Não posso dizer que sou uma
leitora assídua de Nuno Júdice. Leio com agrado muitos dos seus poemas e até
comprei, por achar interessante e mais próximo do autor, um dos seus livros de
poesia que tem impressos os poemas datilografados e, ao lado, manuscritos.
Confesso, porém, que vou seguindo
o seu trajeto de escritor porque fui colega dele na Faculdade quando, nos idos
de 66, entrámos para Letras: ele em Românicas e eu em Germânicas. Tivemos
algumas cadeiras em comum, nomeadamente no 1º ano. Era muito discreto, tímido
até – quem o não era nesses tempos? – e quando o saudoso Professor Lindley
Cintra fazia uma pergunta nas teóricas de Linguística ou de Literatura
Portuguesa e nenhum dos mais de duzentos alunos que enchiam o Anfiteatro I
respondia, ele chamava: «E o Júdice, não
tem nada a dizer?» E o Nuno, lá se destacava de entre as filas de neófitos
e respondia. Sempre acertadamente.
Então resolvi comprar o seu
último livro – “A Conspiração Cellamare”,
uma novela. Gostei do que vinha escrito na contracapa do livro. Gosto de
conspirações – embora não goste de conspirar nem de conspirações contra mim… – gosto
de assuntos históricos e gosto de novelas. Ficam ali a meio caminho entre o
conto e o romance, são vívidas e lêem-se depressa.
Logo na primeira página, escrevia
o narrador/autor/personagem: «Sabia que
tivera um parente remoto que andara metido em conspirações, e que talvez
tivesse perdido um nom futuro nos braços de amantes parisienses…» (…) «O meu problema inicial era que eu não
queria escrever um romance histórico; eu nem sequer queria escrever um romance.
Seria mais uma mistura de géneros, entre o diário, as memórias e a ficção…»
Muito bem! Isto agrada-me –
pensei eu. O pior é que depois o narrador/autor/personagem (que passa o tempo
todo a dizer que não sabe muito bem o que é) envereda, enovela-se (sim, que o
texto é uma novela…) entra numa teia de tramas passadas (ora remotas, ora
recentes) e presentes que não deixa andar a ação, a história, o fio condutor da
narrativa, nem para a frente, nem para trás. Faz lembrar aquelas meadas de lã
que temos de dobar para tricotar o cachecol que está tão emaranhada, tão cheia
de nós, que só acabamos de dobar quando os braços já não aguentam mais estarem
hirtos …
Está por de mais bem escrito –
quanto a isso não há dúvida! Ou não fosse o autor professor universitário
daqueles que acompanham teses de doutoramento e tudo. O problema, todavia, é mesmo esse: a narrativa-diário-livrinho de
reflexões-livrinho de viagens à literatura europeia acaba por ser um exercício
diletante em que o autor pode discorrer sobre os seus amplos conhecimentos de
literatura e de teoria da mesma de forma divertida e não no modo sério e algo
austero em que tem de o fazer nas suas aulas e palestras.
Tudo bem. Mas, parece-me, apesar
da ironia que perpassa todo o texto, não é bem isto que diverte quem o lê, não
obstante as constantes chamadas ao leitor num esforço fático que, quanto a mim,
nem sempre resulta. É, seguramente, uma excelente leitura para alunos e os
doutorandos do Professor que os guiará pelos meandros de pensamento e de
sentimento da mente de quem os vai avaliar…
(Para saber algo sobre a conspiração Cellamare:
Gosto dos seus poemas. Talvez até gostasse de desenrolar o novelo... Um dia.
ResponderEliminar:)
Há que lê-lo com paciência...
ResponderEliminarConheço alguns poemas dele. Mas nunca li nenhuma obra de Nuno Júdice. Infelizmente para mim.
ResponderEliminarUm abraço
Estamos sempre a tempo, Elvira...
EliminarNunca li nada do Nuno Júdice, mas compreendo a tua curiosidade já que foi teu colega.
ResponderEliminarPelo que descreves acho que não seria livro que me cativasse, não gosto de fios emaranhados, uma leitura tem que me prender logo do início. Não quero desta forma tirar o mérito ao autor e até vou ler com atenção alguns textos dele.
Beijinhos Graça
Ele é muito bom poeta, Manu!
EliminarFica a sugestão.
ResponderEliminarE a crítica.
Beijinhos
Uma crítica muito pessoal, Pedro.
EliminarSó conheço o Nuno Júdice poeta e gosto.
ResponderEliminarUma boa semana, Graça.
Beijos.
Também prefiro lê-lo enquanto poeta, Graça.
EliminarNão posso dizer se gosto ou não, do poeta/escritor, porque dele só conheço o nome, Graça. Nem sequer li, alguma vez, que me lembre, um poema seu.
ResponderEliminarGostei, isso sim, deste teu texto em jeito de crónica literária, onde nem faltou a crítica - construtiva, obviamente.
Agradeço os links, onde me informei desta conspiração.
(vá lá que os espanhóis parece que já se entenderam )
Beijinhos.
Obrigada, Janita, pelos teus "gostos". Como se fosse no facebook... :)))
EliminarBeijinhos.
Fiquei cansada só de ler o "funcionamento" da escrita :)) penso que teria dificuldade em me manter interessada/concentrada a culpa não será totalmente do escritor... acontece tenho deficit de atenção (o que é bem desagradável) e só mesmo muito interessada é que me mantenho atenta. Gostei da tua opinião. Beijinhos
ResponderEliminarApesar de tudo, merece a pena a leitura, pelo desassombramento das ideias e pelo fluir da escrita em muito bom português.
EliminarObrigada, papoila.
Também me seduziria por esta conspiração
ResponderEliminarse a encontrasse num escaparate.
NJ tem poemas excelentes.
Gostei das tuas observações.
~~~ Beijinhos ~~~
Também gosto bastante da sua poética. Não é, todavia, de fácil leitura.
EliminarBeijinhos
O Júdice nem sempre é fácil de ler. Gosto da sua poesia. Quanto à obra que refere que desconheço vou procurar dar-lhe uma olhadela mas não vou comprar. Confio na crítica da Graça.
ResponderEliminarBj.
Posso emprestar...
EliminarNunca li nada do Nuno Júdice, mas se escreve bem já é um autor para eu gostar. Prefiro uma boa escrita do que uma boa história.
ResponderEliminarConcordo. Também prefiro uma escrita bela e atraente, límpida e correta
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