terça-feira, 18 de outubro de 2016

Estou furiosa!

Comigo própria, acreditam? Um dos meus (muitos) defeitos é a minha péssima memória visual. Se calhar por ser míope, sei lá! Tenho sempre muita dificuldade em reconhecer as pessoas se, por exemplo, passou muito tempo sem as encontrar, ou se não as vejo nos locais habituais, ou se não estão vestidas com as vestes profissionais. Uma vergonha. E, como muita gente me conhece por ter estado naquela escola durante 36 anos e tantos deles à frente dos seus destinos, mesmo que não as reconheça, se me cumprimentam, eu respondo sempre afavelmente. Pelo sim, pelo não. Para não passar por indelicada.

Ora ontem, ia eu no meu passinho habitual para os recadinhos que há a fazer à segunda-feira de manhã quando, de dentro de uma pastelaria, alguém – que de imediato não reconheci – me faz um simpático cumprimento, respeitoso e risonho. Acenei de volta sorrindo. E aí, como um raio vibrante e fluorescente, fez-se-me luz: o rapazola que, r(v)endido ao meu opositor,  me “fez exame” de acesso ao cargo de diretora da escola, “chumbando-me”. Um “pentelhito” (desculpem-me a linguagem catroguiana, mas assenta-lhe que nem uma luva) um elemento de uma associação de pais da idade das minhas filhas, daqueles que tiraram um curso de “gestão de recursos humanos” por correspondência ou com algumas equivalências à Relvas, sei lá… Um pequenino pedante, um “leiriense plásticos” (como diz uma amiga minha que vós bem conheceis…) Tinha prometido a mim própria que nunca mais lhe dirigiria a palavra.

Quando logo após o ignóbil “chumbo”, abandonei a escola e a profissão, até comecei a escrever uma «cantiga de escárnio» sobre tão indizível pessoa… Começava assim:

«Feio, baixinho e vil,
Olho matreiro e arguto,
Cabelinho de palha d’aço
E ralo, dá-lhe ao longe
Que não ao perto,
Um arzinho pueril.

Vozinha de cana rachada
Por muito que alinhe palavra
- e alinha, que fala bem! –
Não engana um qualquer
Embora qualquer um caia
Na falácia, no enleio
Que usa, se lhe convém:
O homem tem cá “uma saia”!
(…)

Escrevi ainda mais umas tantas estrofes, mas depois desisti: o homenzinho não merecia a métrica…

Foram muito poucas, umas três ou quatro, as pessoas a quem, ao longo da minha já longa vida, eu deixei de falar. Sou de facto muito dura (com os outros tanto como comigo) mas quando me sinto verdadeiramente ofendida ou humilhada por alguém no mais íntimo de mim, essa pessoa para mim passa a ser transparente, deixo de a ver, de a considerar e portanto de lhe falar.

Agora imaginem a minha fúria quando, em segundos, me lembrei de quem era aquele aceno desbragado ao qual eu respondi tão abertamente!



18 comentários:

  1. Pois, Graça, dos imbecis lembramos nós.
    E o poema está na mouche.

    P.S.:
    Roubei-lhe umas fotos de São Pedro de Moel e os links dos nossos amigos ( tirou-me muito trabalho, ahah!).
    Beijinho

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  2. Imagino o teu aborrecimento por esse lapso!
    ~~~ Beijinho e terno abracinho ~~~

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    1. Fiquei como o gato da imagem... Até o arranhava todo! A ele e a mim....

      Beijinho.

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  3. Sei que a tua fúria (justificada) e este post em tom de desabafo, não deviam dar azo a riso, mas que queres, Graça? Esse vil avaliador que te chumbou por mor de um simples pentelhito à moda daqueles que o Catroga dizia andarem a discutir, fez-me soltar uma sonora gargalhada.
    Tens de tratar essa miopia, Graça. Lol
    O fulano, 'feio, baixinho e vil' pode não merecer que desperdices a tua veia poética, mas nós merecemos; pela parte que me toca já me diverti imenso.:))

    Beijinhos sem falácias.

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    1. Essa do Catroga foi mesmo para rir - ou melhor, para o meter a ridículo... :))) Já me passou!...

      Beijinhos

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  4. Por acaso nunca me aconteceu.
    Não deve ser nada agradável...
    Beijinhos

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  5. Acontece aos melhores.
    A Graça, pelo retrato que fez à "distinta personagem dá para compreender a estirpe rafeira em causa.
    Nunca lhe perguntou se sabia dançar? Homem pequenino...
    Abraço

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    1. Pois... ele deve ser só velhaco... mas, de facto, nunca lhe perguntei. E dificilmente vou fazê-lo alguma vez...

      Beijinho

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  6. Coisas que só mesmo contadas... Pela Graça, claro!

    Um beijo

    Lídia

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  7. Eu ri-me foi da tua escolha fotográfica para este lamento furioso ! :))
    Se ficaste como esse gato, eu faço uma ideia do que sentias ! rsrsrs
    ... e agora, o melhor é esqueceres, que certamente essa gentinha apenas merece o teu desprezo !

    Abraço querida amiga ! :))

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    1. Já me passou, Rui!! Assim que falo dos assuntos em tom de desabafo, passa-me logo a fúria...

      Beijinhos "assanhados"... eh eh eh eh...

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  8. Esquece, Graça esquece que estas raivas fazem rugas e ele não merece tanta atenção :)))
    Beijinhos

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    1. A mim dá-me forte, mas passa-me depressa, papoila... É o que vale...

      Beijinho.

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  9. Como dizia o meu pai: "esta soube-te a fel"

    Beijinho amiga

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