terça-feira, 12 de setembro de 2017

Amanhã começa a escola



Dois dos meus netos mudam de ciclo este ano: a mais velha vai para o 2º ciclo, para uma escola nova para ela, no centro da cidade, ela que fez sete anos numa bela escola da periferia. O mais novo vai entrar no 1º ciclo na dita excelente escola da periferia. Estão expectantes, ansiosos, nervosos, naturalmente. Mas a mãe está bem mais nervosa do que eles… E não adianta que seja, ela própria, professora de carreira com alguns 20 anos de serviço por esse país fora. Quando nos toca nos nossos filhinhos é sempre de outra maneira…

É neste âmbito que trago aqui algumas das considerações apresentadas num artigo que uma jornalista escreveu na revista do DN a propósito da entrada da filhita para o 5º ano. Da escola pública, claro. (Como os meus netos – absolutamente fora de hipótese o ensino privado.)

Diz ela: «A minha escola era parecida com a da Rita. Pública. Aprendi (mais ou menos) as mesmas coisas, da mesma maneira. Na verdade, e isso é um pouco desconcertante, o ensino em Portugal não evoluiu muito em trinta e tal anos. E, no entanto, aqui estou eu, filha da escola pública, a escrever esta crónica, com o suficiente pensamento crítico para dizer que preferia uma escola diferente. Não me entendam mal. Não sou ingrata. Defendo-a com unhas e dentes. E é por isso que queria que também ela, a escola, crescesse, não olhasse para trás e fosse mais feliz.»

Muito bem. Tem alguma razão. Alguma apenas porque a dita jornalista é jovem por de mais para fazer uma pequena ideia do(s) salto(s) imenso(s) que a escola pública conseguiu dar entre os anos 70 e os anos 90. Mas, pronto! essa é outra discussão.

E como pretende ela que a escola cresça? Muito simplesmente – e aí é que eu, que acompanhei de perto e bem por dentro a escola desde antes da Revolução até há bem pouco tempo, concordo a 100% com a jovem jornalista. Diz ela: «Que se deixasse de rankings e de quadros de honra com cheiro a bafio e de turmas em que se juntam os melhores alunos e os melhores professores a trabalhar para os resultados, enquanto outras acumulam quase trinta miúdos.»

Isso mesmo! Acabe-se com a competição entre escolas, entre turmas, entre alunos! Americanices que, infelizmente, se importaram da gestão de empresas. Só que A ESCOLA NÃO É UMA EMPRESA! Para quê os rankings? Para quê os quadro de honra – como nos cinzentos tempos salazaristas? Para quê a competição entre turmas? Para quê formar as abomináveis turmas de nível em que se separam os bons para um lado, os médios para outro e os ditos maus para outro? Para quê as execráveis e pouco fiáveis avaliações externas que a Inspeção-Geral de Educação lançou há uns dez anos? Competição, mais competição, mais competição!

Em três dias, chegam três inspetores aos agrupamentos e, se não lhes forem apresentadas resmas de documentos – e quando digo resmas, podem crer que são mesmo resmas – mesmo que cheios de mentiras e de abstrações, mas muito bonitos, com muitos gráficos e estudos comparativos e outras belezas que a informática inventou, podem ter a certeza que a escola fica imediatamente avaliada por baixo. Mesmo que os resultados dos alunos sejam excelentes e que os pais prefiram aquela a outras escolas.

Para isso, os professores gastam horas e horas e todas as suas energias em reuniões intermináveis e a preencher papéis e mais papéis. Em vez de terem tempo para estudar, para aprenderem mais sobre pedagogia, para criarem formas renovadas para as suas aulas.

Assessment, mais assessment, e mais assessment à americana!

Outra vez e outra vez mais nos concentramos no acessório e deixamos escapar o essencial.

9 comentários:

  1. As minhas filhas já têm aulas desde finais de Agosto.
    Beijinhos

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    1. Outras latitudes, outros climas, outros hábitos.

      Bom ano letivo para elas! Beijinho.

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  2. É verdade amiga!
    Se não soubermos conciliar os momentos letivos ... desgastasmos com tanta papelada ... pra muito pouco!
    Ainda sou do tempo em que fazia toda a escrita à mão ... e fui diretora e orofessora em simultâneo mais de 26 anos!!!
    Hoje não é fácil ser "bom" professor pois o cansaço fala mais alto!!!
    Que seja um bom regresso!!! Bj

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  3. É pena que não apareça nos telejornais a opinião dos professores, o que acabaste de escrever é para mim uma explicação muito útil, sem rodeios e muito clara.
    Aqui em casa ainda são muito pequenos , estou completamente fora da realidade mas estou convencida que não estou só nesta minha ignorância! Não fazia ideia dessa divisão dos alunos, dessa competição desenfreada...
    Esperemos que alguma coisa vá mudando.
    Os manuais escolares do primeiro ciclo são grátis? Ouvi isso numa discussão não cheguei a compreender de eram ou não.
    Bjs Graça.

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    1. Este ano os manuais de todos os alunos do 1º ciclo são gratuitos, papoila.

      Não te chames ignorante, por favor. Diz antes que há uma enorme falta de informação das coisas importantes da vida. Infelizmente.

      Beijinho.

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