Para introduzir umas sessões sobre Literatura Portuguesa que vou animar numa organização sénior, apresentei hoje a melodiosa «Cantiga Partindo-se», reunida no Cancioneiro de Resende, da autoria de João Roiz de Castel-Branco, romântico trovador do século XV.
Senhora, partem
tam tristes
meus olhos por
vós, meu bem,
que nunca tam
tristes vistes
outros nenhuns
por ninguém.
Tam tristes, tam
saudosos,
tam doentes da
partida,
tam cansados, tam
chorosos,
da morte mais
desejosos
cem mil vezes que
da vida.
Partem tam
tristes os tristes,
tam fora
d’esperar bem,
que nunca tam
tristes vistes
outros nenhuns
por ninguém.
A cantiga foi musicada e foi cantada por Adriano Correia de Oliveira, por Amália, pelo Quarteto 111, pelo Vitorino...
Porém deixo aqui uma versão de 1962 numa belíssima voz do fado de Coimbra. Espero que gostem.
Também Saramago lembrou o trovador com o poema «Lembrança de João Roiz de Castel-Branco»
Não os meus
olhos, senhora, mas os vossos,
Eles são que
partem às terras que não sei,
Onde memória de
mim nunca passou,
Onde é escondido
meu nome de segredo.
Se de trevas se
fazem as distâncias,
E com elas
saudades e ausências,
Olhos cegos me
fiquem, e não mais
Que esperar do
regresso a luz que foi.
(in Os Poemas Possíveis)
Pode parecer uma heresia para os 'amantes' da escrita de Saramago, mas aprecio mais a sua poesia do que a sua prosa.
ResponderEliminarQuanto ao trovador e à sua «Cantiga Partindo-se», acho que fizeste uma excelente opção para essas sessões seniores, que vais animar!
Só foi pena não teres publicado também aqui,a versão em Fado de Lisboa. O único fado de Coimbra que aprecio é "Samaritana".
Gostos!
Beijinhos, Graça.
Janita, eu então sou ao contrário: gosto mais de Saramago em prosa do que em verso... E quanto ao fado... apesar de não gostar do género, também prefiro o de Lisboa. Mas esta versão está espantosa. Que voz!
EliminarGostos, né?!...
Beijinhos lisboetas...
Adoro o fado de Coimbra.
ResponderEliminarObrigada pela partilha.
Um abraço
E este «doutor» tem uma voz maravilhosamente límpida.
EliminarFoi um prazer, Elvira.
Beijinhos.
Habituei-me a ouvir esta e outras melodias da canção de Coimbra desde garoto.
ResponderEliminarBeijinhos, boa semana
Já eu, lisboeta de gema, não... Gostos.
EliminarSeja bem vindo de regresso! Beijinhos coimbrãos...
Parabéns pelo excelente e erudito post.
ResponderEliminarTardava eu lerdo por aqui
sem cuidar muito que perdia
bendita seja a hora e o dia
e a Graça pelo que aprendi
Bj.
Que linda esta sua "intertextualidade", Agostinho. Bem haja! E bem vindo!
EliminarBeijinhos poéticos.
Vi agora que tinha já cá estado e deixei comentário, mas,... não entrou :(
ResponderEliminarDizia eu que, sempre me emociono muito ao ouvir o Fado de Coimbra ! Aqueles trinados da guitarra e entoação de voz, aliados às recordações da adolescência estudantil, mexem muito comigo, apesar de não ter frequentado Coimbra !
lembrava ainda as vozes de António Menano e de Luis Goes, para além das mencionadas !
Beijo, Graça :)
Que bom, meu querido Rui, que ainda nos emocionamos com a beleza!
EliminarBeijinho.