A ler freneticamente «A Amiga Genial» da misteriosa autora italiana Elena
Ferrante. Provavelmente muitos de vós passaram já por isso, já que a primeiro
volume da tetralogia saiu em 2015 e teve muita publicidade. Também sei que tem
sido um verdadeiro sucesso de vendas. Mas eu comecei a lê-lo há um mês e já vou
a meio do 4º e último volume – eu que não sou uma leitora voraz.
Trata-se de um romance, romance e mais nada! Na verdadeira aceção da
palavra, ou seja: «uma obra literária que apresenta narrativa em prosa,
normalmente longa, com factos criados ou relacionados com personagens que vivem
diferentes conflitos ou situações dramáticas, numa sequência de tempo
relativamente ampla.»
Então o que é que «A Amiga Genial» tem de genial?
Será talvez pelo simples facto de se tratar de uma história extremamente
bem contada em que o leitor está constantemente a ser convocado para novos
acontecimentos, novas intrigas, novos conflitos que ora dão sentido à ação que
está a ser descrita explicando-a, desenrodilhando-a, ora criam teias que nos
atiram para outras situações aparentemente díspares daquela em que estamos
enfronhados. Toda a ação parece desenrolar-se sobre rodas, sem sobressaltos
aparentes, numa naturalidade da água a correr ou de movimento diário do planeta.
Só que o leitor sente-se tão preso ao fluir da narrativa que não tem como se
despegar desse enleio. E a coisa está tão bem urdida que, quando se chega à
última palavra de cada volume, há não sei o quê que nos empurra insanamente
para o volume seguinte, como se alguma frase tivesse ficado a meio.
A história é de uma simplicidade extrema: conta-nos a vida de duas
raparigas nascidas num bairro muito pobre de Nápoles nos meados do século
passado, que se conhecem desde sempre, vão para a mesma escola, tornam-se
amigas e nunca mais conseguem separar-se, nem que seja mentalmente, até à
velhice. A narradora é uma delas e pretende-se que a amiga genial seja a outra
de quem ela fala. Mas, pelo menos aos meus olhos, essa genialidade parece
passar constantemente de uma para a outra, até nos fazer crer que vivem ambas
na mente uma da outra e que, por isso, são inseparáveis.
A genialidade da obra constata-se na cerrada urdidura da história; no
perfil firmemente traçado de cada personagem (e são muitas); na descrição intensa
e apaixonada embora com o desassombradamente que evita as lamechices da
realidade brutal vivida no bairro, em Nápoles e no país em geral; nos
comentários históricos, políticos, sociais, culturais de uma Itália que passava,
em clima de grande violência e agitação, os tempos mais difíceis da sua
história recente, os chamados Anos de Chumbo, que vão sendo entrelaçados com o
decorrer da ação, ela sim, cheia de sobressaltos. Um desassossego, um imenso
desassossego que nos prende, nos enleia, nos apanha os pensamentos e as emoções
de forma indelével.
Muito bom. Recomenda-se vivamente.
Não li. Tomei nota, mas não sei se terei possibilidade de ler.
ResponderEliminarUm abraço
A autora deveria ser avisada deste teu texto tão cativante e que nos leva a ir imediatamente à livraria mais próxima!
ResponderEliminarFiquei super motivada, obrigada.
Bjs ( ainda noutro dia fui à Teté em busca das opiniões dela )
Li os 4 livros da série. Gostei imenso. Muito empolgante.
ResponderEliminarJá estive com ele na mão, tentada a comprar e acabei por o colocar no mesmo lugar, onde estava, por ter outros em espera. Quando o puder fazer, compro todos para ler de seguida.
ResponderEliminarAgora, com este teu texto, ainda me senti mais motivada para ler a escritora misteriosa, de quem ainda não li nada, e cuja verdadeira identidade me parece já ter sido desvendada.
Boa semana e boas leituras, Graça!
Registei a sugestão.
ResponderEliminarBeijos, boa semana
Nunca li nada de Elena Ferrante. Mas esta sua excelente descrição encheu-me de curiosidade.
ResponderEliminarUma boa semana, Graça.
Um beijo.
Estou a ler "A Amiga Genial" e concordo plenamente com a tua análise do romance.
ResponderEliminarUma "quase" autobiografia que me lembra a minha amizade com a minha amiga genial com quem me vou encontrar em Outubro no Porto e se chama BEATRIZ.
Continuação de boas leituras 🌽
Sim senhora. Excelente crítica literária.
ResponderEliminarAinda não me aventurei na Ferrante, tal é a lista e espera!!
ResponderEliminarMas com a tua recomendação, acho que vou passá-la para os primeiros lugares!
Obrigada, caros amigos, pelas vossas palavras tão simpáticas e agradáveis!
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