Foi a meio da manhã. Cheguei à florista e estavam duas pessoas à minha frente. Olhei para as imensas vasilhas com flores e respectivos preços e, com o olhar, escolhi um gordo ramo de belas margaridas brancas de corolas bem cheias.
Esperei. A senhora que estava a começar a ser atendida optou por deixar as flores encomendadas porque estava com um bocadinho de pressa. Bem encostada ao balcão, ditou, com todas as delongas, para a empregada o tipo de flores que queria, o preço limite do ramo e depois, demorou um bom pedaço de um bocado para decidir a que horas haveria de ir levantar a encomenda. «A que horas fecham?» E a empregada, sorridente mas a pretender mostrar o ar mais estafado do mundo afirmava que a patroa era capaz de nem fechar. Aí a dona da loja arremelgou os olhos mostrando o seu ar mais cansado e disse que fechar, fechava, mas não sabia quando, pois se já não aguentava com tanta dor nas costas. E mais já estava drogada. A partir daí foi um desfiar de ais e de uis que nunca mais acabavam. A segunda cliente meteu-se na conversa reclamando horas e horas de trabalho que ainda teria de cumprir, ao que a empregada respondeu que estava ali que nem a conseguia ver de tão tonta que se sentia e por aí fora… A senhora que afirmara estar com um bocadinho de pressa lá se decidiu a marcar a recolha das flores para as sete e meia e a segunda cliente – que asseverara ter muito trabalho pela frente – foi placidamente atendida pela dona da loja (que já se drogara) enquanto eu, que já tinha as minhas margaridas de braçado, entreguei apressadamente a nota sem troco à empregada (antes que ela, no transe de uma tontura, se espetasse no chão) e quase nem lhe dava tempo para enrolar as flores numa folha de papel para que não pingassem…
Saí breve. Nunca suportei queixumes no trabalho! A atitude no trabalho tem de ser diligente e ativa. Se está doente, trate-se. Se está contrariado, mude-se.
É uma das nossas (tristes) maneiras de ser: o lamento é o nosso melhor suporte. Se não nos queixamos, podemos dar a ideia que não “nos matamos” a trabalhar e, por outro lado, não granjeamos a piedade dos outros. Assim um pouco como na tragédia grega…
: ))
ResponderEliminarOs oposto dos americanos: Como está? Não poderia estar melhor! : ))
Dos alemães também!
EliminarClaro!!! E assim é que é! O cliente não tem culpa e não tem de levar com os achaques de cada um por muita razão que tenham nos seus achaques. Digo eu...
EliminarQuase todo o micro empresário
ResponderEliminarestá nesse estado
abre a porta e nem ganha para o salário
vai ver... um dia destes fecha
a empregada? vai ver que é precária
se não trabalhar não ganha...
Um dia destes, numa situação semelhante
perguntei à dona, senhora já entradota
porque não fechava ela a porta
sabe o que respondeu?
"ó meu filho, e depois o que é que faço?
Assim, ainda vou vendo alguém, sempre tenho com quem falar
e com quem me queixar..."
Verdade!...
Pois é e como o lamento. Mas o cliente não pode ter de levar com tudo isso em cima. Por isso os shoppings estão a arrasar com o dito comércio tradicional...
EliminarOlá Gracinha!
ResponderEliminarHoje não é para rir...
É para constatar e algo mais.
Admiro Quintana! Admiro Mário Viegas!
Que profusão de ais, que todos nós já proferimos também, sem repararmos.
A sra. que tinha pressa demorou mais com as perguntas, do que se efectuasse logo a compra.
E as vendedoras estavam feitas gatas miadeiras- ai, ai, ai...
Bom Domingo, com mais uma hora na cama.
Dilita
É isso mesmo, Dilita!!
EliminarPois...
ResponderEliminarUm abraço e bom Domingo
Ai do Mário Viegas, que conheci pessoalmente e tão cedo partiu!... Uma postagem excelente de quem bem observa o quotidiano.
ResponderEliminarO meu abraço,
O que eu gostava de o ouvir/ver! Era mesmo um excelente diseur que tão cedo partiu. Uma pena.
EliminarBeijinho.
Como eu concordo contigo! Não suporto queixumes, tive uma colega horrorosa que trabalhava devagar, devagarinho e quando alguém lhe chamava a atenção respondia sempre: «pró que me pagam....está muito bem assim»...., um dia perguntei-lhe se ela alguma vez tinha posto a hipotese de mudar de emprego e encontrar um que lhe pagasse mais, respondeu-me «naaaã, isto é assim por todo lado..»
ResponderEliminarNão há paciência!!!
bjs
Tive algumas colegas assim - professoras. Mau de mais!
EliminarBeijinho.
mas poderá haver alguma solidariedade em tantos "ais" :)
ResponderEliminarpor outro lado, nos apertos de mão e no "como vai?", parece que em princípio a resposta será sempre "bem" ou "vai-se andando"
um beijinho e uma boa semana
Ah, mas portugues(a) que se preze, ao «como está» responde quase inevitavelmente com um ror de queixas e queixumes e doenças e desgraças...
EliminarBeijinho, Gábi.
Pois...quem nunca se queixou que atire a primeira pedra...:))
ResponderEliminarLindos, lindos, são os Ais do Mário Viegas!
Beijinhos sem queixumes!
Claro que toda a gente já se queixou. Em família, entre amigos ou colegas, mas em plena ação laboral não me parece muito adequado.
EliminarO Mário Viegas era o máximo!!
Beijinhos sem queixumes...
Acho que tinha vindo embora! Mas prometo não sair daqui enquamto não ouvir tudinho do Mário tudinho.
ResponderEliminarBoa semana e um beijinho.
Gostei do texto ! É fado autêntico, como os portugueses gostam de se lamentar :(
ResponderEliminarExcelente como d'habitued o Mário Viegas !
Entre queixa daqui e queixume dali a conversa arrasta e quem espera (de flores na mão) desespera. :)
ResponderEliminarPessoas com dificuldade em lidar com o stress da vida!
ResponderEliminarO meu queixume é das dores que tem dias que são desesperantes!
Ai as arteroses!!! Bj