Nascida na Fajã de Baixo, a terra dos ananases, na Ilha de
São Miguel, no dia 13 de Setembro de 1923, Natália Correia faria hoje 93 anos.
Não precisando de mais apresentações nem mais rodeios, ficam
aqui dois poemas que, cada um no seu estilo, bem ilustram a qualidade e a força
desta grande senhora das nossas letras.
De Amor nada Mais
Resta que um Outubro
De amor nada mais resta que um Outubro
e quanto mais amada mais desisto:
quanto mais tu me despes mais me cubro
e quanto mais me escondo mais me avisto.
E sei que mais te enleio e te deslumbro
porque se mais me ofusco mais existo.
Por dentro me ilumino, sol oculto,
por fora te ajoelho, corpo místico.
Não me acordes. Estou morta na quermesse
dos teus beijos. Etérea, a minha espécie
nem teus zelos amantes a demovem.
Mas quanto mais em nuvem me desfaço
mais de terra e de fogo é o abraço
com que na carne queres reter-me jovem.
Natália Correia, in “Poesia Completa”
Ode à Paz
Pela verdade, pelo riso, pela luz, pela beleza,
Pelas aves que voam no olhar de uma criança,
Pela limpeza do vento, pelos actos de pureza,
Pela alegria, pelo vinho, pela música, pela dança,
Pela branda melodia do rumor dos regatos,
Pelo fulgor do estio, pelo azul do claro dia,
Pelas flores que esmaltam os campos, pelo sossego dos
pastos,
Pela exactidão das rosas, pela Sabedoria,
Pelas pérolas que gotejam dos olhos dos amantes,
Pelos prodígios que são verdadeiros nos sonhos,
Pelo amor, pela liberdade, pelas coisas radiantes,
Pelos aromas maduros de suaves outonos,
Pela futura manhã dos grandes transparentes,
Pelas entranhas maternas e fecundas da terra,
Pelas lágrimas das mães a quem nuvens sangrentas
Arrebatam os filhos para a torpeza da guerra,
Eu te conjuro ó paz, eu te invoco ó benigna,
Ó Santa, ó talismã contra a indústria feroz.
Com tuas mãos que abatem as bandeiras da ira,
Com o teu esconjuro da bomba e do algoz,
Abre as portas da História,
deixa passar a
Vida!
Natália Correia, in "Inéditos (1985/1990)"
A fotografia está linda e os poemas são fantásticos por demais,adorei a tua publicação!! Boa noite querida,fica bem!!
ResponderEliminarObrigada, Mónica!
EliminarBeijo.
Excelente memória viva
ResponderEliminar...e a falta
ResponderEliminarque nos faz
a Natália...
Já sabia que se comemorava ontem o seu aniversário.
ResponderEliminarUma mulher de armas, corajosa, inteligente, culta, provocadora.
Beijinhos
Que bonito!
ResponderEliminartenho de colocar no meu
http://poesiesenportugais.blogspot.pt/
Obrigada, Ângela.
EliminarNatália tinha fibra e fez-se mulher
ResponderEliminarconjugava o verbo sem peias: Poeta!
Tinha classe, até fumava de boquilha!
Ainda não há um mês estive no Botequim Açoriano, em Rabo de Peixe, S. Miguel,
ResponderEliminarhttps://www.tripadvisor.com.br/Restaurant_Review-g1947933-d10326753-Reviews-Botequim_Acoriano-Rabo_de_Peixe_Sao_Miguel_Azores.html
um Restaurante relativamente recente mas cujo "tema" era Natália Correia ! ... Muitas fotos suas e dos seus amigos, além de muitos políticos, até actuais, nas paredes !
Ela não está esquecida !!!
:)
Obrigada pela partilha!
ResponderEliminarBj
Gosto da poesia da Natália que tive a sorte de
ResponderEliminarconhecer pessoalmente e de ter alguns encontros
políticos com ela nos tempos do PRD.
Uma mulher à frente no seu tempo.
Foi bom encontrar aqui a sua poesia.
Desejo que a amiga se encontre bem.
Bjs.
Irene Alves
Exceptuando alguns discursos cansativos, em linguagem sobrecarregada de figuras de estilo, a que eu designava barroca; sempre admirei muito a intelectualidade de Natália Correia, especialmente no género que apresentaste.
ResponderEliminarÉ sempre um prazer recordá-la.
~~~ Beijinhos poéticos ~~~
Uma mulher desassombrada e frontal, grande poetisa, uma figura controversa que jamais será esquecida.
ResponderEliminarGostei imenso do soneto.
Bonita a tua homenagem, Graça.
Beijinhos
Que bom que gostaram da lembrança! Obrigada, meus queridos, pelas vossas palavras.
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