A Igreja da Misericórdia encontra-se encravada nas ruinhas do chamado
centro histórico de Leiria. Um monumento imponente, mas triste, cinzento,
abandonado pela instituição Igreja, sempre de portas fechadas, abrindo apenas
para servir como casa mortuária da cidade, que não tinha outra. Era assim nas
décadas de 70, 80, 90. Depois da construção da casa mortuária a triste Igreja
da Misericórdia fecharia portas, pensava-se que definitivamente.
Felizmente, a atual edilidade, forçada talvez pelos investigadores que lhe
andam por perto ou pela vontade determinada de que a cidade possa vir a ser Capital
Europeia da Cultura em 2027, tomou em mãos a sua recuperação e foi assim que,
no final do passado mês de Julho, procedeu à inauguração de uma Igreja da
Misericórdia completamente renovada, linda e luminosa, onde fez nascer aquilo a
que chamou Centro de Diálogo
Intercultural de Leiria.
Este nome advém do facto de aquele espaço da cidade corresponder à antiga
Judiaria de Leiria, acreditando-se mesmo que a Igreja terá sido construída
sobre aquilo que foi a Sinagoga de Leiria.
No Jornal de Leiria podemos ler que «Apesar
de serem escassas as notícias sobre a presença de judeus na cidade de Leiria no
século XIII, é de crer que já existiria ali uma pequena comunidade desde os
inícios daquela centúria.
Num documento de Dezembro de
1219, encontramos a primeira referência a Jucefe
de Leirena “um judeu de Leiria”. Na obra Os Judeus de Leiria Medieval como agentes dinamizadores da economia
urbana, o investigador da Universidade de Coimbra, Saul António Gomes,
escreve que “ultrapassada uma fase inicial marcada pela insegurança e
instabilidade que as razias muçulmanas provocavam, cerca de 1147, ano em que se
conquistaram as cidades de Santarém e Lisboa, Leiria cresce demográfica e
urbanisticamente, multiplicando-se as suas freguesias religiosas e provocando
mesmo o estabelecimento dos frades menores por 1230. Esse crescimento populacional
e urbano deve ter atraído as atenções dos judeus estabelecidos em cidades mais
antigas como Coimbra.
(…) A própria rua direita – a
atual Rua Barão de Viamonte – tinha grossas portas de ferro que se fechavam ao
pôr-do-sol, enclausurando os discípulos de Moisés no interior do gueto húmido,
pela proximidade do curso original do Lis, até ao romper do dia seguinte.
O local onde os judeus se
estabeleceram era, na década de 1150, um caminho marginal à cidade,
extra-muralhas, junto ao acesso às Portas do Sol da povoação, caminho que
evoluirá para rua direita.(...)
(…) Com o crescimento
urbano, a "Juyaria de Leyrêa"
acabou por ficar num local central da cidade com o valor de espaço comercial e
mercantil por excelência, naquele burgo medieval. Na judiaria de Leiria, as
pequenas vendas e bancas dos ourives, tintureiros, latoeiros, correeiros,
ferreiros e outros mestres artesãos faziam a minúscula cidade fervilhar de
vida.»
Localização da judiaria de Leiria |
A Igreja da Misericórdia antes de ser renovada.
E agora.
O diálogo entre as religiões do Livro: Cristianismo, Judaísmo e Islão.
Num pano de fundo de discreto cristianismo, de uma enorme abertura numa luminosidade radiosa.
Pormenores do teto.
A sacristia, que sempre permanecera fechada.
O chamado Nicho |
Depois há o acesso à parte superior do monumento, de onde se pode ter uma visão global da nave bem como do interior onde se encontra uma escada de caracol que dizem ser o único vestígio visível de reparações anteriores ao século XVIII.
Andando pelos corredores lá de cima, ainda temos aquela vista maravilhosa que é o bijouzinho da cidade...
Lá está ele...
Tudo muito bem explicado, muito bem documentado. Merece mesmo uma visita demorada.
A visita continua na chamada Casa dos Pintores, mas dessa me ocuparei noutra publicação.
Para saber mais, consultar.
http://www.cm-leiria.pt/frontoffice/pages/760?news_id=1320
https://www.visiteleiria.pt/pontos-de-interesse/patrimonio-cultural/centro-de-dialogo-intercultural-de-leiria/
Pois... Também tenho que colocar Leiria num roteiro para visita futura.
ResponderEliminarÉ uma cidade muito bonita, muito harmoniosa. Vale a pena.
EliminarVou poucas vezes a Leiria...agora fiquei com vontade de ir.
ResponderEliminarQue bom, Maria! Venha, venha, que vai gostar.
EliminarNão conhecia. Obrigado pela visita, Graça
ResponderEliminarEu é que agradeço a visita. Mais ainda em dia de aniversário...
EliminarBeijinho.
Eu, nascida em Leiria , embora tenha saído muito cedo de lá, desconhecia que existiu uma Sinagoga hoje igreja da Misericórdia, uma vergonha, não é`?
ResponderEliminarNa próxima visita já sei que tenho mais um motivo para fotografar na minha cidade.
Beijinhos Graça
Há tanto para fotografar aqui na tua cidade, Manu!
EliminarBeijinho.
Gostei muito da visita virtual.
ResponderEliminarA um espaço de grande beleza e harmonia religiosa.
Beijinhos, boa semana
Obrigada, Pedro! Quando trouxer as meninas a Coimbra, tem de passar por cá...
EliminarBeijinho.
Está muito bem arranjada!
ResponderEliminarBjs
Uma maravilha! Quem a viu e quem a vê!
EliminarBeijinho.
É estúpido da minha parte, mas aqui tão perto e tanta coisa que ainda não visitei em Leiria! Um dia destes vou APENAS para fazer turismo - e tu és uma excelente guia!
ResponderEliminarTemos de combinar!
EliminarUm excelente post e uma excelente reportagem, Graça !
ResponderEliminar... mas uma coisa me chamou especialmente a atenção :
"Felizmente, a atual edilidade, pretende que Leiria venha a ser Capital Europeia da Cultura em 2027".
Como estas coisas e candidaturas, são tratadas com uma antecedência de 10 anos !!!
E é assim que as cidades crescem e se tornam ainda mais notáveis e apelativas turisticamente !
A edilidade tem que ver ao longe, a longo prazo ! ... e muitas vezes isso não acontece, porque não existe essa visão e inversamente, quantas vezes ela existe e não nos apercebemos !
Muito bom post, Graça !
Muito obrigada, Rui, pelas sempre palavras simpáticas!
EliminarDe facto, esta ideia da candidatura a Cidade Europeia da Cultura já começou há uns três ou quatro anos atrás. E há tanto para ser feito!
Beijinho.
Aprecio sobremodo apreciar estas reabilitações, acrescidas do direito às fotos do 'antes' e 'depois'... Maravilha!
ResponderEliminarPercebe-se que ficou um espaço muito confortável e com um ambiente modernizado...
O que custou mentalizar essa Igreja!!
És ótima a compor reportagens. Fico-te grata por mais uma.
~~~ Beijinhos setembrinos ~~~
Ó meus deuses!! Com tantos elogios, ainda me derreto... eh eh eh... Ainda bem que gostaste. Obrigada.
EliminarBeijinhos leirienses...
Gostei Graça,
ResponderEliminaras tuas fotos convidam a uma visita, espero que quando passar por aí, as portas estejam abertas ou com o horário das visitas !
abraço
Angela
Pode ser visitada todos os dias de semana durante as manhãs e as tardes; aos fins de semana, só de tarde. Por acaso, não tem horário afixado, o que é uma falha.
EliminarBeijinho.