Às vezes sabes sinto-me farto
por tudo isto ser sempre assim
Um dia não muito longe não muito perto
um dia muito normal um dia quotidiano
um dia não é que eu pareça lá muito hirto
entrarás no quarto e chamarás por mim
e digo-te já que tenho pena de não responder
de não sair do meu ar vagamente absorto
farei um esforço parece mas nada a fazer
hás-de dizer que pareço morto
que disparate dizias tu que houve um surto
não sabes de quê não muito perto
e eu sem nada pra te dizer
um pouco farto não muito hirto e vagamente
absorto
não muito perto desse tal surto
queres tu ver que hei-de estar morto?
Ruy Belo – ‘homem de palavra(s)’
As palavras de Ruy Belo, foram sempre muito belas!
ResponderEliminarJá conhecia o poema, mas não pude evitar um estremecimento ao relembrar agora, esse dia não muito perto nem muito longe...
Até a foto que escolheste, enevoada e pouco nítida, é suficiente para nos sentirmos em comunhão com essa certeza...incerta.
Um beijinho, Graça.
Poema realista que se agrega e muito a sentimentos e recordações...
ResponderEliminarAbraço.
Maravilha, pleno de sensibilidade.
ResponderEliminarBeijos, bfds
Um poema de uma lucidez impressionante.
ResponderEliminarApetece-me dizer como ele" às vezes sinto-me farta"
Gostei do poema e da imagem que escolheste.
Beijinhos Graça
lindos, ambos.
ResponderEliminarÉ isso!... A voz do poeta que vem ter connosco, precisamente no lugar onde nos encontramos e nos lê como se nos fosse pele.
ResponderEliminarBj.
Lídia
Sabia que iam gostar...
ResponderEliminarObrigada!