Em honra da estação que há pouco chegou, aqui fica esta belíssima Canção de Outono da grande poeta brasileira Cecília Meireles.
Perdoa-me, folha
seca,
não posso cuidar
de ti.
Vim para amar
neste mundo,
e até do amor me
perdi.
De que serviu
tecer flores
pelas areias do
chão
se havia gente
dormindo
sobre o próprio
coração?
E não pude
levantá-la!
Choro pelo que
não fiz.
E pela minha
fraqueza
é que sou triste
e infeliz.
Perdoa-me, folha
seca!
Meus olhos sem
força estão
velando e rogando
aqueles
que não se
levantarão...
Tu és folha de
outono
voante pelo
jardim.
Deixo-te a minha
saudade
- a melhor parte
de mim.
E vou por este
caminho,
certa de que tudo
é vão.
Que tudo é menos
que o vento,
menos que as
folhas do chão...
Cecília Meireles - poeta fantástica!
ResponderEliminarPor aqui, celebramos a chegada da Primavera! Muito calor, Sol e flores!
Abraço.
Desejo-vos uma excelente Primavera!!
EliminarBeijinhos primaveris...
Bonito poema e bonita estação. Um pouco triste e estou quase a fazer anos ! :)
ResponderEliminarQue bom, Ricardo!! Quantos mais anos fizermos, melhor!!
EliminarBeijinho.
Cecília Meireles, é uma das minhas poetizas preferidas.
ResponderEliminarUm abraço e bom fim de semana
Tem poemas lindíssimos, de uma sensibilidade sem par. Também gosto da sua escrita.
EliminarBom fim de semana para vós.
Lindos, poema e imagem, a lembrar a chegada desta dourada e bela Estação!
ResponderEliminarBeijinhos
É, de facto, uma estação dourada. Quando era nova não gostava nada do outono, mas tenho vindo a apreciá-lo cada vez mais.
EliminarBeijinhos.
Um poema inesquecível e uma imagem graciosa
ResponderEliminarcompuseram um belo 'post'... bom gosto...
Por aqui, ainda é verão...
~~~ Beijinhos ensolarados ~~~
Por aqui também ainda está muito bom tempo, embora as noites estejam já bastante frias...
EliminarBeijinhos e boas melhoras.
O poema é muito bonito e a imagem da Vinha Virgem que é das plantas mais bonitas no outono fica uma combinação perfeita.
ResponderEliminarbjs
Gracinha, gosto muito da Cecília. Deixo outro escrito dela:
ResponderEliminarA arte de ser feliz
Houve um tempo em que a minha janela se abria para um chalé. Na ponta do chalé brilhava um grande ovo de louça azul. Nesse ovo costumava pousar um pombo branco. Ora, nos dias límpidos, quando o céu ficava da mesma cor do ovo de louça, o pombo parecia pousado no ar. Eu era criança, achava essa ilusão maravilhosa e sentia-me completamente feliz.
Houve um tempo em que a minha janela dava para um canal. No canal oscilava um barco. Um barco carregado de flores. Para onde iam aquelas flores? Quem as comprava? Em que jarra, em que sala, diante de quem brilhariam, na sua breve existência? E que mãos as tinham criado? E que pessoas iam sorrir de alegria ao recebê-las? Eu não era mais criança, porém a minha alma ficava completamente feliz.
Houve um tempo em que minha janela se abria para um terreiro, onde uma vasta mangueira alargava sua copa redonda. À sombra da árvore, numa esteira, passava quase todo o dia sentada uma mulher, cercada de crianças. E contava histórias. Eu não podia ouvir, da altura da janela; e mesmo que a ouvisse, não a entenderia, porque isso foi muito longe, num idioma difícil. Mas as crianças tinham tal expressão no rosto, a às vezes faziam com as mãos arabescos tão compreensíveis, que eu participava do auditório, imaginava os assuntos e suas peripécias e me sentia completamente feliz.
Houve um tempo em que a minha janela se abria sobre uma cidade que parecia feita de giz. Perto da janela havia um pequeno jardim seco. Era uma época de estiagem, de terra esfarelada, e o jardim parecia morto. Mas todas as manhãs vinha um pobre homem com um balde e em silêncio, ia atirando com a mão umas gotas de água sobre as plantas. Não era uma rega: era uma espécie de aspersão ritual, para que o jardim não morresse. E eu olhava para as plantas, para o homem, para as gotas de água que caíam de seus dedos magros e meu coração ficava completamente feliz.
Mas, quando falo dessas pequenas felicidades certas, que estão diante de cada janela, uns dizem que essas coisas não existem, outros que só existem diante das minhas janelas e outros, finalmente, que é preciso aprender a olhar, para poder vê-las assim.
Cecília Meireles, no livro “Escolha seu sonho”
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Bom domingo. Beijo.
Uma escolha fantástica para celebrar a data!!! Bj
ResponderEliminarCecília Meireles (foi) é uma grande escolha pelo tom que imprime na folha. Fosse em que folha fosse, deixava sempre uma marca indelével. Poesia, seguramente, numa folha seca de outono.
ResponderEliminarBj.