Um dia destes, ao olhar-me
no espelho para me pentear, vi o caracol que o meu irmão tinha sobre a testa e
lembrei-me dele. Lembrei-me especialmente daquele retrato de quando ele era
pequenino e eu ainda nem tinha nascido.
Para que conste, eu
tive um irmão. Estive sempre inscrita no livro dos filhos únicos, com aqueles
adjetivos todos com que gostam de apodar os filhos únicos, mas tive um irmão. Sempre
gostei de espantar os meus conhecidos e amigos mais próximos dizendo «sou filha
única, mas tenho um irmão!» Nascido do primeiro casamento do meu pai que, infelizmente,
pouco durou, ficou órfão de mãe muito pequenino tendo sido enviado para
Barcelos para a casa da avó e das tias que o criaram com o maior carinho, com o
maior desvelo.
As tortuosidades da
vida não permitiram que vivêssemos juntos e foram parcas as vezes que nos
juntámos em crianças. Só mesmo quando fui para a Faculdade, já ele voltara a Lisboa,
tivemos algum contacto e acabámos por apadrinharmos o casamento um do outro.
Seguimos caminhos profissionais muito idênticos e mantivemos uma estreita
relação de amizade. A doença atacou-o novo e levou-o antes de completar os 60
anos.
Não teve uma vida
feliz, mas nunca se lhe ouviu um lamento sobre nada. Não foi o meu amado irmão
– esse lugar guardo-o para o meu primo-irmão – mas lembro-me muito dele sempre
com uma ponta de nostalgia, de tristeza. Lembro-me dele quando, em tempo de
chuva, o meu cabelo fica rebelde (chamavam-me «pelo de arame» no colégio) e, ao
olhar-me no espelho, vejo o caracol que ele tinha sobre a testa.
Memórias familiares, muitas vezes doem mesmo, Graça. Também tenho as minhas. Quem não as tem, não é mesmo?
ResponderEliminarAbraço.
Cada um com as suas...
EliminarÉ assim que gosto de te ler... quando escreves no teu "diário" com palavras doces.
ResponderEliminarNão sou filha única (sou a benjamim de quatro irmãos) mas também perdi um irmão... por isso me emocionaram as tuas palavras.
Um beijinho Graça
:*
(In)felizmente não sou uma pessoa doce... mas agradeço a tua simpatia.
EliminarBeijinho.
Memórias que de um modo ou de outro mexem connosco.
ResponderEliminarUm abraço e bom fim-de-semana
Obrigada, Elvira.
EliminarBeijinho.
E por vezes somos assim visitados e nem sabemos como lidar com estas coisas tão visíveis.
ResponderEliminarUm beijo
Lídia
É mesmo essa a questão, Lídia.
EliminarBeijinho.
Gostei Graça
ResponderEliminartive uma maninha que faleceu antes de eu nascer :(
então também sou filha única, mas houve alguém... e acho que tive saudades :)))
As perplexidades dos nossos sentimentos, não é, Ângela?
EliminarBeijinho.
Não ter tido irmãos foi um dos meus grandes desgostos.
ResponderEliminarQue bonito texto de saudade, Graça!
Eu tive e... não tive. Uma grande confusão, at+e porque fui criada mais com o meu primo-irmão do que com o meu irmão...
EliminarBeijinho.
Partiu, mas não morreu porque está vivo na tua recordação
ResponderEliminare de todos que o amaram...
Sou a mais velha e os meus dois irmãos já passaram por
perigo de morte, devido a cancer...
~~~ Beijinhos ~~~
Muito triste, Majo!
EliminarMas felizmente agora estão bem, não é?
Beijinho.
Eu tb tenho três irmãos de um casamento do meu pai. São mais novos que eu mas não convivemos. BFSEMANA
ResponderEliminarKis :=}
Pois... como eu e o meu irmão... relações complicadas, não é?
EliminarBeijinho.
Não tenho irmãos :((( !
ResponderEliminar:(((
EliminarGostei de ler este texto que traz à tona o teu lado sentimental.
ResponderEliminarTambém sou filha única, mas com mais 3 rapazes, infelizmente um deles faleceu com 36 anos, mas fui sempre a princesa da família.
Beijinhos Graça
Sorte a tua, Manu-Princesa!!
EliminarBeijinho.
Por vezes também me espanto com as recordações que surgem de um "lugar" tão distante que até parece que nem existe...
ResponderEliminarEu tenho um querido irmão.
bjs e fica bem com as tuas recordações.
Recordações que me enterneceram, Graça. Um abraço.
ResponderEliminarSaudade de quem se gosta!
ResponderEliminarBj