.

    Continuação de boas leituras 🌽

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  7. Ainda não me aventurei na Ferrante, tal é a lista e espera!!
    Mas com a tua recomendação, acho que vou passá-la para os primeiros lugares!

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  8. Obrigada, caros amigos, pelas vossas palavras tão simpáticas e agradáveis!

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